Meu amigo paulista Luciano Cenci tá quase soteropolitanizado; diz ele que a Bahia já lhe deu régua e compasso e que o molho das baianas já melhorou seu prato, tanto que tentou voltar pra Sampauluição, mas se escafedeu rapidinho à terra de Caymmi. Certa feita, eu, ele e Artur Ribeiro (esse sim, um baiano legítimo) - todos manguaçados – compusemos uma canção que ficou muito legal na interpretação do Artur (camaradas: se vocês se lembrarem da letra - e da melodia – mandem pra mim, ok!).
Bueno. Transcrevo abaixo um mini-conto “inédito” que o Luciano gerou quando amargava uma desagradável fila de atendimento de um posto de saúde.
PINGO NA LONA
Por Luciano Cenci
Uma noite dessa... até que foi gente, tava tudo certo.
E eu que já fui camelô, vendi picolé, de mergulhar peguei até Caramurú – ô bicho feio!
Agora tô aqui de lama até a bunda...
Também foi brabo esse temporal. Êita cacau pesado, que essa lona véia, já cheia de cada bróca, não segurava mesmo! Tanta água de uma vez que eu não sei se nem Iansã já viu igual!
Inda bem que quase todo povo já tinha se saído. Quanta criançada. Quem não tinha escapado tá ensopado feito eu aqui. Mas o sacana que pegou o aguacêro no caminho ficou igual a nós aqui nesse inferno, essa lagoa que era o picadeiro...
Esses ficaram molhado num instante, mas tem tempo, tá em suas casa sequinho, vendo televisão, lembrando do espetáculo de hoje – que foi bonito!
Até os bicho tava feliz... é mesmo: espiando assim parece até que a bailarina era linda, o palhaço engraçado...
Borá Pingo! Tá pensando no quê?!! A bezerra já morreu , morreu todo mundo que tinha que ser! Só falta nós aqui embaixo desse barranco! Não vê que tem esse cemitério aí em cima, já na beira do barranco, querendo cair com muro, osso e defunto e tudo na cabeça de nós três?!
_ É bom que se caí já tâmo enterrado e no lugar certo, né, seu Carlo?
_ Cala essa boca, Pingo!! Isso é hora...?
_ É isso mesmo, seu porra! Faz como Nêgobom: trabalha e fica quieto! Pára de falar merda e acelera nesse balde aí, que esse barranco pode cair mesmo. Não vê que a chuva ainda nem parou! Olha o mastro entortando...
_ Seu Carlo! Da última vez que pegâmo aquele toró em Madrededeus fui eu que fiquei a semana toda limpando a lama sozinho e com fome... senhor não vai fazer isso de novo não, né?
_ Cala essa boca, pingo!! Cê queria que eu matasse os animais de fome?
_ É mesmo. O senhor trata bem dos animal...
_ Que cê tá se rindo de canto aí, Nêgobom?!
_ Seu Carlo! Será que tem algum palhaço enterrado aí nesse cemitério?
_ Deve de ter é um atirador de faca pra cair aqui na gente e cortá logo essa sua língua, seu desgraça!!
_ Podia ter um mágico pra ajudá nóis nessa vida...!
_ Agora você também, Nêgobom??
_ Trabalha seus pôrra! Ou vão ficar aqui a noite toda falando mulequêra e olhando a garôa pelos buraco da lona...!
_ Agora já tem até umas estrela pra vê, né Seu Carlo?
_ Cala essa boca, miséra!!!
quinta-feira, 16 de abril de 2009
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3 comentários:
...caraca,conheci o Luciano dormindo no CRUsP com o saco pra fora, nariz escorrendo...e com aquele oclão esquisito... Oxente, que mundo que dá voltas!!...
rogério
Com o "saco pra fora" eu não sei, nunca vi (e não faço questão), mas com seu big-nose avermelhado e aflitivamente esocorrendo isso eu sempre presenciei - é característica do cara.
Zeca!
Q esculhambação com meu saquinho e meu ranhinho...! Saibam q sempre tem quew]m goste, viu! rssss
Zeca, faltou o final do texto q eu vou te mandar pra não ficar assim meio sem sentido, cortado Oo coitado do conto!).
Artur tá por aqui e sempre escondendo tbém de mim aquelas músicas...mas eu inda consigo!
valeus!!
Ah! O Rogério além de careca e despeitado é...
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