quarta-feira, 26 de agosto de 2009

DOIS HOTÉIS


Por coincidência adquiri e li dois livros cujos títulos e as tramas têm a ver com hotéis. Um é o “HOTEL NOVO MUNDO” de Ivana Arruda Leite, o outro, “HOTEL ATLÂNTICO” de João Gilberto Noll. Ambos têm enredos parecidos: protagonistas que resolvem largar vínculos afetivos, empregos, e tentar mudar o destino noutros lugares; abandonam bens e não carregam nem bagagens (o maluco é que os personagens centrais, dos dois hotéis, estão caindo fora do Rio de Janeiro). Com narrativas ágeis e enxutas as duas histórias empolgam como num filme de aventura, só que com diferentes desfechos - obras com 20 anos de distância uma da outra: o livro de Ivana é de junho de 2009, o de Noll é de 1989.

O legal foi como cheguei a esses romances. Há muito tempo vejo resenhas publicadas em jornais e revistas de lançamentos desses dois autores, e sempre me esbarro com outros títulos deles quando estou em sebos e livrarias, no entanto eu não havia lido nada de Ivana e de Noll. Até o dia em que (dando um rolê pelo sebo do Bactéria, na praça Roosevelt) me rendi e comprei o “HISTÓRIAS DA MULHER DO FIM DO SÉCULO” da Ivana, de 1997; li absorto os 28 contos em que a autora retrata mulheres reais. Deu barato, e logo em seguida comprei o sensacional “FALO DE MULHER” (de 2002), outro livro de contos de Ivana; nenhum deles com final feliz, repleto de embates da vida privada, tragédias amorosas, e com mulheres à beira de ataques homicidas. Muito bom.

E em junho deste ano Ivana lançou HOTEL NOVO MUNDO que é seu primeiro romance. Nele, Renata é uma ex-prostituta que, se sentido traída, abandona a boa vida que levava ao lado do marido rico no Rio de Janeiro para morar num hotel barato no centro de Sampa. A autora descreve o dia-a-dia da primeira semana do recomeço de Renata nesse novo mundo. Um mundo onde ela encontra um pianista de boate ( com uma história comovente: o músico fora casado com ex-cantora de sucesso da noite paulistana, Diva Dantas, com quem teve uma filha, Cecília, que só a conheceu quando a mãe se encontrava à beira da morte), um pai-de-santo com ética profissional, que se relaciona com estilista soropositivo; e uma menina cheia de vida, mas com a saúde debilitada.

O HOTEL ATLÂNTICO do NOLL encontrei num sebo da rua Sete de Abril e o devorei em dois dias. Nele o autor narra a estranha história de um ator que foge sem rumo e que por onde passa tem gente morrendo. O personagem não é tão solidário e humanista quanto a “Renata” da Ivana. E prepare-se: porque as cenas de sexo, de violência e de descontroles levam o personagem (e o leitor) ao desespero - o que é muito legal.
E eu que geralmente curto personagens solitários, on the roads, fora de lugar, acabei conhecendo dois autores distintos (Ivana é de Sampa e Noll, gaúcho) que passeiam elegantemente por essa praia. Eu os recomendo.

Ps: e agora tô afinzasso de ler “A FÚRIA DO CORPO” e “HARMADA” de Noll - se alguém souber onde encontrá-los me dê um toque, please.

""Um cantinho, um violão (e um péssimo tocador)""


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Uma ode à "DESCRIMINAÇÃO" da poesia.

Tirinha do genial LAERT na Falha de hoje.
(clique para ampliá-la)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CAIO FERNANDO ABREU


Certa vez ganhei um elepê autografado – e com dedicatória - do Oswaldo Montenegro. A coisa se deu assim: eu tinha que ligar para aquele programa bem bacana da TV Gazeta, daqui de Sampa, o histórico TV-MIX (que rolou no finzinho da década de 1980), e indicar a canção que eu mais gostava do cantor. Entre as mais votadas, “Agonia”, “Bandolins” e “Lua e Flor (tema hiper batido do personagem Sassá Mutema da novela “O Salvador da Pátria”, 1989)”, Oswaldo Montenegro, que estava ao vivo no programa, elegeu justamente a canção que eu mencionei, “Léo e Bia”. E lá fui eu no dia seguinte até o prédio da Gazeta, na avenida Paulista, buscar o meu prêmio - como testemunha do fato tenho meu amigo Valmir Jr. que me acompanhou até o local. E foi neste dia que eu conheci pessoalmente o escritor-dramaturgo-poeta-ator CAIO FERNANDO ABREU. Não tenho certeza: acho que ele conversava com Tadeu Jungle, o então diretor de programação, quando eu entrei na redação da TV Gazeta.

Eu lia e gostava das crônicas que CAIO escrevia pro Caderno 2 do Estadão em meados dos anos 80 – naquela época eu não me ligava nesse papo de “nova geração de escritores”, não tinha a menor idéia de que ele era o supra-sumo dessa turma (que era composta por MARCELO RUBENS. PAIVA, REINALDO MORAES, JOÃO GILBERTO NOLL e outros). O que me fez devorar o seu clássico MORANGOS MOFADOS (de 1982) foi a dica que CAIO deixou logo no primeiro conto pro leitor acompanhar o texto: “Para ler ao som de Ângela Rô-Rô”- e nem preciso dizer o quanto eu gostava de Ângela Rô-Rô à época. Na seqüência li “OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO (de 1988) que foi premiado com o JABUTI (“Cágado”, diria Marcelino Freire) da CBL.

E pro meu deleite recebo de presente “PARA SEMPRE TEU, CAIO F” (editora Record – julho/2009), uma biografia fresquinha, que acaba de ser lançada, de CAIO escrita pela sua amiga de mais de 20 anos, a jornalista PAULA DIP. Logo no começo do livro ela diz que não se trata de uma biografia e sim de uma “história de amizade” que começou lá nos anos 70 e que terminou com a precoce morte do escritor vitimado pela AIDS em 1996. Os relatos que PAULA DIP descreve de sua relação com CAIO tem me emocionado demais; e olha que tô ainda na página 120 – o título do livro é um pouco piegas, mas era assim que CAIO se despedia nas cartas que escrevia para PAULA.
E por falar em correspondência, CAIO era um missivista compulsivo; escrevia em média 5 cartas por dia - “Tenho pena das pessoas que não escrevem cartas”, frase de Elizabeth Bishop que CAIO sempre repetia. Além da reprodução de algumas dessas correspondências, a biografia esta recheada de depoimentos dos amigos do escritor.

CAIO ganhava dinheiro escrevendo artigos e crônicas pra jornais e revistas, mas o seu grande barato era a literatura. Amava Clarice Lispector e Virginia Woolf (leu tudo o que elas escreveram). Segundo Paula Dip, Caio circulava com desenvoltura pela elite literária brasileira, dava o devido respeito e era aceito entre seus pares. No entanto, não titubeava na hora de meter a bronca, como na vez em que não hesitou e, no ar, largou a bancada do programa Roda Viva (da TV Cultura) que trazia Rachel de Queiros como entrevistada. Não concordando com o posicionamento ideológico, “chapa-branca”, que a escritora manteve durante a ditadura militar, Caio abandonou o programa.
Bom. E como resumiu o Marião (Bortolotto) em seu blog: essa é uma oportunidade muito boa pra gente rever a obra de CAIO, e um “bom momento para que as novas gerações conheçam o grande escritor que nós perdemos”.

Mais CAIO FERNANDO ABREU: há algum tempo, toda vez que entro numa livraria, fico com água na boca ao ver nas estantes a antologia que a editora AGIR lançou em 2006 como uma amostra da experiência literária de CAIO. Ela se chama CAIO 3D – O ESSENCIAL DA DÉCADA, e é dividida em três livros: décadas de 70, 80 e 90. Só que cada volume custa em média 60 realitos – um tanto salgado para meus parcos recursos. Quem sabe outra pessoa querida me presenteie com essa antologia, né mesmo?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

PAÍNHOS NEVER MORE.

A gente se livrou do ACM. Legal. Sobrou o dono do Maranhão que é viciado em presidências, mas esse eu acho que cai com a colaboração de seus cúmplices. Agora, que não venha o PT nos enfiar goela abaixo aquele paínho cearense pra nós paulistas. Urg! Sai fora!

Xô, molestias!!!

Ps: a Pillar a gente aceita.

domingo, 9 de agosto de 2009

"DOSSIÊ RÊ BORDOSA"

É bem legal. Eu assisti o “DOSSIÊ RÊ BORDOSA” no Anima Mundi do ano passado e adorei. Putz, este foi o primeiro documentário-filme-em-animação que vi. É um curta em Stop-motion, feito todo de massinha. De 2008 pra cá, o curta, dirigido por César Cabral, já recebeu mais de 20 premiações, inclusive fora do país. E pra quem não sabe, RÊ BORDOSA é um dos personagens mais junkie que surgiu nos Quadrinhos brasucas dos anos 80. O documentário tenta desvendar se foi “fama”, “ego inflado”, “espírito de porco” - ou qualquer outra merda - que levou o cartunista ANGELI a matar sua popular e mais famosa criação.

Quem assistiu ao clássico “O BANDIDO DA LUZ VERMELA” vai rever aquelas duas vozes em off (de um casal) narrando fato a fato as informações contidas no Dossiê.
O filme traz Grace Gianoukas fazendo a voz da RÊ BORDOSA; Paulo Cesar Peréio, a do BIBELÔ e Laert Sarrumor, BOB CUSPE.
Também estão excelentes as caracterizações dos bonequinhos que representam os cartunistas LAERTE e ANGELI. Ah!, e durante os créditos finais, dá pra gente ver que o boneco de massinha do ANGELI foi dublado por ele mesmo repetindo todos os seus trejeitos.

Pra quem não assistiu, segue abaixo o filme “Dossiê Rê Bordosa” na íntegra.