quinta-feira, 30 de outubro de 2008

RANHETICES

Ando meio ranheta ou são as intolerâncias que devo creditar a minha (pouca) idade.

Primeiro: ontem, dia nacional do livro, na saída da estação Vila Madalena do Metrô, um sujeito me aborda e tasca, a queima roupa, aquela pergunta que me causa aversão: “você gosta de poesia?” Putzgrila! Tenho muita admiração e respeito por poesia e por poetas, no entanto sinto uma vontade danada de responder que “não” (por achar essa pergunta invasiva demais), porém acabo educadamente dissuadindo esse vendedor de livro de poesia (ou seria, poeta que vende seus livros de poemas). Pô, esses caras padronizaram a forma de abordagem? Parece que todos agem assim. E se eu tiver sem grana e sem tempo pra ver o livro do cara, o que devo responder? Ao invés de me interpelarem dessa maneira porque não me perguntam se curto leitura ou se tenho tempo pra ver seus trabalhos poéticos.
Outra: acho que sucumbimos de vez. Basta uma olhada nos hipermercados (Carrefour, Extra, Lojas Americanas, Pão de Açúcar, etc.) pra perceber que está chegando o dia do RALOIM. Chapéus de bruxas, máscaras de monstros, lanternas de abóboras, e mais uma infinidade de produtos pra comemorar uma data do calendário festivo norte-americano – até a 25 de Março sucumbiu. Há pouco eu botava culpa dessa submissão (ou invasão) cultural na proliferação dos cursos de inglês voltado para o público infantil. Mas ledo “Ivo” engano. Os maternais, as escolinhas particulares e até a rede pública de Educação Infantil (as Emeis) não resistiram; hoje, mesmo, entrei num ônibus com crianças de uma escola municipal fantasiadas pro Raloim. Meu, nem quero imaginar a minha reação quando algum pivete xexelento bater a minha porta apregoando “gostosura ou travessura”.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Desconcertos"


Meu quixotesco amigo Claudinei Vieira lança seu livro de contos DESCONCERTO, pela editora Demônio Negro, no próximo sábado, dia 1, no sebo do Bactéria, ali Praça Roosevelt. Concomitantemente vai rolar mais um encontro que esse meu caro amigo chama também de DESCONCERTOS; uma porradeira de gente boa apresentando (compartilhando) “paixões, vozes, letras, sons, músicas, poemas e artes”. Pessoas como: Marcia Denser. Marcelino Freire, Fabio Brum, Fernanda D´Umbra, Paulo de Tharso, entre outros estarão no lançamento, a partir das 15h.

Tenho enorme prazer de falar de Claudinei porque nos tempos de FFLCH-USP, era ele quem tava lá ocupando os espaços, não deixando que a sala de vídeo do departamento de História fosse apenas um local de apresentação de trabalhos escolares ou de outra coisa menos relevante. Durante alguns anos tivemos o prazer de ter (e ver) uma vasta programação cinematográfica de boa qualidade, com debates temáticos e outros eventos ligados a sétima arte. E tudo isso porque Claudinei apostou que podia transformar aquela sala de vídeo num cineclube (que recebeu o nome de Cineclube Pandora). O habitat dele agora é a Casa das Rosa, a Praça Roosevelt, livrarias e qualquer espaço que esteja ocioso (aí pode crer que ele vai ocupar, mesmo!), onde ele junta uma turma pra “praticar” prosa e poesia.

SERVIÇO:
Lançamento do livro DESCONCERTO: dia 1 de novembro, a partir da 15h.
Local: Sebo do Bac (Bactéria) - Praça Roosevelt, 127

PS: vai rolar Pockt-show com a banda FÁBRICA DE ANIMAIS


domingo, 26 de outubro de 2008

"NUS VESTIDOS"


Minha amiga Suzana Schmidt pede pra avisar da estréia no dia 6 de novembro, na Galeria Olido, do espetáculo de dança “NUS VESTIDOS”, em comemoração aos 10 anos do grupo MINIK MOMDÓ. "Nus Vestidos é visto como a metáfora da harmonia dos opostos, partindo de um processo de investigação sobre os conflitos: o grotesco e o belo, os arquétipos sobre o masculino e o feminino, a união dos opostos no casamento, o casamento como contrato social e religioso em oposição ao desejo de união pela manutenção e exploração da sexualidade. Daí os trajes de casamento e a as danças de corte como o minueto (dança barroca) em uma relação de construção e desconstrução."

Suzana, que faz assistência de direção, diz que vai rolar várias apresentações em locais diferente. O legal é que a entrada será sempre gratuita; só que tem que chegar uma hora antes pra garantir o ingresso (o teatro do Olido é pequeno e comporta apenas 60 pessoas por sessão)

SERVIÇO:
“Nus Vestidos”
com o grupo MINIK MOMDÓ
Intérpretes: Andrés Perez Barrera, Fabíola Camargo, Fernando Delabio, Gustavo Fioretto, Leonardo D’Aquino, Mariana Delgado, Thaís Ponzzoni e Vanessa Carvalho
Direção e concepção: Maria Mommensohon
Músicos: Klaus Wernet e Rodrigo Reis
Assistente de direção: Suzana Schmidt
Figurino: Fernando Delábio
Desenho de luz: Décio Filho
Preparação / dança barroca: Osny Junior
Preparação corporal: Fabíola Camargo
Operação de luz: João Manuel
Material gráfico: Adriana Hitomi
Fotos: Marcos Gorgatti
Produção: Cassia de Souza
Dias: 6, 7, 8, e 9 de novembro
Local: Galeria Olido (Sala Paissandú)
Horários: quinta, sexta e sábado (às 20 horas) e domingo (às 11h e 19 horas)
Av. São João, 473 – Centro/SP – Tel: (11) 3331-8399

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Alguém aí...

Alguém aí vai à (chiquíssima) feira de antiguidades da loja Daslu nesta semana? Alguém aí concordou com o desfecho da “operação (tabajara) de resgate” liderada pelo coronel José Felix da Tropa de Choque da PM, em Santo André? Alguém aí tem tempo e grana pra assistir as 350 produções que serão exibidas nesta 32ª Mostra Internacional de Cinema de Sampa? Alguém aí concordou com o manifesto do ator Pedro Cardoso contra a nudez no cinema brasileiro? Alguém aí ficou realmente comovido pela não gravidez de Ivete Sangalo? Alguém aí sabe me dizer a diferença entre o candidato republicano, McCain, e o democrata, Obama? Alguém aí ainda acredita que os japoneses matam baleias em águas internacionais somente para pesquisas científicas? Alguém aí confia no discurso de Lula afirmando que o Brasil não sofrerá com a crise financeira mundial? Alguém aí sabe se esse é o melhor momento pra comprar ações na bolsa de valores da Chechênia? Alguém aí acha que Lula deve “tomar” algumas medidas drásticas neste momento de crise? Alguém aí se divertiu (como eu) com o confronto entre as policias Civil e Militar na semana passada? Alguém aí conhece algum malufista que jure de pé-junto que o velho político (do estupra, mas não mata) “não” tem dinheiro em paraísos fiscais? Alguém aí duvida que, o vitalício manda-chuva da CBF, Ricardo Teixeira é o nosso verdadeiro presidente da República? Alguém aí matricularia seus queridos pimpolhos numa escolinha de futebol do professor Dunga? Alguém aí deixaria seu nome num abaixo-assinado online pela permanência de Rubinho Barrichello na equipe Honda? Alguém aí tem o conhecimento de que há três tipos de garotas maçantes: a chata, a muito chata e a Luana Piovani? Alguém aí crê na sinceridade de Boy George quando ele pede que George Michael e Amy Casa-do-vinho larguem as drogas? Bueno. Alguém aí acha que eu não tenho nada o que fazer?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

SATYRIANAS 2008


“Saudade de Parlapatões” Esse foi o recado eletrônico que recebi de minha amiga Carol - assim mesmo; numa frase curta. Porém nada misteriosa: Parlapatões é um competente e badalado grupo teatral paulistano que agora partilha espaço com outras trupes teatrais ali na Praça Roosevelt, no centro velho de Sampa. Na verdade, o que Carol quis dizer era o prazer por nós descoberto pelo agito cultural – teatral – que a praça representa e nos disponibiliza. Num bate-papo recente concluímos que nos tornamos “público de teatro”: isso porque, no passado, éramos apenas “freqüentadores casuais” - antes das trupes se instalarem na Roosevelt, a acessibilidade a espetáculos teatrais de qualidade (e por preços não excludentes) era coisa rara na cidade.

E outra coisa legal que surge com esse movimento da praça é o prazer de freqüentar o antigo centro sem neura, apesar de o projeto de revitalização da Roosevelt (a praça tá mal iluminada e caída aos pedaços) não deixar de ser promessa de prefeituras.
E uma das atividades culturais mais legais que rola na praça já virou tradição no calendário teatral da cidade: o festival SATYRIANAS, uma maratona de teatro que chega a sua nona edição (este ano vai de quinta-feira próxima, dia 23, até o domingo, dia 26). Os Satyros, que são os mentores desse evento, e que já estão a mais tempo na praça, aproveitam a ocasião pra comemorarem 20 anos de existência.

A maratona conta com uma extensa programação de peças, debates, cafés literários, oficinas e jam sessions que podem ser conferidas nas redondezas dos Satyros. Ao todo, 21 teatros são parceiros nesta edição, como o Espaço Parlapatões, a Casa Café e Teatro, o NexT e o Teatro da Vila. Neste ano duas tendas montadas na praça vão abrigar o projeto Dramamix (que apresenta textos curtos de uma em uma hora durante os quatro dias), o Curta na Praça (que difunde produções recentes de curtas-metragens independentes).

Confira a programação completa no site http://www.satyros.com.br/.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

“AS ROSAS (NÃO?) FALAM!”

Pra quem gosta de efemérides este ano é o que há: tem os cem anos de morte do Machado de Assis; cem anos da imigração japonesa; duzentos anos da vinda da corte portuguesa; vinte anos da promulgação da nova constituição brasileira; 500 anos do início da pintura da Capela Cistina, em Roma, por Michelangelo; 90 anos do fim da 1ª Grande Guerra Mundial; 80 anos do rato Mickey; 60 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela ONU; 40 anos do assassinato de Martin Luter King, entre outras. Mas, cá pra mim ( e que me perdoe o Grande Machado), farei reverencia tão somente a Angenor de Oliveira, carioca que nasceu no Catete, mas que celebrizou o morro da Mangueira. É claro que falo de mestre CARTOLA; neste sábado, dia 11, ele completaria cem anos se estivesse vivo.

“A sorrir, eu pretendo levar a vida...” Havia um simpático sapateiro do lado de casa que cantarolava sempre esse trecho da canção "O Sol Nascerá" de Cartola, só que à época eu não sabia a autoria; depois, no início dos anos 80, fiquei fascinado ao ouvir pela primeira vez “O Mundo é Um Moinho”. A partir daí fui querer saber da autoria daquela pérola; e pra minha alegria descubro que o autor dessa duas canções é o mesmo compositor da clássica “As Rosas Não Falam” (uma das canções mais belas em língua portuguesa).
Não tenho interesse de falar aqui da importância de Cartola no cenário musical brasileiro, ou de sua biografia, isso porque já tem muita gente que fez (e ainda faz) esse tipo de levantamento. De legal, gosto mesmo é de contar alguns “causos” do mestre: por exemplo, a de como ele compôs “As Rosas...”.
A história dessa canção começou numa tarde de 1975 em que o compositor Nuno Veloso apanhou Cartola e sua mulher Zica para um passeio na Barra da Tijuca, onde pretendia visitar Baden Powell. Não tendo encontrado a casa do violonista, Nuno resolveu aproveitar a viagem para passar numa floricultura e comprar para Zica umas mudas de roseira que lhe havia prometido. Tempos depois, flores desabrochadas dessas roseiras provocariam a indagação entusiástica de Zica ao mestre (“Como é possível, Cartola, tantas rosas assim?...”) e a resposta desinteressada de Cartola (“Não sei. As rosas não falam...”), que ele acabaria aproveitando como mote para a canção: “Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam / simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti...”

PS: Enquanto eu escrevia este texto meu MP3 tocava “Acontece”, “Não Quero Mais Amar Ninguém”, “Alvorada”, “Tive, Sim”, “O Mundo é Um Moinho”, e (é claro) “As Rosas Não Falam”.

Segue vídeo histórico onde mestre Cartola canta e toca (muito bem) “O Mundo é Um Moinho” a pedido de seu pai.http://br.youtube.com/watch?v=L8U1Y9PBfig

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

VOCABULÁRIO III


Os poetas e escritores Chacal, Marcelino Freire, Marcelo Montenegro, Paulo Scott avisam que o VOCABULÁRIO volume 3 (“Circo Poético Lingüístico”) – que vai rolar neste sábado, dia 11, a partir das 19, no B_ARCO seguirá assim: vários artistas farão leituras e performances. Mostrarão as várias caras e sotaques da palavra falada e musicada. Entre os convidados estarão GLAUCO MATTOSO, Antonio Vicente Pietroforte, Bactéria, Cadão Volpato, Carlos Carah, Fabio Weintraub, Fabio Brum, Henry Grazinoli, Marcelo Ariel, Marcelo Mirisola, Pedro Américo, Adriana Magalhães, Paulo Pessoa, Claudia Dorey, Tom Resende, Projeto DR, Ricardo Carlaccio e V de Verso.

E pra quem gostou do soneto de GLAUCO MATTOSO do post abaixo, não perca esse VOCABULÁRIO III porque, durante o evento, vai rolar o lançamento de A LETRA DA LEY, que é o quarto volume da série Mattosiana de sonetos temáticos. Em parte do livro, Glauco Mattoso faz uma releitura da contracultura musical, falando dos principais intérpretes e compositores do gênero mais anárquico e, ao mesmo tempo, mais comercial da história das artes.

Ps: Eu vou, mesmo que chova ou faça frio.

Serviço:
Vocabulário III
– dia 11 de outubro, a partir das 19h.
Espaço Cultural B_arco – rua Virgílio de Carvalho Pinto, 426. – em Pinheiros.
Igressos: 5 realitos.


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Boa Companhia.

Nesta segunda-feira, a tarde estava chuvosa e fria, mas o motivo que me fazia enfrentar essas intempéries dava-se por essencial: meu bichano Léo não tem se alimentando bem, andou perdendo peso - o veterinário recomendou um tipo de medicamento para que não houvesse carência vitamínica em seu metabolismo, só que o tal remédio não se encontra em qualquer farmácia ou em pet-shops; no entanto, um balconista me deu a dica de uma grande pet na avenida Brig. Luiz Antonio onde, “com toda certeza”, eu encontraria a vitamina. Nada feito. Além de não ter o medicamento, os caras da loja nem o conheciam; o jeito é ligar pro veterinário e solicitar outra coisa. Já tava arrependido e puto por ter me deslocado até ali com aquele tempo horroroso (desde quando eu era Office boy, eu abomino ter que enfrentar ônibus e ir à cidade em dias de chuva), mas havia uma livraria no meio do caminho, no meio do caminho havia uma livraria, na qual entrei apenas pra desfazer o meu fastio (mesmo que eu não vá comprar nada, só o fato de entrar numa livraria já aciona em mim um dispositivo anti-estresse); conheço algumas pessoas como eu que andam também com uma listinha livros (de lançamentos ou não) para manuseá-los quando passar por um sebo ou uma livraria. (bueno... cada um com sua frescura!).

Fucei várias estantes e não encontrei um item sequer de minha lista – nada da coleção “Pequenos Craques” da editora Callis (série de livros que retrata a infância de grandes esportistas brasileiros, contando curiosos episódios sobre o caminho de cada um deles até o pódio – os primeiros craques são: Garrincha, Rivellino, Leônidas da Silva, Hortência, Magic Paula e João do Pulo), nem o “Canalha” de Fabrício Carpinejar; muito menos o novo livro do (antipático, para alguns) Marcelo Mirisola, o “Animais em Extinção”. Isso é o que acontece quando papelarias se metem a vender livros; cai a qualidade dos produtos (elas entopem as estantes de auto-ajuda, de esotéricos e outras superficialidades). Mas o aborrecimento (posso dizer “fúria”) voltou quando vi o mais visceral poeta, GLAUCO MATTOSO (na autobiografia, Manual do Podólatra Amador), sozinho, entre picaretas de aclamadas estirpes: Diogo Mainardi (“A Tapas e Pontapés”) e Oscar Niemeyer (olha só o nome do livro do comunista pelego, “Diante do Nada”). Ao lado desse centenário arquiteto estava Maria Izilda de Matos** (com o livro “A Cidade, a Noite e o Cronista") – a Zilda, como é mais conhecida, é professora especialista em história do Brasil do departamento de História da Fefelechi – USP. Atualmente coordena os cursos de pós-graduação, mas já foi diretora da cadeira de História e foi nesse período que caiu a máscara da dita-cuja. Ela, que se dizia militante da causas sociais, defensora dos frascos e comprimidos, se revelou reaça até o último fio de cabelo: logo que tomou posse no cargo acabou com o a venda de cerveja nas lanchonetes e nos Centros Acadêmicos do prédio de Geografia e História, tudo de uma só canetada (certa vez usou força miliciana – entenda-se: os seguranças – pra coibir a venda e o consumo de cerva num C.A., durante uma festa de recepção da calourada), isso sem mencionar outros imbróglios causados pela professora.

Chega! O Clauco não merecia aquilo (é possível ler seus belos sonetos mensalmente na revista Caros Amigos ou no seu website http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/index5.html ). Senti-me na obrigação de lhe arranjar boa companhia; parti, então, a procura de poetas de sobrenome iniciado pela consoante “M”, mas foi em vão (isso porque o anta aqui se lembrou de poucos). Nenhuma Cecília Meireles ou então um João Cabral de Melo Neto pra acolhê-lo. Já tava eu xingando o dono daquela papelaria (disfarçada de livraria) quando encontrei, no meio de todo aquele “inutensílio”, a bela Ana Miranda (com seu “Desmundo”) e Alberto Marsicano (e suas “Crônicas Marsicanas”).
Finalmente me dava por satisfeito: achei figuras raras na estante daquela loja pro Glauco; de um lado ele poderia escutar a poética narrativa da história de Oribela (personagem que na adaptação de Alain Fresnot para o cinema comeu todo o pão que o diabo amassou), do outro, quem sabe, ele poderia ouvir a genial Cítara de Marsicano (músico, tradutor de Haikais, de William Blake e primeiro brasileiro mestre em Sitar, como é conhecido esse instrumento na Índia ). Enfim. Voltei pra casa um pouco molhado de chuva e com frio, porém orgulhoso de meu pequeno e singelo ato.

PS: Aqui deixo um soneto fodástico, pulsante e infeccioso de Glauco Mattoso (leia-o em voz alta, mesmo que seja mentalmente)


PARA A CRIAÇÃO DO MUNDO

Nem sei se foi Deus Pai ou foi Deus Filho
quem mais cagou no mundo a merda toda.
Só sei que quem criou quis ver-lhe um brilho
da cor de merda mole em toda a roda.

Com tudo que Ele fez me maravilho:
o Sol, a Lua, a Terra... Me incomoda
apenas o que entrou de afogadilho
quando Ele disse, exausto: "Que se foda!"

Nas plantas, caprichou; nos bichos, quase;
somente avacalhou quando, na fase
final, criou o Macho e deu-lhe a Fêmea...

Do fruto os proibiu provar e, puto
por tê-los pego em flagra, eis que Lhe escuto
um "Puta que os pariu!" como blasfêmia...


**ERRATA: Errei feio. "Maria Izilda de Matos" não é a professara "Zilda" da FFLCH

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um GIGANTE de verdade



















Eu queria, desde a última segunda-feira, escrever aqui sobre o baterista, percussionista e performer Gigante Brasil que morreu nesta semana, mas a Ajato (que agora pertence a "Tefonica" -urg!), a minha prestadora de serviço de banda larga, tem me deixado na mão; o problema, segundo a operadora, se encontra no modem que está na garagem do prédio e não ao lado do meu computador (eles dizem que está lá porque o prédio é antigo), que para o devido reparo tenho de esperar a visita técnica que demorará três dias (se o modem estivesse ao meu alcance, eu mesmo solucionaria o enguiço).
Pra quem não o conheceu, Gigante tocou com Caetano, Gil, Arrigo, Mautner, Marisa Monte, Bocato, Alzira Espíndola, Celmar, Gang 90, Susana Sales, entre tantos... mas foi na banda Isca de Polícia, ao lado de Itamar Assumpção, que ele se destacou.
No dia 11 de setembro eu tive o prazer (e a sorte) de vê-lo numa de suas últimas apresentações ao lado de Paulo Lepetit tocando (e encantando) no show de estréia do disco Vamos Logo Sem Paredes! de Celso Sim - veja o filminho que fiz (logo no começo aparece Gigante) http://br.youtube.com/watch?v=uawz3UTXSjk

Ps: Republico aqui o texto do músico e jornalista Luiz Chagas*, companheiro de Gigante na banda Isca de Polícia.

Ele não era gigante porque era grande. Era gigante. Mesmo.

"Em 1983, quando substituiu Osmar Santos no programa Balancê transmitido pela Rádio Globo, Fausto Silva vivia convidando a banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, para divulgar seus shows. Tanto o apresentador quanto o lendário sonoplasta Johnny Black eram apaixonados pelo baterista Gigante e seus solos de "buchesom" - que criava batendo a ponta dos dedos nas bochechas e usando a boca para modular os sons (foto à esquerda). Faustão criou um bordão,"o Gigante não tem esse nome porque é grande. Mas porque é gigante".

Jorge Luiz de Souza, o Gigante Brazil, é carioca da Mangueira, onde nasceu no dia 25 de abril de 1952. Ele jura que viu o "Mineirinho", o bandido que virou uma espécie de Robin Hood, seqüestrar caminhão de leite e distribuir para a molecada na favela. Chegou em São Paulo acompanhando Jorge Mautner e logo estava tocando percussão na banda Sindicato. Mesmo ao lado do baterista Edu Rocha, do contrabaixista Zé Português, do guitarrista Tadeu Passarelli e de outras feras, era impossível desviar os olhos daquele cara. Ele tocava com o corpo, os braços pareciam asas, cantava num grave que parecia vir de outra dimensão, entrava em transe e arrastava o palco e o público junto. No dia em que entrou na banda Isca eu falei "cara, eu sou seu fã" e ele com os dentões separados lascou "pára com isso, tio" - para ele os homens eram tios ou compadres, as mulheres comadres ou princesas. Eu e a torcida do Flamengo (ainda é a maior?) somos fãs. Quando entrei no camarim da Marisa Monte no ano passado alguém falou que eu tinha tocado com o Giga e ela - ai meu Deus, Ela! - largou todo mundo e veio me abraçar. "Ensaboa, mulata ensaboa" os dois cantaram juntos um dia.

Na segunda-feira, o dia em que o Giga não acordou, na porta do ateliê da Renata, sua mulher, o povinho da Vila Madalena se detinha embasbacado. Amoladores de faca, barbeiros, tomadores de conta de carro, gente que fica na rua. "O Gigante morreu?" O cara andava pelo bairro e todo mundo o conhecia. Todos os músicos que apareceram ali ou no velório, mesmo sem se conhecer, entoavam um monótono "eu toquei com o Gigante, e não tem igual". Os instrumentistas que dividiam com ele a "missa" das terças em Moema, apelido para a apresentação com várias entradas e que ia até de manhã, discutiam quem seria seu substituto - porque a "missa" tem que ter. Chegaram à conclusão que podia ser "qualquer um, já que ninguém, mas ninguém mesmo, toca igual". De fato. Seja em qual for a formação que participou, Gang 90, os derradeiros shows com Celso Sim, as Orquídeas, Ceumar, Alzira Espíndola, Bocato, a "norinha" Simone Sou, o parceiro Paulo Lepetit, com quem criou seu único (melhor?) trabalho solo Música Branca Preta e e etc. (Elo Music), o que se ouve é um mantra: "Não tem igual, tocar com ele é um luxo".

Uma de suas características era tirar som de qualquer coisa. Copos de metal, baldes, batentes de porta que levava para o palco. Como dizia Lepetit quando lhe pediam o mapa de palco, "qual o kit de bateria do Gigante? Ah, o que tiver".

*Luiz Chagas, 56 anos, tocou durante 27 com Gigante e não tem nenhuma reclamação. Só alegria.
Ps2: Aqui tem Gigante tocando na fantástica Isca de Polícia - clique http://br.youtube.com/watch?v=gBTZhkl5DHE