quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Alameda Santos da Ivana

Indagorinha passei na Livraria da Vila (a da Fradique) pra assuntar o “delicioso” livro de estréia do cantor/compositor maranhense Zeca Baleiro, “Bala na Agulha – Reflexões De Boteco, Pastéis De Memória E Outras Frituras”, e me diverti um tantão com o que li (noutro momento falo aqui sobre esse livro). Depois fui tomar um carioca decente que servem no Santo Grão (a cafeteria da livraria) – e usar no celuleca a conexão wi-fi que ali funciona que é uma beleza. Ah, o quintal onde está a cafeteria é bem agradável; quando chega dezembro/janeiro há uma jabuticabeira carregada de frutos de encher os olhos (e a boca também). Minutos mais tarde chega a escritora Ivana Arruda Leite que estava na companhia da bela Andrea Del Fuego (Del Fuego, que além de escravinhar coisas muito legais é dona de um sobrenome très intéressant - ó mi god!). Dei um “oi” pra Ivana, abracei-a, mas me faltou adjetivos inteligentes e concisos (eles sempre fogem de mim quando mais preciso, oh raios!) pra descrever a compulsão que seu segundo romance, o “Alameda Santos”, me causou (devo tê-lo devorado em dois dias). Ivana gerou uma personagem (que dividia um apê com gay na Alameda Santos no início da década de 80) insegura, neurótica, em desespero constante (mulher mal-amada e à beira da aflição generalizada é especialidade da autora), que de 1984 a 1992, entre o natal e o revéillion, narra solitariamente ao seu gravador os acontecimentos do ano. A gente chora (porque retratar a própria solidão é um treco doloroso) e até ri com os relatos dessa mulher que ameaça se atirar da janela do prédio onde mora, que torra todos os bens devido à obsessão por um cara hesitante total (bissexual), vagaba, que vive à custa da grana da esposa. Uma personagem que, independente de gênero, se expõe, escolhe a forma mais complexa (a que não dará certo, obviamente), mas que convive com as agruras, sem auto-piedade, sem rendição; que levantará de ressaca no dia seguinte e ao notar a besteirada que fez bradara um sonoro e respeitável “foda-se”.
Alguns dizem que o livro é autobiográfico, que as fitas gravadas existem. Podem ser. Mas a ficção que Ivana cria não tem nada de feminista ou feminina como alguns resenhistas afirmam. O que vi (e li) em “Falo de Mulher”, “Hotel Novo Mundo” e “Alameda Santos” é literatura” e ponto. Alguém já viu acusarem Dostoiévski, Hemingway e Machado de Assis de fazerem literatura “masculina” (ou machista) por causa de seus célebres personagens masculinos?
Ah, e um lance bem bacana em Alameda Santos é a lembrança dos acontecimentos que marcaram os anos 80 e começo dos 90 (como as Diretas Já, a morte de Trancredo, o Plano Cruzado, a hiper inflação, o seriado Malú Mulher, o embate entre Collor e Lula, o assassinato da atriz Daniella Perez, a novela Pantanal, o impicha do Collorido).
Bueno. Alameda Santos tá dito e recomendado.


3 comentários:

Mayra Di Manno disse...

Bela recomendação. Gostei do relato.
Vou conferir!
Um beijo,

Marcia Arruda disse...

Oh, Zeca, depois que nasceu o Caio não li mais nada. Não dá tempo mesmo. Gostei dessa sua dica e já anotei na lista para minha próxima, e desejada, ida a alguma livraria. Beijos, querido.

Ivana Arruda Leite disse...

Que emoção me deparar com este texto na manhã desse sábado nublado. Sol em minh'alma! Um beijo agradecido por sua leitura e por seu carinho.