sábado, 27 de dezembro de 2008

Mais Ranhetice (III)

"A PRAÇA (NÃO) É DO POVO".

Já falei sobre isso por aqui: quando temos iniciativa pra promover algo cultural ou esportivo, os poderes - prefeituras e governos estaduais - são os primeiros a nos desestimular com burocracias, impedimentos absurdos e descabidos. Agora, quando são eles os promotores não existe pecado abaixo do Equador. Tudo é permitido. Até mesmo bloquear a “imbloqueável” Avenida Paulista, como nos eventos que ocorrem todo final de ano neste famoso local paulistano – a Maratona de São Silvestre e os grandes shows do réveillon. Não me esqueci – e faço questão de sempre mencionar – que o último grande ato do governador Mário Covas (aquele que depois de morto virou nome de rua, de projetos sociais, de hospital estadual, de premiação de gestão pública, de rodoanel, e acreditem: de escola e fundação educacional) foi descer o porrete com sua valorosa tropa de choque particular em cima de passeata pacífica de professores da rede estadual que ocupava parte da dessa avenida em maio de 2000. Argumento do “íntegro e saudoso” governador e de seu secretário de segurança à época: “não se pode, em hipótese alguma, fechar, mesmo que parcialmente, a Avenida Paulista; lá é área hospitalar e existem leis que impedem concentrações que causem barulhos abusivos”. Uma sugestão: tente fechar a sua rua (mesmo que ela não seja uma via de intenso tráfego) pra fazer uma festa de carnaval, uma feira de arte, um show com sua banda, uma festa junina ou qualquer outro agito que te der na telha.
Anyway. É fácil entender esse modus operandi de nossos homens públicos: se for visível e se render alguma notoriedade política permitem qualquer iniciativa - e usam até o nosso dinheiro dos impostos nesses eventos; reparem que até no dia de parada gay tem prefeito acenando triunfalmente sobre algum caminhão de som.



Montagem de palco para o réveillon (deste ano) na Paulista e os prefeitos Kassab e Marta em Paradas Gays.






segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ranhetices - Parte II (Números)


Demorei décadas pra decorar o número de meu érregê e não sei décor os números do telefone de casa e do celular. Antes de indicar meu endereço de casa penso: é 1322, 1233 ou 1223? Dentre meus ceticismos poderia eu vir a crer na mais bizarra forma de adivinhação ou em qualquer pseudociência premonitória, menos em “numerologia”. Minha birra com os números começou na infância, quando passei pra quinta série: no primário, na hora da chamada eu era eu; como que por encanto a belíssima professora Clélia pronunciava meu nome numa meiguice que a mim soava sedução, e eu, já mal intencionado, respondia “aqui, professora!” (diferentemente das outras crianças que se anunciavam com o descomprometido “presente”) Ela sabia quem eram meus pais, onde eu morava, que eu gostava de cantar, que eu detestava a canjica e o arroz-doce que serviam de merenda, que meu nariz sangrava por insolação. Na quinta série passei a ser um número na hora da chamada. A escola pública já padecia de recursos e o entre e sai de professores durante um ano letivo era rotina; os alunos não conheciam seus mestres e vice versa. Outras arrebatadoras professoras passaram durante o ginásio e nenhuma soube meu nome, nenhuma sabia coisas sobre mim; nem meu número na listagem.

E a mesma ojeriza que tenho por números, tenho por estatísticas e matemáticas. Um professor meu de Geografia disse certa vez que “números foram feitos para serem manipulados”. Hoje mesmo publicaram avaliação do MEC que mostra que alunos do sistema de ciclos (progressão continuada) têm o desempenho 0,9% melhor em matemática e 4,4% também melhor em português que alunos seriados. Oras bolas! Todo educador sabe que esses dados são inverossímeis: por mim passaram muitos adolescentes que estavam se formando no sistema de ciclos sem saber ler e ou escrever - alguns eram incapazes de entender um simples texto noticioso.
É atribuído a um antigo ministro do ditador português Salazar, o seguinte conceito sobre estatística: "Há duas maneiras de mentir: uma é não dizer a verdade; outra, fazer estatística".

Da matemática, então, nem chego perto, e não tenho a menor inveja de alguns amigos que calculam a conta do barzinho em segundos. Eu assumo: só sei décor as tabuadas de 2, de 5 e de 9. Na multiplicação e divisão uso a salvadora “regrinha de três” pra evitar vexames. Porcentagem, frações e juros, necas... Meu irmão, Gil, é craque em matemática: já participou de olimpíada estadual dessa matéria ficando entre os 100 primeiros; ele dá show quando mostra a seus pimpolhos os caminhos dessa ciência exata. Sei que meus amigos filósofos quando lerem este texto vão me descer a lenha: vão me dizer que a matemática é a “síntese da razão” ; que é o jeito humano de dizer que existe lógica nos eventos do mundo, etecétera e tal. Mas que se dane Pitágoras... eu prefiro Baco. Outro dia, um atendente de loja quase que me ridicularizou por eu não saber meu cêpeéfe; e é por isso e por outras que fico puto quando tenho que apresentar um cartão cheio de números para provar que eu, sou eu.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Vicky Cristina e Happy Christmas







Andei distante daqui devido à correria de fim de ano e por causa disso ando me perguntando por que será que todo novembro/dezembro a gente tá sempre sobrecarregado, hein? É a correria até a 25 de março pra comprar presente Made in China pros parentes, pros amigos secretos, pra namorada(o). O fim de ano, para alguns, é aquela animação, pra outros é só tédio: especial do Roberto Carlos, Missa do Galo, festa na firma (e você com vontade louca de bater no seu chefe que te sacaneou durante o ano todo), sem falar daquelas visitas inconvenientes que aparecem pra ceia de Natal.

Quando pivete eu não sentia esse corre-corre. Em casa rolava rango na véspera do dia 25 e no réveillon e só, nada de presente e nada de velho barrigudo de vermelho; expectativas pros próximos 365 dias não me causavam desassossegos. A tradição em casa quem mantinha era minha mãe: como boa costureira, nós, os filhos, estávamos sempre arrumadinhos para as ceias, mesmo se não aparecessem visitas. Por que é que eu não podia rangar de bermuda como nos outros dias do ano? Um tio meu me disse certa vez que cuidava da aparência e se vestia elegantemente não por futilidade, mas por altruísmo: por respeito ao próximo, afinal, se você é feio e se veste mal quem sofrerá com isso vai ser o outro que tem que te olhar.

Bem, mas o que eu queria mesmo falar tem a ver com o cinema: andei também distante dos bons filmes e documentários, por culpa do estresse deste período preferi produções menos pensantes, tipo: wall-e, hell boy 2, hancock, zohan entre outras cositas. E, de certa maneira, isso serviu pra que eu recuperasse o barato, a satisfação de ver um bom filme, como foi neste domingo quando assisti o inefável VICKY CRISTINA BARCELONA; um Woody Allen contando a história de duas jovens americanas, Vicky (Rebecca Hall) e Cristina (Scarlett Johansson) que viajam a Barcelona pra passar as férias de verão e acabam se envolvendo em confusões amorosas com um artista extravagante (Javier Bardem )e sua insana ex-esposa, Maria Elena (Penélope Cruz).

Assisti ao filme com a agradável impressão de que as personagens das belas Penélope Cruz, Rebecca Hall e Scarlett Johansson tivessem sido rascunhadas por Almodóvar, aliás: acho que o grande diretor espanhol se arrebatou de inveja, ainda mais pela excelente fotografia e pelo filme ter sido todo rodado em Barcelona e Oviedo - quero pensar que foi uma homenagem de Allen a Almodóvar.
Enfim. Um antigo clichê proferido pela personagem aventureira Cristina (de Johansson) que ao encarar a vida dizia “não saber o que queria, mas sabia exatamente o que não queria” serve de alento pra suportar esse período e essa p... toda.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

VIRA CULTURA

Rola nesta sexta e sábado (dias 28 e 29) a primeira edição do projeto VIRA CULTURA na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, que ficará aberta durante 37 horas com apresentações circenses, saraus literários, sessões de cinema, DJs, pockt shows, grupos de dança, entre outras. Parte das atrações serão digrátis (as peças teatrais terão preços populares).
Vai ter Nelson Ayres Trio, Guinga, Beto Brant (bate-papo), Banda Vanguart, Doutores da Alegria, Paulo Scott e convidados (sarau), Fabiana Cozza, Danilo Gentili (Stand-up Comedy) e Paula Lima pra encerrar o evento.

Veja programação completa no http://www.livrariacultura.com.br/vira_cultura/index.asp

terça-feira, 18 de novembro de 2008

“Dedicação Total a Você” (ou, Da Casa do Zezinho às Casas Bahia).

Abri este espaço na blogosfera para, além de dar dicas de eventos interessantes, me divertir escrevendo bobagens, mas arrisco neste momento a fugir da proposta para falar de certo assunto que pouco me agrada, que não domino e do qual não pretendo (com este post) exercer influência alguma. Quero apenas transcrever parte do texto que li e que muito me comoveu (entristeceu), já que eu também trabalho numa organização social – não governamental - que propõe idéias e atua com o objetivo de assegurar algum tipo de oportunidade a quem vive condenado pela pobreza.

Falo do “assassinato” de Alberto Milfont Júnior, de 23 anos (que freqüentou a ONG Casa do Zezinho), cometido por um segurança de uma das lojas das CASAS BAHIA, quando o rapaz e sua esposa compravam um colchão. O fato pouco repercutiu e o senhor Samuel Klein, proprietário dessa rede de lojas populares, não veio a público lamentar ato tão bárbaro que se passou numa de suas 550 filiais. De imediato a empresa divulgou nota dizendo-se lamentar do “incidente”, informando que a tragédia foi “fato isolado”.

Como disse Elio Gaspari, “Samuel Klein, hoje um dos homens mais ricos do Brasil, chegou aqui nos anos 50 com pequenas economias. Conseguiu isso porque fez freguesia entre os consumidores de baixa renda. Quando um cliente é assassinado numa de suas lojas, ele não deve permitir que o caso seja tratado como um mero episódio contratual, burocrático. Klein já conviveu, num ponto muito maior, com a banalidade do mal e a irrelevância de vida. Durante a Segunda Guerra, ele foi prisioneiro nos campos de concentração de Maidanek e Auschwitz. Salvou-se porque recebeu a graça da solidariedade humana.”


Segue o texto:
A CASA DO ZEZINHO ESTÁ DE LUTO

Em 1996, a Casa do Zezinho estava engatinhando, formando sua pedagogia do Arco Iris, que abre as portas das possibilidades de sonhos para quem dela faz parte. Sonhos de vida, sonhos de crescimento. Entre os Zezinhos que vieram para cá nesse ano, tinha um, o Alberto, com 10,11 anos, que ficou com a gente por muitos anos, até 2003. Alto, magrinho, alegre e brincalhão. Não perdia a oportunidade de mexer com os outros, de fazer a gente rir. Mas levava a sério o que fazia, participando de tudo. Das oficinas culturais, principalmente. Fazia parte do grupo de dança, que mostrou o Cidadão Zezinho para São Paulo inteiro (...). Fez parte do projeto Clowns, que criou um espetáculo chamado Barraco 3x4, que mostrava e criticava, com muito bom humor, a situação humilhante em que o povo da periferia vive (...) Mas não foi num fim de semana que mataram Alberto. Foi em plena segunda-feira, nas Casas Bahia, que é a grande oportunidade de compra para quem não tem dinheiro. Crediários a perder de vista. E quem perdeu a vista e a vida foi Alberto. Num segundo, com a nota fiscal na mão, Alberto morreu, explicando para o segurança que não era ladrão e sim cliente. Por que estava mal vestido? Ou vestido como todo mundo aqui se veste, porque não pode comprar Nike, Zoomp, ou sei lá quais são as marcas da moda. Uma violência estúpida num mundo estúpido, onde a vida está por um fio. E ninguém ouve ninguém. (...) Os sonhos, o trabalho, o projeto de vida, o filho de 5 meses, a companheira, o colchão que eles foram comprar, tudo fica para trás. Para uma próxima oportunidade.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

SEGUNDA-FEIRA

Segunda-feira é dia da primeira feira da semana.
Segunda é o segundo dia da semana;
corresponde ao segundo dia das quatro semanas de cada mês:
são ao total quarenta e oito Segundas-feiras num ano.
Primeiro dos dias úteis da semana que vai até sexta.
Mas é o segundo da semana toda.
Deus disse: “guardarás o sétimo dia da semana para o descanso" (que era o Sábado):
segunda, não.
Para estar bem na Segunda depende do Domingo.
Segundas-feiras têm instabilidades,
variações,
ressacas,
distúrbios,
letargias,
imprevisibilidades.
Segundas-feiras têm CAOS!








sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Movimentos Rápidos




O Michael Stipe tava animado e o público mais ainda, e eu não tenho a mesma empolgação de outrora pra assistir shows de rock. Achei tudo pauleira demais: tão acelerado que nem meus rápidos movimentos dos olhos captaram a catártica performance do magrelo careca Stipe, que discursou Obamizado, feliz da vida, em vários momentos da noite (com meu inglês fajuto “acho” que ele disse o seguinte: “O futuro dos EUA mudou na semana passada e eu estou animado pra voltar pra casa.” ). Pensando melhor; ainda bem que rolou assim; porque botaram um tal de “Wilson Sideral” pra fazer abertura e o cara tava me dando sono. Em suma: valeu à pena. O R.E.M. é uma das únicas bandas que vieram pra cá nos últimos anos que deu vontade de ver: Nirvana, Creedence, Pink Floyd, U2, Ozzy, e mesmo os Rolling Stones não despertaram em mim essa mesma vontade.

Não era o show do Morrissey (ex-The Smiths) , no entanto, o público tava repleto de marombados cantando em delírio todas as canções com Stipe, até as mais recentes. No palco havia um enorme telão que projetava flashes distorcidos, fora de sintonia; uma mescla de videoclipes, cenas da platéia e slogans favoráveis a Obama. Tudo muito frenético, mas que regulava o clima da noite.

Com toda certeza aquele set-list de mais ou menos 30 canções empolgaria todo mundo dentro do Via Funchal: reconheci as antigonas do disco Document (The One I Love e Its The End Of The World...) do Green (a maravilhosa Orange Crush), do Out of Time (Losing My Religion - esse disco meu irmão surrupiou de mim quando casou), do The Best Of In Time (Bad Day e Imatation Of Live – gosto demais das duas). Fiquei sabendo recentemente que Stipe é padrinho da filha de Kurt Cobain e Courtney Love e foi por isso que a platéia entoou em transe “Everybody hurts".
Bueno. Apesar da “Obamação” (ou Obamania) do show posso dizer que senti um gostinho de anos 80, fato que cai bem pros velhinhos como eu.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

R.E.M.

Amigos: verei logo mais à noite Michael Stipe e banda (digo, R.E.M.). Neste momento em que o horror econômico (financeiro) mundialmente se instalou vou, como nos meus tempos de adolescente (quando ia a shows de rock), bradar com toda intensidade It's the End of the World as We Know It (and I Feel Fine)





sexta-feira, 7 de novembro de 2008

GALERIA DO ROCK

Se você tem interesse por antropologia da cultura social (tu é metido à intelectual, né!) e curte Rock à beça: seus problemas acabaram-se! A Galeria do Rock na rua 24 de Maio, no centro velho de Sampa, é um paraíso pra você. Gente de todas as idades e de todas as tribos do Rock passa pela tal galeria num só dia; uma visita durante a semana é mais sossegada e tranqüila, mas recomendo mesmo é que você vá nalgum sábado – imagine um lugar em que desde o início dos anos 80 tornou-se ponto de encontro de punks, góticos, metaleiros, grunges, e que agora está dominado por EMOs (urg!), sem esquecer que no subsolo estão os manos e as minas do Hip-Hop. Mas ciente de que entre os agrupamentos humanos o pau comeu solto, você perguntaria: essas tribos todas se entendem? Não rola briga? Dizem que na época em que se fumava muita maconha por lá, também rolava muita porradaria entre roqueiros e “carecas” (entenda-se, skinheads), grupo que não mais frequenta a galeria, por motivos óbvios.

Veja que fato chique: a galeria foi inaugurada em 1963 - com o nome Shopping Center Grandes Galerias - para atender serviços de alfaiataria e o comércio de souvenires franceses. Mas é a partir da década de 70 que passa a ser conhecida como Galeria do Rock, quando começa a se instalar diversas lojas de discos; a mais antiga é a Baratos e Afins do Luiz Calanca, aquele que produziu discos fenomenais de Itamar Assumpção, Arnaldo Baptista (ex-Mutante), Ratos de Porão, Golpe de Estado, Vange Miliet, Bocato, Alzira Espíndola, entre outros. E diz a lenda que Bruce Dickinson (vocalista do Iron Maiden) e Kurt Cobain (ex-vocalista do Nirvana) já passaram por lá apenas para dar uma volta pelos corredores – até o manda-chuva pelego e ex-ministro José Dirceu já discursou na Galeria nos anos 60 (veja foto abaixo).

Na hilariante pagina Disciclopédia (plágio bem-humorado da Wikipédia), a “Galeria do Rock foi fundada em 350 a.C. pelos 12 apóstolos numa época onde Jesus Cristo ainda era hippie e constantemente fugia dos mandamentos de seu pai para se embebedar, praticar sexo livre e curtir um bom rock n' roll (...). Com o passar do tempo, os judeus foram confinados no prédio onde praticavam suas orgias e adoração a deuses, fundando então a Galeria do Rock, porém, após a ascensão de FHC ao poder, a galeria foi privatizada aos EMOs, que passaram a freqüentá-la cada vez mais e a transformaram no cenário cor-de-rosa que hoje se encontra. Como um câncer, eles fizeram células dentro da Galeria e se instalaram definitivamente, tornando a Galeria num mercado de acessórios para seus seguidores: a EMO Point de Sampa City (...)”

Fiz esse preâmbulo todo pra dizer que fui à Galeria nesta quinta-feira novamente, e dessa vez não foi pra comprar presente pra algum amigo ou sobrinho roqueiro como das últimas vezes; foi para consumo próprio: eu estava à procura de uma camiseta do R.E.M. que me servisse. É isso aí. Eu que pouco me importo pelo que rola no pop/rock mundial vou, na próxima terça, dia 11, assistir no Via Funchal ao show dessa oitocentista banda norte-americana - e de certa forma, procurei estar “caracterizado” para o evento. A última vez que senti vontade de fazer a mesma coisa foi no século passado pra ver uma das apresentações do QUEEN (aquela banda do histriônico Freddie Mercury) no Morumbi – nem vou contar o ano que foi senão algum aluno ou amigo vai me achar antigo demais. Bom, mesmo me sentindo fora de contexto let me sing, let me sing my rock’n’roll…












segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Festa do Boi do Morro do Querosene

“Sim. Agora tá confirmado, mesmo!” Foi o que eu disse pra Carol e pra outros amigos que queriam saber da data da derradeira festa (do ano) do boi lá no Morro do Querosene - o pessoal do Grupo CUPUAÇU me enviou mensagem eletrônica avisando que a festa da “MORTE DO BOI” vai rolar no próximo Domingo, dia 09, a partir das 10 horas – com entrada franca e várias atrações.

Putz! Saber o dia exato dessas festas do Morro é coisa pra bom detetive; o povo do Querosene não tem website e os membros de sua comunidade do Orkut são os últimos a ter conhecimento de tudo. Cada um chuta uma data (equivalente a mesma do ano anterior) e sai divulgando como a correta. Teve uma vez que mobilizei uma tropa pra ir numa dessas festas e adivinhem o que aconteceu?

A coisa é mais ou menos assim: são três festas anuais; quando chega próximo do “Sábado de Aleluia” (antes ou depois) é a vez da festa de NASCIMENTO do Boi (ou Renascimento, ou Ressurreição) ; no mês de junho, antes ou depois do dia de “São João”, rola o BATIZADO; e próximo de Finados é a MORTE do Boi.

Pra quem não sabe, os festejos do Boi-Bumbá que acontecem na praça central do Morro do Querosene foi trazido pelo cantor, compositor, artista popular, diretor, ritmista, capoeirista maranhense Tião Carvalho, que montou também o Grupo Cupuaçu a partir das oficinas de danças brasileiras que rolavam no Teatro Vento Forte em 1986.

Fiz todo o colegial ali no Vigília (EE Vigília Rodrigues Alves de Carvalho Pinto) que fica encostada à rodovia Raposo Tavares. Meus melhores amigos e as minas mais interessantes moravam no Morro do Querosene – nem preciso dizer que eu não saía de lá. Nossa turma de alunos era dinâmica: fazíamos teatro (montamos não sei quantas vezes o “Auto da Compadecida” – sei falas inteiras até hoje – e a “A Inconfidência” – texto de criação coletiva), tínhamos uma banda maluca que tocava todo o repertório do Língua de Trapo e algumas coisas do Premê, e do rock nacional.

Nosso “QG”, onde bolávamos esquetes, perfomances, shows, e outras coisas (estudar, nem tanto), era na casa do Luiz no finzinho da rua Afonso. Os pais dele eram legais com a gente e nunca estavam em casa; preciso descrever algo mais... Minha única aflição, aliás, minha doce aflição era a bela irmã do Luiz - ela me achava inteligente e divertido e nada mais. Pobre Zezinho.

Bueno. Quando descobri as festas do Boi no Morro eu não estudava mais no Vigília e não via há muito tempo a minha turma, muito menos a irmã Luiz (lembro que eu trocava as últimas palavras do refrão daquela música que o Gonzaguinha cantava com seu pai, e ficava assim: “Minha vida é andar por esse pais pra ver se um dia ‘encontro a irmã do Luiz’...”).

Durante a década de 90 acho que não perdi um ano sequer, mesmo que eu fosse apenas numa das três festas anuais. Neste novo século não tenho conseguido manter essa regularidade, mas me esforço pra ir. Não quero perder o vínculo emocional que tenho com as festas do Morro e com o próprio Morro.

SERVIÇO:
Festa Morte do Boi do Morro do Querosene

Dia 9/11, a partir das 10h.
Rua Pe. Camilo (esquina com as ruas Cícero de Alencar e Frederico Pradel)
Vila Pirajuçara - Butantã.





quinta-feira, 30 de outubro de 2008

RANHETICES

Ando meio ranheta ou são as intolerâncias que devo creditar a minha (pouca) idade.

Primeiro: ontem, dia nacional do livro, na saída da estação Vila Madalena do Metrô, um sujeito me aborda e tasca, a queima roupa, aquela pergunta que me causa aversão: “você gosta de poesia?” Putzgrila! Tenho muita admiração e respeito por poesia e por poetas, no entanto sinto uma vontade danada de responder que “não” (por achar essa pergunta invasiva demais), porém acabo educadamente dissuadindo esse vendedor de livro de poesia (ou seria, poeta que vende seus livros de poemas). Pô, esses caras padronizaram a forma de abordagem? Parece que todos agem assim. E se eu tiver sem grana e sem tempo pra ver o livro do cara, o que devo responder? Ao invés de me interpelarem dessa maneira porque não me perguntam se curto leitura ou se tenho tempo pra ver seus trabalhos poéticos.
Outra: acho que sucumbimos de vez. Basta uma olhada nos hipermercados (Carrefour, Extra, Lojas Americanas, Pão de Açúcar, etc.) pra perceber que está chegando o dia do RALOIM. Chapéus de bruxas, máscaras de monstros, lanternas de abóboras, e mais uma infinidade de produtos pra comemorar uma data do calendário festivo norte-americano – até a 25 de Março sucumbiu. Há pouco eu botava culpa dessa submissão (ou invasão) cultural na proliferação dos cursos de inglês voltado para o público infantil. Mas ledo “Ivo” engano. Os maternais, as escolinhas particulares e até a rede pública de Educação Infantil (as Emeis) não resistiram; hoje, mesmo, entrei num ônibus com crianças de uma escola municipal fantasiadas pro Raloim. Meu, nem quero imaginar a minha reação quando algum pivete xexelento bater a minha porta apregoando “gostosura ou travessura”.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Desconcertos"


Meu quixotesco amigo Claudinei Vieira lança seu livro de contos DESCONCERTO, pela editora Demônio Negro, no próximo sábado, dia 1, no sebo do Bactéria, ali Praça Roosevelt. Concomitantemente vai rolar mais um encontro que esse meu caro amigo chama também de DESCONCERTOS; uma porradeira de gente boa apresentando (compartilhando) “paixões, vozes, letras, sons, músicas, poemas e artes”. Pessoas como: Marcia Denser. Marcelino Freire, Fabio Brum, Fernanda D´Umbra, Paulo de Tharso, entre outros estarão no lançamento, a partir das 15h.

Tenho enorme prazer de falar de Claudinei porque nos tempos de FFLCH-USP, era ele quem tava lá ocupando os espaços, não deixando que a sala de vídeo do departamento de História fosse apenas um local de apresentação de trabalhos escolares ou de outra coisa menos relevante. Durante alguns anos tivemos o prazer de ter (e ver) uma vasta programação cinematográfica de boa qualidade, com debates temáticos e outros eventos ligados a sétima arte. E tudo isso porque Claudinei apostou que podia transformar aquela sala de vídeo num cineclube (que recebeu o nome de Cineclube Pandora). O habitat dele agora é a Casa das Rosa, a Praça Roosevelt, livrarias e qualquer espaço que esteja ocioso (aí pode crer que ele vai ocupar, mesmo!), onde ele junta uma turma pra “praticar” prosa e poesia.

SERVIÇO:
Lançamento do livro DESCONCERTO: dia 1 de novembro, a partir da 15h.
Local: Sebo do Bac (Bactéria) - Praça Roosevelt, 127

PS: vai rolar Pockt-show com a banda FÁBRICA DE ANIMAIS


domingo, 26 de outubro de 2008

"NUS VESTIDOS"


Minha amiga Suzana Schmidt pede pra avisar da estréia no dia 6 de novembro, na Galeria Olido, do espetáculo de dança “NUS VESTIDOS”, em comemoração aos 10 anos do grupo MINIK MOMDÓ. "Nus Vestidos é visto como a metáfora da harmonia dos opostos, partindo de um processo de investigação sobre os conflitos: o grotesco e o belo, os arquétipos sobre o masculino e o feminino, a união dos opostos no casamento, o casamento como contrato social e religioso em oposição ao desejo de união pela manutenção e exploração da sexualidade. Daí os trajes de casamento e a as danças de corte como o minueto (dança barroca) em uma relação de construção e desconstrução."

Suzana, que faz assistência de direção, diz que vai rolar várias apresentações em locais diferente. O legal é que a entrada será sempre gratuita; só que tem que chegar uma hora antes pra garantir o ingresso (o teatro do Olido é pequeno e comporta apenas 60 pessoas por sessão)

SERVIÇO:
“Nus Vestidos”
com o grupo MINIK MOMDÓ
Intérpretes: Andrés Perez Barrera, Fabíola Camargo, Fernando Delabio, Gustavo Fioretto, Leonardo D’Aquino, Mariana Delgado, Thaís Ponzzoni e Vanessa Carvalho
Direção e concepção: Maria Mommensohon
Músicos: Klaus Wernet e Rodrigo Reis
Assistente de direção: Suzana Schmidt
Figurino: Fernando Delábio
Desenho de luz: Décio Filho
Preparação / dança barroca: Osny Junior
Preparação corporal: Fabíola Camargo
Operação de luz: João Manuel
Material gráfico: Adriana Hitomi
Fotos: Marcos Gorgatti
Produção: Cassia de Souza
Dias: 6, 7, 8, e 9 de novembro
Local: Galeria Olido (Sala Paissandú)
Horários: quinta, sexta e sábado (às 20 horas) e domingo (às 11h e 19 horas)
Av. São João, 473 – Centro/SP – Tel: (11) 3331-8399

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Alguém aí...

Alguém aí vai à (chiquíssima) feira de antiguidades da loja Daslu nesta semana? Alguém aí concordou com o desfecho da “operação (tabajara) de resgate” liderada pelo coronel José Felix da Tropa de Choque da PM, em Santo André? Alguém aí tem tempo e grana pra assistir as 350 produções que serão exibidas nesta 32ª Mostra Internacional de Cinema de Sampa? Alguém aí concordou com o manifesto do ator Pedro Cardoso contra a nudez no cinema brasileiro? Alguém aí ficou realmente comovido pela não gravidez de Ivete Sangalo? Alguém aí sabe me dizer a diferença entre o candidato republicano, McCain, e o democrata, Obama? Alguém aí ainda acredita que os japoneses matam baleias em águas internacionais somente para pesquisas científicas? Alguém aí confia no discurso de Lula afirmando que o Brasil não sofrerá com a crise financeira mundial? Alguém aí sabe se esse é o melhor momento pra comprar ações na bolsa de valores da Chechênia? Alguém aí acha que Lula deve “tomar” algumas medidas drásticas neste momento de crise? Alguém aí se divertiu (como eu) com o confronto entre as policias Civil e Militar na semana passada? Alguém aí conhece algum malufista que jure de pé-junto que o velho político (do estupra, mas não mata) “não” tem dinheiro em paraísos fiscais? Alguém aí duvida que, o vitalício manda-chuva da CBF, Ricardo Teixeira é o nosso verdadeiro presidente da República? Alguém aí matricularia seus queridos pimpolhos numa escolinha de futebol do professor Dunga? Alguém aí deixaria seu nome num abaixo-assinado online pela permanência de Rubinho Barrichello na equipe Honda? Alguém aí tem o conhecimento de que há três tipos de garotas maçantes: a chata, a muito chata e a Luana Piovani? Alguém aí crê na sinceridade de Boy George quando ele pede que George Michael e Amy Casa-do-vinho larguem as drogas? Bueno. Alguém aí acha que eu não tenho nada o que fazer?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

SATYRIANAS 2008


“Saudade de Parlapatões” Esse foi o recado eletrônico que recebi de minha amiga Carol - assim mesmo; numa frase curta. Porém nada misteriosa: Parlapatões é um competente e badalado grupo teatral paulistano que agora partilha espaço com outras trupes teatrais ali na Praça Roosevelt, no centro velho de Sampa. Na verdade, o que Carol quis dizer era o prazer por nós descoberto pelo agito cultural – teatral – que a praça representa e nos disponibiliza. Num bate-papo recente concluímos que nos tornamos “público de teatro”: isso porque, no passado, éramos apenas “freqüentadores casuais” - antes das trupes se instalarem na Roosevelt, a acessibilidade a espetáculos teatrais de qualidade (e por preços não excludentes) era coisa rara na cidade.

E outra coisa legal que surge com esse movimento da praça é o prazer de freqüentar o antigo centro sem neura, apesar de o projeto de revitalização da Roosevelt (a praça tá mal iluminada e caída aos pedaços) não deixar de ser promessa de prefeituras.
E uma das atividades culturais mais legais que rola na praça já virou tradição no calendário teatral da cidade: o festival SATYRIANAS, uma maratona de teatro que chega a sua nona edição (este ano vai de quinta-feira próxima, dia 23, até o domingo, dia 26). Os Satyros, que são os mentores desse evento, e que já estão a mais tempo na praça, aproveitam a ocasião pra comemorarem 20 anos de existência.

A maratona conta com uma extensa programação de peças, debates, cafés literários, oficinas e jam sessions que podem ser conferidas nas redondezas dos Satyros. Ao todo, 21 teatros são parceiros nesta edição, como o Espaço Parlapatões, a Casa Café e Teatro, o NexT e o Teatro da Vila. Neste ano duas tendas montadas na praça vão abrigar o projeto Dramamix (que apresenta textos curtos de uma em uma hora durante os quatro dias), o Curta na Praça (que difunde produções recentes de curtas-metragens independentes).

Confira a programação completa no site http://www.satyros.com.br/.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

“AS ROSAS (NÃO?) FALAM!”

Pra quem gosta de efemérides este ano é o que há: tem os cem anos de morte do Machado de Assis; cem anos da imigração japonesa; duzentos anos da vinda da corte portuguesa; vinte anos da promulgação da nova constituição brasileira; 500 anos do início da pintura da Capela Cistina, em Roma, por Michelangelo; 90 anos do fim da 1ª Grande Guerra Mundial; 80 anos do rato Mickey; 60 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela ONU; 40 anos do assassinato de Martin Luter King, entre outras. Mas, cá pra mim ( e que me perdoe o Grande Machado), farei reverencia tão somente a Angenor de Oliveira, carioca que nasceu no Catete, mas que celebrizou o morro da Mangueira. É claro que falo de mestre CARTOLA; neste sábado, dia 11, ele completaria cem anos se estivesse vivo.

“A sorrir, eu pretendo levar a vida...” Havia um simpático sapateiro do lado de casa que cantarolava sempre esse trecho da canção "O Sol Nascerá" de Cartola, só que à época eu não sabia a autoria; depois, no início dos anos 80, fiquei fascinado ao ouvir pela primeira vez “O Mundo é Um Moinho”. A partir daí fui querer saber da autoria daquela pérola; e pra minha alegria descubro que o autor dessa duas canções é o mesmo compositor da clássica “As Rosas Não Falam” (uma das canções mais belas em língua portuguesa).
Não tenho interesse de falar aqui da importância de Cartola no cenário musical brasileiro, ou de sua biografia, isso porque já tem muita gente que fez (e ainda faz) esse tipo de levantamento. De legal, gosto mesmo é de contar alguns “causos” do mestre: por exemplo, a de como ele compôs “As Rosas...”.
A história dessa canção começou numa tarde de 1975 em que o compositor Nuno Veloso apanhou Cartola e sua mulher Zica para um passeio na Barra da Tijuca, onde pretendia visitar Baden Powell. Não tendo encontrado a casa do violonista, Nuno resolveu aproveitar a viagem para passar numa floricultura e comprar para Zica umas mudas de roseira que lhe havia prometido. Tempos depois, flores desabrochadas dessas roseiras provocariam a indagação entusiástica de Zica ao mestre (“Como é possível, Cartola, tantas rosas assim?...”) e a resposta desinteressada de Cartola (“Não sei. As rosas não falam...”), que ele acabaria aproveitando como mote para a canção: “Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam / simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti...”

PS: Enquanto eu escrevia este texto meu MP3 tocava “Acontece”, “Não Quero Mais Amar Ninguém”, “Alvorada”, “Tive, Sim”, “O Mundo é Um Moinho”, e (é claro) “As Rosas Não Falam”.

Segue vídeo histórico onde mestre Cartola canta e toca (muito bem) “O Mundo é Um Moinho” a pedido de seu pai.http://br.youtube.com/watch?v=L8U1Y9PBfig

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

VOCABULÁRIO III


Os poetas e escritores Chacal, Marcelino Freire, Marcelo Montenegro, Paulo Scott avisam que o VOCABULÁRIO volume 3 (“Circo Poético Lingüístico”) – que vai rolar neste sábado, dia 11, a partir das 19, no B_ARCO seguirá assim: vários artistas farão leituras e performances. Mostrarão as várias caras e sotaques da palavra falada e musicada. Entre os convidados estarão GLAUCO MATTOSO, Antonio Vicente Pietroforte, Bactéria, Cadão Volpato, Carlos Carah, Fabio Weintraub, Fabio Brum, Henry Grazinoli, Marcelo Ariel, Marcelo Mirisola, Pedro Américo, Adriana Magalhães, Paulo Pessoa, Claudia Dorey, Tom Resende, Projeto DR, Ricardo Carlaccio e V de Verso.

E pra quem gostou do soneto de GLAUCO MATTOSO do post abaixo, não perca esse VOCABULÁRIO III porque, durante o evento, vai rolar o lançamento de A LETRA DA LEY, que é o quarto volume da série Mattosiana de sonetos temáticos. Em parte do livro, Glauco Mattoso faz uma releitura da contracultura musical, falando dos principais intérpretes e compositores do gênero mais anárquico e, ao mesmo tempo, mais comercial da história das artes.

Ps: Eu vou, mesmo que chova ou faça frio.

Serviço:
Vocabulário III
– dia 11 de outubro, a partir das 19h.
Espaço Cultural B_arco – rua Virgílio de Carvalho Pinto, 426. – em Pinheiros.
Igressos: 5 realitos.


terça-feira, 7 de outubro de 2008

Boa Companhia.

Nesta segunda-feira, a tarde estava chuvosa e fria, mas o motivo que me fazia enfrentar essas intempéries dava-se por essencial: meu bichano Léo não tem se alimentando bem, andou perdendo peso - o veterinário recomendou um tipo de medicamento para que não houvesse carência vitamínica em seu metabolismo, só que o tal remédio não se encontra em qualquer farmácia ou em pet-shops; no entanto, um balconista me deu a dica de uma grande pet na avenida Brig. Luiz Antonio onde, “com toda certeza”, eu encontraria a vitamina. Nada feito. Além de não ter o medicamento, os caras da loja nem o conheciam; o jeito é ligar pro veterinário e solicitar outra coisa. Já tava arrependido e puto por ter me deslocado até ali com aquele tempo horroroso (desde quando eu era Office boy, eu abomino ter que enfrentar ônibus e ir à cidade em dias de chuva), mas havia uma livraria no meio do caminho, no meio do caminho havia uma livraria, na qual entrei apenas pra desfazer o meu fastio (mesmo que eu não vá comprar nada, só o fato de entrar numa livraria já aciona em mim um dispositivo anti-estresse); conheço algumas pessoas como eu que andam também com uma listinha livros (de lançamentos ou não) para manuseá-los quando passar por um sebo ou uma livraria. (bueno... cada um com sua frescura!).

Fucei várias estantes e não encontrei um item sequer de minha lista – nada da coleção “Pequenos Craques” da editora Callis (série de livros que retrata a infância de grandes esportistas brasileiros, contando curiosos episódios sobre o caminho de cada um deles até o pódio – os primeiros craques são: Garrincha, Rivellino, Leônidas da Silva, Hortência, Magic Paula e João do Pulo), nem o “Canalha” de Fabrício Carpinejar; muito menos o novo livro do (antipático, para alguns) Marcelo Mirisola, o “Animais em Extinção”. Isso é o que acontece quando papelarias se metem a vender livros; cai a qualidade dos produtos (elas entopem as estantes de auto-ajuda, de esotéricos e outras superficialidades). Mas o aborrecimento (posso dizer “fúria”) voltou quando vi o mais visceral poeta, GLAUCO MATTOSO (na autobiografia, Manual do Podólatra Amador), sozinho, entre picaretas de aclamadas estirpes: Diogo Mainardi (“A Tapas e Pontapés”) e Oscar Niemeyer (olha só o nome do livro do comunista pelego, “Diante do Nada”). Ao lado desse centenário arquiteto estava Maria Izilda de Matos** (com o livro “A Cidade, a Noite e o Cronista") – a Zilda, como é mais conhecida, é professora especialista em história do Brasil do departamento de História da Fefelechi – USP. Atualmente coordena os cursos de pós-graduação, mas já foi diretora da cadeira de História e foi nesse período que caiu a máscara da dita-cuja. Ela, que se dizia militante da causas sociais, defensora dos frascos e comprimidos, se revelou reaça até o último fio de cabelo: logo que tomou posse no cargo acabou com o a venda de cerveja nas lanchonetes e nos Centros Acadêmicos do prédio de Geografia e História, tudo de uma só canetada (certa vez usou força miliciana – entenda-se: os seguranças – pra coibir a venda e o consumo de cerva num C.A., durante uma festa de recepção da calourada), isso sem mencionar outros imbróglios causados pela professora.

Chega! O Clauco não merecia aquilo (é possível ler seus belos sonetos mensalmente na revista Caros Amigos ou no seu website http://glaucomattoso.sites.uol.com.br/index5.html ). Senti-me na obrigação de lhe arranjar boa companhia; parti, então, a procura de poetas de sobrenome iniciado pela consoante “M”, mas foi em vão (isso porque o anta aqui se lembrou de poucos). Nenhuma Cecília Meireles ou então um João Cabral de Melo Neto pra acolhê-lo. Já tava eu xingando o dono daquela papelaria (disfarçada de livraria) quando encontrei, no meio de todo aquele “inutensílio”, a bela Ana Miranda (com seu “Desmundo”) e Alberto Marsicano (e suas “Crônicas Marsicanas”).
Finalmente me dava por satisfeito: achei figuras raras na estante daquela loja pro Glauco; de um lado ele poderia escutar a poética narrativa da história de Oribela (personagem que na adaptação de Alain Fresnot para o cinema comeu todo o pão que o diabo amassou), do outro, quem sabe, ele poderia ouvir a genial Cítara de Marsicano (músico, tradutor de Haikais, de William Blake e primeiro brasileiro mestre em Sitar, como é conhecido esse instrumento na Índia ). Enfim. Voltei pra casa um pouco molhado de chuva e com frio, porém orgulhoso de meu pequeno e singelo ato.

PS: Aqui deixo um soneto fodástico, pulsante e infeccioso de Glauco Mattoso (leia-o em voz alta, mesmo que seja mentalmente)


PARA A CRIAÇÃO DO MUNDO

Nem sei se foi Deus Pai ou foi Deus Filho
quem mais cagou no mundo a merda toda.
Só sei que quem criou quis ver-lhe um brilho
da cor de merda mole em toda a roda.

Com tudo que Ele fez me maravilho:
o Sol, a Lua, a Terra... Me incomoda
apenas o que entrou de afogadilho
quando Ele disse, exausto: "Que se foda!"

Nas plantas, caprichou; nos bichos, quase;
somente avacalhou quando, na fase
final, criou o Macho e deu-lhe a Fêmea...

Do fruto os proibiu provar e, puto
por tê-los pego em flagra, eis que Lhe escuto
um "Puta que os pariu!" como blasfêmia...


**ERRATA: Errei feio. "Maria Izilda de Matos" não é a professara "Zilda" da FFLCH

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um GIGANTE de verdade



















Eu queria, desde a última segunda-feira, escrever aqui sobre o baterista, percussionista e performer Gigante Brasil que morreu nesta semana, mas a Ajato (que agora pertence a "Tefonica" -urg!), a minha prestadora de serviço de banda larga, tem me deixado na mão; o problema, segundo a operadora, se encontra no modem que está na garagem do prédio e não ao lado do meu computador (eles dizem que está lá porque o prédio é antigo), que para o devido reparo tenho de esperar a visita técnica que demorará três dias (se o modem estivesse ao meu alcance, eu mesmo solucionaria o enguiço).
Pra quem não o conheceu, Gigante tocou com Caetano, Gil, Arrigo, Mautner, Marisa Monte, Bocato, Alzira Espíndola, Celmar, Gang 90, Susana Sales, entre tantos... mas foi na banda Isca de Polícia, ao lado de Itamar Assumpção, que ele se destacou.
No dia 11 de setembro eu tive o prazer (e a sorte) de vê-lo numa de suas últimas apresentações ao lado de Paulo Lepetit tocando (e encantando) no show de estréia do disco Vamos Logo Sem Paredes! de Celso Sim - veja o filminho que fiz (logo no começo aparece Gigante) http://br.youtube.com/watch?v=uawz3UTXSjk

Ps: Republico aqui o texto do músico e jornalista Luiz Chagas*, companheiro de Gigante na banda Isca de Polícia.

Ele não era gigante porque era grande. Era gigante. Mesmo.

"Em 1983, quando substituiu Osmar Santos no programa Balancê transmitido pela Rádio Globo, Fausto Silva vivia convidando a banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, para divulgar seus shows. Tanto o apresentador quanto o lendário sonoplasta Johnny Black eram apaixonados pelo baterista Gigante e seus solos de "buchesom" - que criava batendo a ponta dos dedos nas bochechas e usando a boca para modular os sons (foto à esquerda). Faustão criou um bordão,"o Gigante não tem esse nome porque é grande. Mas porque é gigante".

Jorge Luiz de Souza, o Gigante Brazil, é carioca da Mangueira, onde nasceu no dia 25 de abril de 1952. Ele jura que viu o "Mineirinho", o bandido que virou uma espécie de Robin Hood, seqüestrar caminhão de leite e distribuir para a molecada na favela. Chegou em São Paulo acompanhando Jorge Mautner e logo estava tocando percussão na banda Sindicato. Mesmo ao lado do baterista Edu Rocha, do contrabaixista Zé Português, do guitarrista Tadeu Passarelli e de outras feras, era impossível desviar os olhos daquele cara. Ele tocava com o corpo, os braços pareciam asas, cantava num grave que parecia vir de outra dimensão, entrava em transe e arrastava o palco e o público junto. No dia em que entrou na banda Isca eu falei "cara, eu sou seu fã" e ele com os dentões separados lascou "pára com isso, tio" - para ele os homens eram tios ou compadres, as mulheres comadres ou princesas. Eu e a torcida do Flamengo (ainda é a maior?) somos fãs. Quando entrei no camarim da Marisa Monte no ano passado alguém falou que eu tinha tocado com o Giga e ela - ai meu Deus, Ela! - largou todo mundo e veio me abraçar. "Ensaboa, mulata ensaboa" os dois cantaram juntos um dia.

Na segunda-feira, o dia em que o Giga não acordou, na porta do ateliê da Renata, sua mulher, o povinho da Vila Madalena se detinha embasbacado. Amoladores de faca, barbeiros, tomadores de conta de carro, gente que fica na rua. "O Gigante morreu?" O cara andava pelo bairro e todo mundo o conhecia. Todos os músicos que apareceram ali ou no velório, mesmo sem se conhecer, entoavam um monótono "eu toquei com o Gigante, e não tem igual". Os instrumentistas que dividiam com ele a "missa" das terças em Moema, apelido para a apresentação com várias entradas e que ia até de manhã, discutiam quem seria seu substituto - porque a "missa" tem que ter. Chegaram à conclusão que podia ser "qualquer um, já que ninguém, mas ninguém mesmo, toca igual". De fato. Seja em qual for a formação que participou, Gang 90, os derradeiros shows com Celso Sim, as Orquídeas, Ceumar, Alzira Espíndola, Bocato, a "norinha" Simone Sou, o parceiro Paulo Lepetit, com quem criou seu único (melhor?) trabalho solo Música Branca Preta e e etc. (Elo Music), o que se ouve é um mantra: "Não tem igual, tocar com ele é um luxo".

Uma de suas características era tirar som de qualquer coisa. Copos de metal, baldes, batentes de porta que levava para o palco. Como dizia Lepetit quando lhe pediam o mapa de palco, "qual o kit de bateria do Gigante? Ah, o que tiver".

*Luiz Chagas, 56 anos, tocou durante 27 com Gigante e não tem nenhuma reclamação. Só alegria.
Ps2: Aqui tem Gigante tocando na fantástica Isca de Polícia - clique http://br.youtube.com/watch?v=gBTZhkl5DHE

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Pituco Tá Em Tóquio [mesmo!]



Teve linguarudo que desacreditou, mas é verdade mesmo: o “Pituco tá em Tóquio”. Antonio Aquilino Freitas, o integrante mais histriônico do Língua de Trapo, popularmente conhecido como “Pituco”, está em Tóquio desde o começo dos anos 90. Pra quem viu poucas vezes a banda em ação (quem nunca viu... sorry!), Pituco era aquele japa rebolativo que emitia gritinhos tresloucados em Os Metaleiros Também Amam, Meu Amor (o que se esgoelava era o Laert Sarrumor), música essa defendida pelo grupo no festival da Globo de 1985 (clique pra ver vídeo http://br.youtube.com/watch?v=LCOlU0GO4T8). Além do humor de grande qualidade, o que me fascinava no Língua de Trapo eram os dois talentosíssimos vocalistas, Laert (que ainda continua à frente da banda) e Pituco; a extensão vocal desses dois impressiona. E o legal é que Tony Freitas (nome artístico de Pituco no Japão) não deixou de cantar; continua ativo, ele montou banda e canta MPB e Bossa Nova em bares e casas de espetáculos de Tóquio. Coloquei alguns vídeos aqui mostrando algumas fases de Pituco. Vejam e depois me digam que o cara “é” bom.

Ps: quando estive em Paris em junho, a canção que eu mais cantarolava era “Um Brasileiro em Paris” que segue abaixo.


1. Pituco, na década de 80, cantando "Um Brasileiro em Paris" (de Carlos Melo) http://br.youtube.com/watch?v=CTrPw0YMy8A

2. Cantando, em 1994, “Gabriela” (de A.C. Jobim), em Tóquio.
http://br.youtube.com/watch?v=rCZq2jpUnIk&eurl=http://blogdolingua.zip.net/arch2008-06-01_2008-06-15.html

3. Em 2008 cantando “Sina” (de Djavan), em Tóquio
http://blip.tv/file/1154009/

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

4 Dicas pra esta semana (de 22 a 28)

1. De 25 a 28 de setembro, das 10h às 22h, rola a PRIMAVERA DOS LIVROS no Centro Cultural São Paulo. Editoras de Sampa, Rio, Minas, Bahia, Santa Catarina e outros estados participam da já tradicional feira de livros, que neste ano será acompanhado de debates, oficinas e palestras. Local: CCSP, rua Vergueiro, 1000. Pra ver programação completa clique no http://www.centrocultural.sp.gov.br/primavera_25a28-09-2008.asp

2. Na Biblioteca Alceu Amoroso Lima vai ter sarau do Coletivo Maloqueirista no sábado, dia 27, das 16h às 22h. Eles vão aproveitar a ocasião para lançar a revista Não Funciona 17 - o barato do grupo é unir diversas linguagens artísticas (música, projeções, performances, artes visuais, instalações) usando como base a poesia. Mais informações no http://www.poesiamaloqueirista.blogspot.com/

3. De 23 a 25 de setembro acontece na sala 08 do conjunto didático de Filosofia e Ciências Sócias (FFLCH – USP) o debate O QUE RESTA DA DITADURA: A EXCEÇÃO BRASILEIRA. A programação é boa, conta com muita gente interessante (Paulo Arantes, Maria Rita Kehl, Marilena Chauí, Tales Ab’Saber, Eugênio Bucci, entre outros) mas os horários não ajudam muito: tem atividade a partir das 16h. O prédio da sociais fica na Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 - Cidade Universitária SP. Veja a programação (em PDF) no http://www.fflch.usp.br/df/site/agenda/arquivos/2008_09_08_O_que_resta_da_ditadura3.pdf

4. Nos dias 24 e 25 vão rolar as últimas apresentações do excelente Celso Sim (porque depois ele segue em turnê) que lança seu terceiro disco Vamos Logo sem Paredes! Nesses shows, ele canta faixas inéditas e faz uma linda releitura de Carinhoso (João de Barro e Pixinguinha); e posso afirmar tudo isso porque assisti esse mesmo show no último dia 11. Mais informações no http://www.celsosim.com.br/ - O SESC – Paulista fica na Av. Paulista, 119.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Povos e Avenidas



Maquiagem ou maquilagem? Pra minha mãe, minha tia Ilda e aquele bando de mulher que vinha em casa para as reuniões de venda dos produtos da Tuperwere e da Avon era a segunda alternativa – de acordo com o Aurélião, ambas derivam do francês, maquillage, e querem dizer a mesma coisa. Na verdade essa questão nunca perturbou meu sono, aliás, tão pouco me preocupo com esse tipo de subterfúgio feminino de embelezamento. Quero dizer: não é o adorno (o make-up) que prevalecerá no momento em que eu for distinguir a beldade; até acho legal aquelas mulheres que se maquiam sutilmente, que pouco parecem produzidas.
Já convivi com namorada que se pintava toda – com exagero - e que dizia apenas estar “realçando” os traços do rosto. Certa vez, uma amiga se chateou comigo porque pediu minha opinião sobre sua maquiagem, e eu disse a verdade: a pintura do rosto não era o problema, o que destoava era a roupa esportiva (calça e agasalho de moletom) com a maquiagem em demasia.
Mas não me importo mesmo. Nem quando ouvia gozação dos amigos por causa das minhas camisetas e de meu pescoço manchados de batom daquela namorada que não tinha controle da mão no instante do retoque; aliás, esses tipos de garotas estão eternamente retocando o batom nos lábios.
Eu não me arriscaria a presentear uma amiga ou uma namorada com esses cosméticos, pois acertar a tonalidade de batom ou do blush, a mim, seria uma missão impossível, um pouco devido ao meu daltonismo galopante.
E em Paris, Cris e Ângelo estavam com uma lista enorme desses produtos encomendadas por amigos e parentes - com exceção do meu irmão, que me pediu um vidrinho de Azzaro (que logicamente não dei a mínima para o pedido), ninguém me importunou com esse tipo de missão. E não é que justamente no dia em que sol e o calor se fizeram mais presente na Cidade Luz, Cris e Angelo resolveram entrar na SEPHORA da Avenue Champs Èlysées, uma das maiores redes de lojas de cosméticos do mundo, para cumprir o encargo.
Sem a menor disposição pra entrar no Sephora, repleto de madames empetecadas, preferi aguardá-los do lado de fora, sentando no banco da enorme calçada da Champs Èlysées.
A principio me aborreci, pois já estavam há quase um hora dentro da loja, e eu ali sozinho com suas bolsas. No entanto, o que se passava ao meu redor desfazia a chateação. De repente me deu vontade de cantar aquele refrão chiclete (que não sai da cabeça) daquela canção “aux Champs Élysées/ aux Champs Élysées...” Preferi ficar quietinho, já que havia um senhor de terno de linho branco ao meu lado no banco, reparando também o movimento intenso daquela calçada. Oras, pra quem já foi Office-boy e já freqüentou muito o centro novo e velho de Sampa (como eu), multidão não mete medo algum; mas o que rolava de diferente naquele lugar era a profusão de línguas e tipos.
Li em algum lugar que nos anos 70, Nova Yorque agregava povos de todos os continentes, e não o é mais devido as ingerências; suas políticas anti-imigratórias e sua caça desvairada e compulsiva a terroristas.
Como eu disse, naquele banco da Champs Élysées vi cores e línguas das mais inusitadas e estranhas. Duas negras esguias e belas se sentaram atrás de mim (era um banco com dois assentos) balbuciando um idioma o qual eu não conseguia dizer o que era, depois percebi que se travava do inglês, mas um inglês muito distante da origem. Noutro momento se sentou um grupo de maquiadores para um pitstop tabagista (em Paris também há leis severas anti-fumo). Alguns deles pronunciavam um francês com sotaque árabe, outros, possuiam uma forte ascendência indiana, nos traços e na fala. Por um instante lembrei-me daquela musica dos Mamonas Assassinas que dizia que “tem gay que é Mohamed...”, pois havia um maquiador árabe ultradesmunhecado naquele grupo. Vi até alguns patrícios, uns “ora-pois”, caminhando pela famosa avenida.
Todavia, com todas essas leis anti-terceiro-mundista, que a Comunidade Européia vem adotando, esse contato entre povos tende a se acabar, assim como foi em NY.
Bueno. E nesta última quinta-feira, dia 11, presenciei algo parecido andando pela avenida Paulista aqui em Sampa. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional ouvi gente falando o Chucrutês (alemão) e italiano; e na minha caminhada pela avenida até o Sesc-Paulista, onde eu iria assistir ao show do excelente Celso Sim, deparei-me com vendedores coreanos, bolivianos e dois cinegrafistas canadenses que filmavam um rapaz negro cantando (em playback) uma canção em francês. E o que me passa agora é a esperança de que não façamos o mesmo que os norte-americanos e os europeus.
Ah! Antes que eu me esqueça: aquele senhor alto e de terno de linho branco (parecendo um africano nato) que se manteve calado ao meu lado no banco da Champs Élysées esperava um amigo, e quando o tal chegou exclamou: “Ca-ra-lho, que trânsito foda dessa cidade!”

Segue um filminho de 1 minuto e 57 segundos que fiz enquanto caminhava pela avenida Paulista nesta quinta de muito calor - e, por coincidência, vejam também outro filme - de 1 minuto e 2 segundos - que encontrei no YouTube feito na Champs Èlysees, da mesma forma que o meu.

A foto debaixo é do mesmo lugar (e mostra o mesmo banco) em frente ao Sephora, em que permaneci por duas horas na famosa avenida parisiense.

Avenida Paulista.
http://br.youtube.com/watch?v=7BvTcu6Nsvw
Champs Élysées
http://br.youtube.com/watch?v=ogYrU7tBSq4


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

7 Rapidinhas sem tirar de dentro.

. Nesta sexta-feira, dia 12, à meia-noite, rola o lançamento oficial do Dossiê Rê Bordosa no Reserva Cultural (no prédio da Gazeta, Av. Paulista 900). Dossiê Rê Bordosa é um curta-metragem de animação, dirigido por Cesar Cabral, que já ganhou um monte de prêmios em festivais importantes como o Anima Mundi e Gramado. O filme será exibido à meia-noite e depois rola um coquetel, com a presença de vips como Angeli (criador e assassino da personagem), Grace Gianoukas (voz da Rê Bordosa), Paulo Cezar Pereio (Bibelô), o cartunista Laerte e Laert Sarrumor (que fez a voz do Bob Cuspe). Entrada franca. É necessário cadastrar o nome na lista através do link abaixo. http://www.rsvme.com/wsb.dll/12544/20080902160955000.htm

. E nesta sexta também rola o show de Siba (ex-Mestre Ambrósio) com a banda Fuloresta pro lançamento do segundo disco solo de Siba, “Toda Vez Que Eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar”. Vai ser no SESC – Vila Mariana, na rua Pelotas, 141, às 20h30. Custa de 3 a 12 realitos.

. No domingo, a nova diva do Samba Fabiana Cozza canta o repertório de seu segundo disco “Quando o Céu Clarear” (que eu já tenho – devidamente autografado – e recomendo). Essa vai ser imperdível porque vai rolar de graça no Jacaré Grill, na rua Harmonia, às 15h30, em Pinheiros.

. No domingo, o Duofel comemora seus 30 anos de vida num show totalmente de graça no Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro, 1000, às 18h. A dupla Fernando Melo e Luiz Bueno vai apresentar parte essencial do repertório dos 10 discos de sua carreira.

. E a partir do dia 11 de setembro começou o 1º Encontro Comunitário de Teatro Jovem da Cidade de São Paulo. O lance é o seguinte: o grupo de teatro de rua Pombas Urbanas, que tem sua sede na Cidade Tiradentes (na ZL), comemorando seus 19 de existência, reuniu 19 companhias teatrais do Brasil e da América Latina para promoverem espetáculos gratuitos, oficinas e discussões. O festival vai rolar na Praça do Correio, na Galeria Olido e no Centro Cultural Arte em Construção da região Leste. Confira programação no http://www.semeandoasas.pombasurbanas.org.br/

. E tem reestréia de “Aos Ossos Que Tanto Doem no Inverno” nesta sexta-feira, no Espaço Satyros I, na praça Roosevelt, 214. Vai ser uma curta temporada até o dia 29/09. O texto é de Sérgio Mello interpretado por Mário Bortolotto e Nelson Peres, que conta a história de um viúvo deprimido que acabou de ser assaltado. Eu já vi e recomendo, pois o final é surpreendente. O Marião diz que a peça é “difícil e bacana de fazer. Sofrida, mas gratificante. Ruim de explicar os motivos.”

. E não se esqueçam: hoje tem exibição do documentário Beleléu Cá Entre Nós – Itamar Assumpção Antes do Nego Dito, às 19h. Grátis. E amanhã, Show-Tributo ao Nego Dito às 18h, também de Grátis; na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Avenida Henrique Schalmann, 777 – Pinheiros (esquina com a rua Cardeal Arcoverde).
Tel. 3082 5023.
E hoje também tem Sem Pensar, Nem Pensar: musical com letras inédita de Itamar Assumpção (com Sérgio Molina e Miriam Maria) no SESC – Pinheiros, às 20h30, com preços entre 2,50 e 10 pilas.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

E temos mais Nego Dito

E temos mais programação em homenagem a Itamar Assumpção, só que esta que segue abaixo foi enviada pelos queridos Márcio e Carmem.


"Caros amigos, há uns meses atrás tivemos o prazer de acompanhar uma apresentação muito bacana numa das unidades do SESC. Tratava-se do show "SEM PENSAR, NEM PENSAR", concebido pelo Itamar Assumpção, com letras inéditas de sua autoria, musicadas posteriormente pelo Sérgio Molina, interpretadas pela Miriam Maria, acompanhados por outros músicos... Foram poucas apresentações, num momento em que os caras estavam ainda tentando lançar o CD/DVD... Neste mês, eles voltarão a se apresentar e quem sabe até já tenham conseguido o interesse de algum selo para o lançamento do trabalho em CD/DVD. É uma daquelas apresentações históricas que merecem ser conferidas, e para os apreciadores do estilo crítico-"àcido" do Itamar, imperdível!!!!!!!!!!
SESC PINHEIROS: 11 e 12 de setembro, às 20h30. Ingressos: R$10,00 / R$5,00 / R$2,50"




Nego Dito Beleléu


“Sozinho nesta cozinha/ em pé eu tomo um café/ na pia a louça suja me lembra da roupa suja no tanque que a vida é”

O melhor sinônimo de “infinito” (pra mim) é uma pilha de louça suja sobre uma pia (as domésticas que o digam). Na casa de minha mãe, quando se lavava a última louça do almoço, começavam-se a produzir outras da janta. É o tal “circulo vicioso” ou é a fenomenologia “cíclica” de Carl Jung, de onde se conclui que vivemos em um mundo de coisas e fatos que eternamente se repetem, sem a possibilidade de ruptura desse processo. Quem não tem na lembrança a imagem da vó ou da mãe ralando a barriga molhada numa pia de cozinha, hein? E esse, sem dúvida, é o drama de quem não tem alguém pra livrá-lo do infortúnio de uma pia cheia de louça suja.
Lembro sempre do Nego Dito Beleléu quando entro na cozinha de casa (e canto sempre esse mesmo trecho de “Noite Torta”), e é justamente de Itamar Assumpção que venho falar.
Recebi a programação de setembro da Biblioteca Alceu Amoroso Lima e lá será prestada homenagem aos 5 anos da morte do músico com a exibição do documentário, em curta metragem, Beleléu Cá Entre Nós – Itamar Assumpção Antes do Nego Dito - logo em seguida tem bate-papo com o diretor do curta, Fabio Henriques Giorgio, sobre os aspectos do processo criativo e a obra do compositor; tudo isso na próxima sexta-feira, dia 12. E no sábado, dia 13, justamente no dia em que Itamar comemoraria 59 anos, vai rolar uma celebração musical em torno do seu repertório, um Show-tributo em releituras dos “clássicos” e outras menos conhecidas do Nego Dito, com os músicos Renato Gama, Joana Flor, Tulipa Ruiz, Luiz Couto, Thiago Saraiva, Maurício Pascuet e Daniel Manzione.

Serviço:
Documentário Beleléu Cá Entre Nós – Itamar Assumpção Antes do Nego Dito dia 12, às 19h. Grátis.
Show-Tributo, dia 13, às 18h. Grátis.
Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Rua Henrique Schalmann, 777 – Pinheiros (esquina com a rua Cardeal Arcoverde).
Tel. 3082 5023.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Duas Sensações (minhas)

Angeli e Caco Galhado na "Falha" de S. Paulo de hoje




Povo Lindo, Povo Inteligente.



E foi lá no Cine Sesc que rolou, nesta segunda-feira, o lançamento do documentário POVO LINDO, POVO INTELIGENTE que conta a história de pessoas simples da periferia paulistana (como um funileiro, um motorista, um vigia, um taxista, uma secretária e um professor de escola pública) que se encontram semanalmente pra fazer poesia - gente do Capão Redondo, Jardim Ângela e São Luís que se denominam “cooperativa cultural da periferia”, ou “Cooperifa”, como é mais conhecida.

Não sei se vai entrar em algum circuito de exibição, mas de qualquer jeito recomendo o documentário dirigido por Sérgio Gagliardi e Mauricio Falcão (produzido sem nenhum patrocinador). Mas, se não der mesmo pra ver nalgum cinema, faça melhor: vá vê-lo ao vivo, in loco. É só dar uma chegada no Bar do Zé Batidão, lá em Piraporinha, periferia da zona Sul, onde há mais de 6 anos acontece, todas as quartas-feiras, o Sarau da Cooperifa.

Em outro papo que eu tive com o Sérgio Vaz, poeta e morador do bairro que idealizou esses encontros da Cooperifa, ele me disse que no princípio, as pessoas que apareciam no bar produziam poesias falando da dura vida de morador de periferia; “era porrada o tempo inteiro”. No entanto, agora, já percebem que através da poesia é possível falar de tudo, inclusive “das coisas íntimas”. No filme Sérgio Vaz diz que o sarau acontece num “bar” porque na periferia não existe outros locais de convivência, como clubes, associações – “o negocio é ocupar o que se tem”. Ele diz também que o objetivo da Cooperifa é reunir artistas da periferia e desenvolver atividades culturais, como teatro, fotografia etc.

Bueno. Eu já divulguei aqui outros movimentos populares – parecidos com a Cooperifa - envolvendo poesia em outras regiões de Sampa, mas não me custa dar a dica novamente: lá pelo Jardim Brasil, na Zona Norte, o amigo Rogério Nogueira se põe de mestre de cerimônia pro Sarau do CCJ da Vila Nova Cachoeirinha nos bares, nas praças e nas ruas da ZN. Com outros vinte e tantos poetas, Rogério sai sobre bicicletas a disseminar poesia pela Vila Maria e pela Vila Sabrina (pra saber mais - rogerionog@gmail.com). Em Sampa também rola o POESIA MOLOQUEIRISTA, um grupo de autores que criou o Centro de Ação In-formal (C.A.I-MAL); evento itinerante, com base na interação da poesia com outras vertentes artísticas como a música, o audiovisual, as artes plásticas e etecétera e tal. (confira no http://www.poesiamaloqueirista.blogspot.com/).

Serviço: Clique http://br.youtube.com/watch?v=xDwQIANeQuI pra ver reportagem sobre a Cooperifa em 3 partes.
Quem estiver interessado em comprar os livros Rastilho de Pólvora- Antologia Poética do Sarau da Cooperifa e Cooperifa, Antropofagia Periférica
de Sérgio Vaz mande um e-mail para: poetavaz@ig.com.br
O Sarau da Cooperifa rola na Rua Bartolomeu dos Santos, 797
Piraporinha - São Paulo
Tel.:(11) 5891-7403









quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Show do Língua de Trapo


Habemos Língua de Trapo inteiramente digrátis neste próximo sábado, dia 30. O show vai ser em comemoração ao aniversário de 448 anos do bairro de Pinheiros, e como a banda fez parte da geração de artistas conhecida como Vanguarda Paulistana - movimento de grande expressão que aconteceu no teatro Lira Paulista, um porão da Rua Teodoro Sampaio (em frente à Praça Benedito Calixto), convertido em teatro de 200 lugares, que se tornou, no início dos anos 80, uma espécie de centro cultural alternativo onde se encontravam não apenas músicos, mas representantes das diversas expressões artísticas da cidade -, o grupo apresentará “Conchetta” entre outras canções que lançaram na época do Lira (eles vão tocar músicas inéditas também).

Já falei muito do Língua aqui no blog, mas pra quem ainda não conhece, o LT é uma banda paulistana com mais de 25 anos de estrada e que se mantém mordaz e atual. Sempre com composições irreverentes, sarcásticas, irônicas; no palco apresentam paródias, piadas e esquetes com muito bom humor e um pouquinho de escracho.
Em 1982, a banda produz e grava pelo selo Lira Paulistana seu primeiro LP, LÍNGUA DE TRAPO, conhecido por “Azulão", por causa da capa, cuja imagem segue abaixo.

Estarei por lá, com toda certeza.

Serviço: Show Allegro Ma Non Trappo, de graça, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, em Pinheiros. Dia 30 de agosto, às 18h - dentro da Programação “Liras Paulistanas”, que comemora os 448 anos do bairro de Pinheiros.
Rua Henrique Schaumann, 777 - Pinheiros
(esquina com Rua Cardeal Arcoverde).
Tel.30825023





segunda-feira, 25 de agosto de 2008

TOCA RAUULL!


Dia atípico foi o de quinta-feira passada pra mim. Primeiro almocei pastel de feira com garapa geladinha - luto quase que bravamente contra a fritura que faz parte de meu cardápio alimentar desde a infância, mas as quintas sou derrotado vergonhosamente. Também pudera: as melhores barracas de pastel estão na calçada em frente ao meu prédio – como que um feitiço, o cheiro dessa iguaria sobe os dez andares provocando-me. Resistir é impossível – pelégo, mesmo.

À tarde tinha intenção de ver no cine Olido, na av. São João, uma retrospectiva de curtas de Agnès Varda, era o último dia e a programação durava toda tarde até as 21h. Pouco depois de uma da tarde fui acometido por algo parecido com o “efeito bandejão” (só quem freqüentou os bandejões dos campi da USP sabe o que é uma digestão estranhamente lenta – mas ninguém sabe o agente nauseativo que fadiga alunos e funcionários há anos); resultante da comilança de pastel. Nauseabundo perco as duas primeiras horas de projeção, no entanto, por coincidência, chego no exato momento em que centenas de “malucos belezas” que, concentrados em frente ao Teatro Municipal, se preparavam para sua 18ª passeata em homenagem a Raul Seixas, a “Passeata do Raul”, como é conhecida.

Foi o próprio Raulzito quem inspirou seus séquitos, quando, em 1972, saiu, juntamente com o mago brasuca, Paulo Coelho, caminhando pelas ruas do centro do Rio e de Sampa propagandeando a auto-zombativa canção Ouro de Tolo, do genial disco Krig-Há, Bandolo! Com a morte do roqueiro em 1989, seus fãs idealizaram no ano seguinte, pro dia 21 de agosto, a primeira passeata pelo centro paulistano. O evento pegou. Chegou até a entrar pro calendário festivo da prefeitura, mas parece que foi por pouco tempo. Como eu já disse aqui em outro texto, se você bolar um evento cultural que mobilize qualquer espaço público, os administradores públicos farão de tudo pra te desestimular: inventarão normas e regras pra que sua idéia não vá pra frente. O motivo é simples: se o que você propôs não calhar com o desejo impetuoso de autopromoção desses administradores pode esquecer, meu chapa.

Pouco importando com a ausência de mídia e com o ostensivo aparato policialesco, gente de todas as idades estavam mais a fim de tomar cerveja e cantar todo o repertório do músico do que chamar a atenção do público. Aquilo não se caracterizava como uma manifestação; tava mais pra um encontro de fãs. Só de sósias do roqueiro eu contei uns 10, mais metaleiros e punks ocupavam as escadarias do Teatro pra depois seguirem o percurso até a Praça da Sé.

Acompanhei a passeata ao lado de um senhor, fã do cantor, que veio do Paraná exclusivamente pra ver o evento com as netas. Ele se dizia impressionado com tanta “gente que nem sequer tinha nascido quando Raul cuspia nas estruturas”. Os próprios organizadores dizem que essa é a “única passeata do mundo em que ninguém reivindica nada”. Com a exceção de um pequeno grupo que gritou “Fora Kassab!” ao passar na frente da prefeitura no Viaduto do Chá, o evento rolou sem entreveros; não houve brigas, tumultuo e ninguém cuspiu em nada.







terça-feira, 19 de agosto de 2008

8 Rapidinhas do Chacal





1. um momento
pronto. passou.
outro momento.
pronto. passou.
mais um momento.
de novo. passou.
pra que tanto momento
se você não me sai do
pensamento ?

2. É PROIBIDO ROLAR NA GRAMA
O jeito é deitar e rolar

3. se quer,
fique.
eu que já não sei
sequer
ficar.

4. Rápido Rasteiro.
vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.
aí eu paro, tiro o sapato
e danço o resto da vida.

5. muitos lutam por uma causa justa
eu prefiro uma bermuda larga
só quero o que não me encha o saco
luto pelas pedras fora do sapato


6. A VIDA E MUITO CURTA PARA SER PEQUENA.

7. chegue-se
dispa-se
coma-me
vista-se
e
chispe-se

8. Osama nas alturas !