terça-feira, 31 de março de 2009

ERA UM DOMINGÃO



Neste domingo acordei com dor, mais dor do que eu merecia: mal movimentava o pescoço por causa de um torcicolo (ou torcicólogo, como dizia dona Cacilda, a vizinha) – até um pequeno movimento de sobrancelha doía tudo. Acabei com o que sobrara de Gelol no frasco e nada; esse tipo de medicamento só deixa uma sensação de frescor no local, mas remover a dor necas (o incomodo continuou assim como os cheiros de cânfora e mentol que a gente não consegue se livrar nem com água e sabão). Dizem que pode ser uma lesão que causou o enrijecimento dos músculos do pescoço, fazendo com que os movimentos da minha cabeça se tornassem dolorosos e limitados.

O jeito seria cancelar a programação do domingo e ficar quietinho, em módulo descanso. Sem problema. Ficar em casa também é legal: dá pra continuar as leituras dos livros que estão em pausa, ou ler a Falha inteirinha, de cabo a rabo. E de mais a mais a geladeira tava abastecida de latinhas de cerveja gelada pra sorver à tarde na hora do jogo da seleção brasileira, e se não fosse a dor no pescoço diria eu que tudo tava numa boa.

Mas sou lembrado de que a minha Lusa (a Portuguesa de Desportos, o segundo time de todo paulistano) teria mais outro confronto decisivo naquela tarde no estádio do Canindé contra o Marília (a Lusinha tem disputado ponto a ponto com o Santos pra se garantir no G4, para assim participar das finais com os porcos, os pó-de-arroz e os manos do Curintia). E quer saber? Mesmo todo travado, com dor no pescoço, partimos pro Canindé. Cá pra nós, a situação da Luzinha me empolga muito mais do que uma atuação da seleção do Dunga nessa fase das eliminatórias da Copa de 2010. E de certo foi a melhor coisa que fizemos.

Foram três tentos legítimos em cima do Marília (time do coração de um dos melhores locutores esportivos, Osmar Santos) e um pênalti marcado (e convertido pela Lusa) que só o arbitro da partida viu (eu que tava do outro lado do campo vi que o nosso artilheiro Edno se jogou no chão - não por dissimulação, ele fez isso senão se chocaria com a trave). Bueno. Eu tô sentindo que podemos ir adiante nesse “Paulistinha” com o nosso trio – Edno, Christian e Athirson – e mais a valorosa ajudinha dos juízes (na quarta passada, contra o Mirassol, Fabrício Carvalho, que já é reincidente, utilizou a mão pra fazer um gol e o juiz engoliu).

Putz, com torcicolo não é nada confortável vibrar por um gol de seu time, no entanto valeu a pena - e valeu muito mais do que eu pensava. É que depois da partida, no caminho até a estação Armênia do Metrô descobrimos a FEIRA KANTUTA, que aos domingos reúne quase dois mil hermanos bolivianos numa praça do bairro do Pari. A sensação é a de que estávamos caminhando pelas ruas de Cochabamba ou de La Paz – ali, a gente se sente estrangeiro, hablando nosso portunhol bem selvagem.

Algumas barracas ofereciam o Anticucho, espetinho de coração de boi acompanhado de batata e molho de amendoim, outras vendiam Empanadas e Salteñas. O forte da feira é também o artesanato: muita malha de lã de lhama, tapeçarias, flautas Pãs, pinturas em argila e em moringa (incomodado ainda com as dores no pescoço eu não me aventurei na gastronomia boliviana e nem fiquei muito tempo no local – mas ficou a vontade danada de voltar e de degustar tudo).

A Feira Kantuta começou há quinze anos e funcionou de forma irregular até 2001, quando a dona Marta a regularizou, depois de muita mobilização dos participantes e organizadores. No banner que vi perdurado num poste da praça estava escrito que ali era um lugar “de encontro e de diversão” de nosotros hermanitos, mas nos olhos levemente puxados daquelas pessoas de pele morena e cabelos escuros e brilhantes havia cansaço e certa tristeza: antes, eles eram considerados traficantes internacionais de drogas, hoje são escravos nas confecções da máfia coreana no Bom Retiro.

Quanto ao GRANDE jogo da seleção do Dunga que perdemos... sem comentários.

SERVIÇO:
Feira Kantuta (flor típica do Altiplano): todos os domingos, das 11h às 19h, na praça Kantuta - altura do no 625 da rua Pedro Vicente, bairro do Pari, em Sampa.




VERBO TEMPO

Piratas do Tietê - Laert

(clique na imagem para ampliá-la)

terça-feira, 24 de março de 2009

Banda Eddie



Que me perdoe minha querida madrecita, dona Conceição: ela que é muito Católica vai sugerir àquele arcebispo a minha excomunhão quando souber que pretendo cair de boca numa feijoada na semana santa deste ano; é porque estarei torcendo pro glorioso rubro-negro SPORT de Recife contra o parmera do Luxa na quarta-feira, dia 8, por isso tô me lixando pra essa festividade cristã, eu quero mais é ver a porcada em prantos, praticamente sem nenhum mísero ponto nesta fase de grupos da Libertadores, He he he!

Bueno. Aproveitando que estou falando do Sport de Recife, eu quero dar a dica de outra minha descoberta musical pernambucana. Já falei aqui de Lirinha do Cordel do Fogo Encantado, da doce Lulina, de Zeca Viana, agora é a vez da BANDA EDDIE que está com disco novo, CARNAVAL NO INFERNO, repleto de “melancolias dançantes”; são onze faixas que mistura Reggae, Frevo, Samba, Rock e “uma boa dose de tristeza”, segundo os caras da banda.
Curiosidade: Fábio Trummer, vocalista da banda, é o autor da clássica "Quando a Maré Encher", gravada pela Nação Zumbi e por Cássia Eller.

Recomendo uma visitinha no Myspace da banda pra ouvir “Danada”, “É De fazer Chorar”, Desequílbrio, “Bairro Nova Casa Caiada” e “Dessa Vez Foi Demais” - Clique aqui.
Vejam abaixo o clip do frevo "É de Fazer Chorar" (ah! ganha um doce quem souber em que FranzCafé aqui de Sampa a banda entrou cantando)



Show: a banda vai tocar no Studio SP no dia 4 de abril, sábado, às 23h, na rua Augusta, 591 - R$ 25,00 a entrada.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Cadê as Nossas "Enchentes"?



As chuvas de ontem me fizeram lembrar (e cantar) “É Tanta Água”, canção que Itamar Assumpção compôs e gravou ao lado de Tom Zé, e que faz parte do sensacional Bicho de 7 Cabeças - Volume I (clique aqui pra ver a letra e baixar a música no seu celular).

Bueno. O que eu queria mesmo é recomendar a leitura do texto, EUFEMISMO PLUVIOMÉTRICO, que meu amigo Mauricião publicou, há pouco tempo, em seu blog Aqui e Acolá. É interessante e oportuno.

Eufemismo Pluviométrico
Por Maurício Barbara

A cidade de São Paulo mergulhou na onda do eufemismo pluviométrico, um amigo me alertou que a alcunha de "enchentes" foi substituída por "pontos de alagamento". Caso um rio transborde, diversas ruas fiquem alagadas, casas sejam invadidas pela força das águas, então voilá!, temos um novo "ponto de alagamento". Já a imprensa tupiniquim resolveu simplificar e adotou o lema: excesso de chuvas!, nada de discussões sobre o crescimento desordenado das cidades, a ocupação irregular de encostas, desmatamentos, redução da área de absorção das chuvas, a mudança do leito dos rios e sua artificial aceleração, a mudança do microclima das cidades por conta do adensamento caótico, pois agora temos, voilá! - excesso de chuvas!.

sexta-feira, 13 de março de 2009

OBAMANIA




Este poster apareceu nas estantes lá da Mercearia São Pedro, da Vila Madá, mas ninguém sabe quem fez - e dizem que camisetas estão a caminho.
(clique em Mercearia e descubra de quem é o rosto do poster)
[fonte:blog do terron]

quinta-feira, 12 de março de 2009

Leitura pra se encarar

Minhas leituras últimas, de certa forma, se deram tranqüilas: um Zola aqui, um Saramago acolá, sem esquecer os livros de Clarice, de Mirisola, de Sergio Cohn, de João Máximo, vários de Marcelino Freire, de Bukowsk e Kerouac. Tudo na maciota (como se diz lá na grande RP). Mas eis que me caem nas mãos duas bombas: “O AMOR NÃO TEM BONS SENTIMENTOS” de Raimundo Carrero e “O MANUAL DO PODÓLATRA AMADOR: AVENTURAS DE UM TARADO POR PÉS” de Glauco Mattoso.
Assim como há a recomendação de um especialista, com a obrigação da apresentação da receita para adquirirmos determinados medicamentos, deveria haver também essa consulta prévia, com liberação prescrita, para a leitura de certos tipos de livros, como é o caso desses dois.
"O AMOR NÃO TEM BONS SENTIMENTOS" (editora Iluminuras – 2007) é um romance sobre a loucura, o personagem Matheus é um músico atormentado por ter um amor obcecado pela mãe e pela irmã que são lindas. Um sujeito imoral que comete incesto com mãe e irmã, chegando a insensatez total – mas é importante dizer que Matheus foi criando pela sua tia Guilhermina, com quem tomava banho pelado todo dia – ah!, e tudo isso se passa num ambiente sertanejo, no mato, às margens de um degradante rio Capibaribe, em Arcassanta. Tenho alguns amigos desatinados que eu jamais recomendaria essa leitura. (apesar de ser recente já é possível encontrar o livro em sebos daqui de Sampa)


"O MANUAL DO PODÓLATRA AMADOR..." (reeditado pela All Books – primeira edição é de 1986) é um romance “quase” autobiográfico profundamente fetichista. Eu juro a vocês que nunca li algo tão sadomasô – nem “A Filosofia na Alcova” e “Os 120 dias de Sodoma” de Sade me impressionaram tanto. Alguém disse que esse livro é a “supervalorização homoerótica dos pés”, nele, o autor narra suas experiências - desde a infância – assumindo suas taras por pés, sapatos, tênis e até por cheiros advindos dessa parte do corpo, o chulé.
A primeira edição de O Manual foi lançada em 1986 no lendário MADAME SATÃ, templo do rock paulistano, e logo Glauco foi acusado de fazer literatura escatológica. Na minha opinião, o “Manual” (que não é de auto-ajuda, apesar do título) é boa literatura, feita por um militante dos seus desejos, um apaixonado por pés de homem (credo!)

quarta-feira, 11 de março de 2009

"Uma peça de Marcelo Paiva"

O cenário é um quiosque no calçadão da orla da praia, vazio, com mesinhas típicas, lixeira, um banco e um radinho que às vezes é aumentado. Renato entra falando no celular, com seu equipamento fotográfico. Desliga e se senta. Sente frio. Espera. Tira discretamente uma bombinha de asma e cheira. Vê um par de sapatos no banco. Estranha. Experimenta-os. Devolve. Aparece Caio, do fundo do palco, de terno, gravata, com a barra da calça levantada, como se viesse da areia. São seus os sapatos. Caio é bem mais formal. É o chefe de Renato.

CAIO
Parado aí!
RENATO
Ô, cara, que susto!
CAIO
Faz tempo que você chegou?
RENATO
Que frio!
CAIO
Vou sentir falta deste lugar. Quer um coco?
RENATO
Coco?
CAIO
Vou tomar um, quer?
RENATO [confuso]
Um o quê?
CAIO
Um coco. Aquele fruto redondo, verde, com água dentro. Quer?
RENATO
Claro. Quer dizer... Podemos pedir algo mais calibrado?
CAIO
Cerveja?
RENATO
Você topa? Legal.

Caio pede duas cervejas no quiosque. Renato usa a bombinha de novo. Caio volta com duas latas. Brindam.

RENATO
Agora sim... Então, qual é a pauta?
CAIO
Sabe que eu te invejo.
RENATO [amigavelmente]
Pensei que chefe não invejasse ninguém.
CAIO
Não sou muito fã de cerveja. Estufa. Prefiro conhaque. Sobe mais rápido.
RENATO
Pra que você me ligou?
CAIO
Mas esta cerveja está boa. Desceu... Será que aparecem aquelas loiras exóticas, como nos comerciais. Quem bebe cerveja parece mais feliz do que quem bebe conhaque, não? Em comercial de conhaque, o cara está sempre só, numa poltrona de couro, lareira, lendo Financial Times. É mais existencialista. Deprê. Melhor o calor do verão. Monte de gostosas. A boa!
RENATO
Com certeza...

Pausa. Renato não está entendendo aquele papo. Olham-se em silêncio por um tempo.

CAIO
Queria te fazer um comunicado. Vou largar tudo. Verdade. Vou embora.
RENATO
Vai o quê?
CAIO
Embora.
RENATO
Pra onde?
CAIO
Sei lá. Pensei em ir pra Amazônia, de bicicleta.
RENATO
Assim, sem mais?
CAIO
Sem mais nem menos. Louco, né? Não sou mais o seu chefe. Sabia?
RENATO
Como não?
CAIO
Estou fora. Fui demitido. Não mando mais.
RENATO
Caralho. Quer dizer... coitado. Puxa, anos dedicado a... Que sacanagem.
Não se contém e ri. De felicidade. Caio ri também.
RENATO
Que notícia boa. A galera vai comemorar.
CAIO
Vai?
RENATO
Está quente esta cerveja!
CAIO
Me detestam tanto assim?
RENATO
Só um pouquinho.
CAIO
Um pouquinho quanto?

Renato faz com os dedos da mão o quanto o detestam. E gargalha aliviado.

CAIO
Tudo bem. Engraçado. Minha vida agora será uma aventura. Quis vir aqui me despedir do Renatão.
RENATO [irônico]
Na noite mais fria do ano?
CAIO
E daí? Eu precisava vir, sabe?
RENATO
Me sinto... honrado.
CAIO [com ódio]
Jura? Que bom. Você merece minhas homenagens.
RENATO
Por que eu?
CAIO
Ainda pergunta? [pausa] Como ela está?
RENATO
Quente.
CAIO
Não a cerveja.
RENATO
Quem?
CAIO
Carla.
RENATO
Carla?
CAIO
É. Carla.
RENATO
Que Carla?
CAIO
Qual Carla?
RENATO
É. Qual?
CAIO
Não se faça de bobo. Carla. Só tem uma.
RENATO
A minha mulher?
CAIO
É. A sua mulher.
RENATO
O que é que tem?
CAIO
Como ela está?
RENATO
Carla?
CAIO
Como ela está?
RENATO
Por que você está perguntando?
CAIO
Como ela está?
RENATO
Já perguntou.
CAIO
E aí? Responde.
RENATO
Qual é, cara, é a minha mulher!? Por que você quer saber?
CAIO
Como você conseguiu?
RENATO
Consegui o quê?
CAIO
Ficar com ela.
RENATO
O que você tem a ver com isso?
CAIO
Ela sabe que estou aqui?
RENATO
Quer parar?! Por que você pergunta dela? O que está acontecendo aqui?! Você teve alguma coisa com ela?
CAIO
“Coisa”?... Você não quer conversar. Que chato isso. Pensei que seria bom pra você desabafar, só estamos nós dois. Vai, conta tudo, fala do seu desespero e sofrimento, dos projetos. Se abre.

E é assim que começa a peça inédita A NOITE MAIS FRIA DO ANO de Marcelo Rubens Paiva, que vai estrear nesta sexta-feira, dia 13/03, às 21h, no SESC Paulista, na av. Paulista, 119 - Mário Bortolotto faz Caio. Alex Grulli, Renato. Ainda tem Hugo Possolo e Paula Cohen no elenco.

A direção é do próprio Marcelo Paiva com a colaboração da Fernanda D'Umbra.
Não percam porque é curtíssima a temporada, dois meses apenas.
Ingressos de 5 a 20 realitos.

quarta-feira, 4 de março de 2009

"Palavra (En) Cantada"



Pois então. O projeto “Palavra (en)Cantada” - que o produtor Marcio Debellian apresentou na Bienal do Livro de 2005 - que pretendia “mergulhar no universo particular de grandes compositores brasileiros, seus livros e autores preferidos, e com a relação que cada um tem com a poesia / literatura em seu processo criativo”, virou documentário premiado e estréia no dia 13 de março aqui em Sampa.

E o resultado é que o filme dirigido por Helena Solberg e pelo próprio Marcio Debellian discute de forma descontraída e leve a relação entre poesia e música, letra e canção por meio de depoimentos de feras como Adriana Calcanhotto, Antonio Cícero, Caetano Veloso, Chico Buarque, Lenine, Maria Bethânia, Tom Zé, entre outros.

Bueno. Mas antes disso, no dia 10, vai rolar uma exibição gratuita no Cine Bombril, às 20 horas, dentro do projeto Folha Documenta, acompanhada de um debate-papo entre os diretores, os escritores Marcelino Freire e Ferréz, e o professor Luiz Tatit.
Para assistir ao trailer é só clicar aqui.
Mais informações aqui.