segunda-feira, 28 de junho de 2010

Um Ator


Neste fim de semana o teatro paulistano perdeu o ator Alberto Guzik. Abaixo reproduzo o texto que escrevi em fevereiro de 2009 depois que assisti ao excelente monólogo da “Velha”, peça que Guzik estreara, na ocasião, no teatro Satyros. A última vez que me encontrei com Guzik foi nas Satyrianas de 2009, ele bebia vinho numa mesa de um bar da Praça Roosevelt, então, um pouco atrasado, faço um brinde a Dioniso, a Guzik.

“Putz! De forma alguma levo a sério o que críticos da Falha de S. Paulo escrevem diariamente sobre filmes, shows, teatros, etecétera e tal. Não tenho mais a assinatura do Estadão, mas quando tinha não respeitava seus críticos também. Se eles dizem que tal show ou determinado espetáculo é desprezível não dê atenção, se botam quatro estrelinhas para qualificarem positivamente filme de diretor badalado desconfie.
Acho que, tanto aqui como no resto do mundo, crítico profissional (e "homens-do-tempo") não goza de confiabilidade e respeito. Deve ter um monte de razão para isso acontecer, e não vou, aqui, meter o meu bedelho pra falar desse assunto do qual não domino – porque pra fazer a “crítica da crítica” é necessário um conhecimento mais profundo da atividade e fundamentalmente de Arte.

Bueno. Mesmo com todos esses maus predicados da profissão quero falar bem de Alberto Guzik. Conheci pessoalmente esse cara na Flap 2006, ali no Satyros da Roosevelt. Rolava um debate e ele falava sobre produção de texto teatral e de sua longa carreira de crítico dessa área. O que diferencia Guzik é que ele dá a cara pra bater; nesta quarta-feira, dia 11, ele estréia MONÓLOGO DA VELHA APRESENTADORA no Satyros I. O texto é de Marcelo Mirisola e mostra o desabafo da velha Febe Camacho, que vem do teatro de revista e dos tempos históricos da televisão brasileira - ela está furiosa porque sua empregada foi seqüestrada e exigem dinheiro para liberar a mulher.

Guzik já atuou em "Toda Nudez Será Castigada" – de Nelson Rodrigues; "On The Road" – baseado em obras de Sam Shepard; "Traições" – de Jarbas Capusso Filho; "Atire a Primeira Pedra" – baseado em A Vida Como Ela É, de Nelson Rodrigues.
E pra quem não se lembra (ou não o conhece) Guzik tá há muito tempo falando de teatro em programas da TV Cultura – Metrópolis e Vitrine.”

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Mais Libertações - Bookcrossing

Diferentemente do que fiz dessa vez informo antecipadamente aqui os títulos dos livros que libertarei nesta semana. Assim, se alguém se interessar por alguns deles deixe um recado no blogue. Depois é só entrar no sitio do http://www.bookcrossing.com.br/ registrar o número do livro e boa leitura. Atenção: Esses livros que estou libertando são "livros" de verdade (não são virtuais). Infelizmente estou deixando-os somente em Sampa. A idéia é: se alguém por aqui se interessar a gente dá um jeito de entregar. Mais informações sobre o bookcrossing leia o post "Livro-Livre" de 17 de maio.



ACIDENTE – NOTÍCIAS DE UM DIA de escritora alemã Christa Wolf conta a história de um alemão que está a espera de um telefonema do hospital onde seu irmão está passando por uma cirurgia no cérebro, em vez disso recebe a notícia do acidente nuclear em Chernobyl, a mil milhas de distância de onde ele estava. No espaço de um único dia, em um lírico, potente fluxo de pensamento, o narrador enfrenta mortalidade e vida e, acima de tudo, a importação de cada momento vivido em aberto.





O NOVIÇO de Martins Pena é uma das poucas peças do autor em três atos. Ela gira em torno da deslealdade de Ambrósio que se casa por interesse com Florência, rica viúva, mãe da jovem Emília, do menino Juca e tutora do sobrinho Carlos, este o personagem principal da peça. O vilão Ambrósio já havia convencido a mulher a colocar Carlos (o noviço) em um seminário. Agora quer também internar Emília em um convento, pois ela se encontra em idade de casar e teria de receber um dote significativo da mãe. Igual destino aguarda o menino que deve se tornar frade. Assim, Ambrósio ficaria com toda a fortuna de Florência.





JAIME BUNDA AGENTE SECRETO do escritor angolano Artur Pestana, que assina “Pepetela”, é a história de um membro de uma família tradicional angolana cujo apelido faz óbvia referência a sua anatomia. Graças a uma rara capacidade de observação dos detalhes, e pela influência do primo, um figurão do governo, Jaime consegue o cargo de detetive estagiário do serviço secreto angolano. Cansado após dois anos de estágio sem muitas atribuições e tendo de agüentar a gozação dos colegas investigadores, Bunda, por fim, recebe a oportunidade de provar que é competente, em seu primeiro caso importante: desvendar o estupro e assassinato de uma adolescente. Diversão garantida.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

SARAMAGO SEM SER AMARGO


Na Flip de 2009, o mediador da mesa mais esperada, da qual participaria o escritor português Antonio Lobo Antunes, ironizou os organizadores da premiação do Nobel dizendo que eles cometeram um “erro de português” ao indicarem José Saramago vencedor do prêmio em 1998, causando risos na comedida (e aburguesada) platéia da famosa festa literária brasuca. É certo que muita gente confunde (intencionalmente) o escritor Saramago com o comunista Saramago, que mesmo após a queda do muro, do colapso soviético, continuava defendo o socialismo; tanto que, quase 100% das críticas dirigidas a ele advêm de um “ódio” irracional ao seu posicionamento político e não à sua obra literária. Acho normal quando a igreja Católica desce a lenha no ateu Saramago, já que ele nunca fez questão de esconder sua insatisfação (irritação) às “frivolidades” da igreja, dizendo que a bíblia não passa de “um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade” - o que vem desse entrevero, para mim, é chumbo trocado dos bons.

Ao mediador da Flip, eu afirmaria que só cheguei (assim como muita gente que conheço) a Lobo Antunes, graças a Saramago. Sim, porque minha geração não teve informação alguma sobre autores lusos contemporâneos – nosso acesso era somente aos patrícios do passado: Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Camões e Bocage, isso de forma imposta em sádicos cursos pré-vestibulares. Pessoa, até dava barato, mas os outros... Bom. Saramago, no meu caso, foi arrebatador. O primeiro título que parou em minhas mãos foi “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, uma bomba. Na seqüência, li “Memorial do Convento” (outra bomba) e não parei mais. Assim sendo, naturalmente chegaram a mim (e eu gostei muito) os lusos José Luis Peixoto, José Eduardo Agualusa, João Melo, Mia Couto e, principalmente, Lobo Antunes.
Em 1997 estive num bate-papo sobre literatura no Mackenzie, aqui de Sampa, com a presença de Chico Buarque, Sebastião Salgado e José Saramago. O meu preconceito contra aquela histórica (e conservadora) faculdade me dizia que aquele encontro não acabaria bem, principalmente para o escritor português e suas convicções socialistas, agravado por sua pirra à igreja Católica. Ledo (Ivo) engano. Saramago não apenas foi reverenciado pelos alunos daquela escola, como fora o mais requisitado para autógrafos e afagos, após o evento – isso um ano antes de receber o Prêmio Nobel. Eu, que pensei num possível furor das moçoilas devido aos lindos olhos azuis de Chico Buarque, me dei mal.

Quanto a um possível radicalismo ideológico do escritor, eu lembro bem de sua declaração após o fuzilamento de dissidentes pelo governo cubano: “Cuba não ganhou nenhuma heróica batalha fuzilando esses três homens, mas perdeu a minha confiança, destruiu as minhas esperanças e defraudou as minhas expectativas". Depois que declarei meu desligamento incondicional ao Partido dos Trabalhadores, alguns amigos me perguntam se adotei nova sigla: de bate pronto respondo que sigo o mesmo partido de Saramago: o “PCP, Partido do Cidadão Preocupado, de tendência ultra pessimista”.

Então, meus amigos, nem preciso dizer que estou triste pela morte desse prolífico escritor. Quem quiser saber mais sobre Saramago eu indico “Caderno de Lanzorote I a V”; são os diários onde o escritor fala de seus amigos, da família e de sua condição de auto exilado em Lanzarote (uma ilha espanhola no Atlântico), depois de ter seus livros censurados pelo governo português no começo dos anos 90. Apesar de tudo, não percebi vestigio algum de amargura em tudo que li do escritor.

terça-feira, 8 de junho de 2010

FALSO DON JUAN

Abaixo, uma diminuta e deliciosa prosa desventuresca do macho perdido, o homem contemporâneo, que está em "Chabadabadá", atual cria do escriba Xico Sá, livro lançado ontem na Livraria Cultura.

“O Homem, a Lenda, o Mito do Falso Don Juan”

Uma das coisas mais hilárias, para não dizer infantis, dos modos de macho e os seus bê-á-bás, é o caso do falso don Juan. O homem, o mito, a fraude. Narrativas eróticas que jamais aconteceram à vera, apenas e tão somente na garganta, riacho de muitos peixes grandes, do contador de vantagens. A nossa mania começa logo nos verdes anos, na mentira de que não somos mais donzelos, e daí levamos ao túmulo, incorrigíveis e tarados Brás Cubas. No princípio, é uma vergonha assumir a virgindade no meio de tantos machões que nos desfiam suas epopéias com o mulherio. Aí contamos também a nossa “vasta experiência”. Não somos nada bocós ou bestas. Um amigo relata no botequim que traçou uma flor do bairro ou a gostosa da firma; ouve e coro ridículo carregado de chope, caldinho, torresmo e testosterona à milanesa: “comi muiiiito!” O falso don Juan é a doença infantil e incurável do machismo. Todo homem, assim como todo pescador que se preza, tem sempre uma aventura maior que a vara.

Serviço: ChabadabadáAventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea que se Acha. Editora Record - R$ 38,00 realitos na Livraria Cultura (com cartão Mais sai por 30 paus)


Mais BookCrossing



Depois da alegre e desordenada parada gay de domingo, fui ver o interessante “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo” de Marcelo Gomes e Karim Aïnouz; um road-movie sobre a história do geólogo (que não aparece em cena) que é enviado para realizar uma pesquisa de campo por várias cidades do sertão nordestino, lugares que serão desapropriados para construção do canal que vai transpor as águas do velho Chico. É bem bacana a relação que ocorre entre moradores desses locais com o geólogo, que aceita o trabalho após um fatal pé na bunda que levou da esposa.
No metrô, voltando pra casa, foi a vez de libertar “A Esfinge”, de Afrânio Peixoto. O livro, lançado em 1911, “fala do eterno conflito entre o homem e a mulher que se desejam, transposto para o ambiente requintado da sociedade carioca, em Petrópolis. Política, negócios, assuntos literários e artísticos, viagens ao exterior, são assuntos tratados no livro”. O maluco de tudo isso, que eu pouco consegui pesquisar (no São Google), é a suspeita que recai sobre Afrânio Peixoto (1876-1947) de que teria forjado sua eleição para imortal da Academia Brasileira de Letras pouco antes da publicação de “A Esfinge”, seu primeiro romance. O crítico literário e historiados Brito Broca (1903-1961) e João Ribeiro (1860-1934), um dos fundadores da ABL, disseram que “muitos entravam para a Academia por ‘portas travessas’, dois deles sem qualquer livro publicado: Graça Aranha e Afrânio Peixoto, que entrou para a Academia por meio da deslavada falsificação (...) Para justificar a eleição, Afrânio Peixoto escreveu rapidamente [em 3 meses] e publicou o romance ‘A esfinge’”.
Foi libertado também no metrô “Contando a Arte de Marcos de Oliveira”, de Oscar D’Ambrósio. Um livro biográfico/artístico (quase um catálogo) do talentosíssimo M. Oliveira (nascido em Ibiaporã, Mundo Novo, Bahia, em1980) que utiliza a figura do cangaceiro e da mulher brasileira como temática principal. O legal do trabalho desse jovem artista plástico é a intensidades das cores e a forma continua que apresenta seus personagens.

Ps: Bueno. Atendendo aos pedidos dos leitores do blog, a partir da próxima semana, em todas as segundas-feiras, vou relacionar aqui (com resenhas e fotos) os livros do Bookcrossing que libertarei durante aquela semana. Se alguém se interessar por algum título é só entrar em contato comigo, certo?


segunda-feira, 7 de junho de 2010

"CHABADABADÁ"


Hoje, logo mais à noite, vou ao lançamento da recente cria do escriba mais porreta do Crato, Xico Sá. “Chabadabadá” que tem o subtítulo “Aventuras e Desventuras do Macho Perdido e da Fêmea Que se Acha” é um libelo condutor ao macho que se encontra perdido em auto-descrença, um “GPS” motivacional, filosofal, que trata da tragicomédia do atual mundo masculino apontando soluções que cabem a esse macho e, por tabela, à cria de sua costela. Originalíssimo, Xico nos lega um guia com trilha sonora (do filme “Um homem, Uma Mulher”de Claude Lelouch) , falando de todos esses entreveros prementes como fosse numa conversa de botequim. Como diz a bela orelha de Andrea Del Fuego, “Xico Sá é um colecionador de costumes (...) um voyeur incomum que participa da própria cena observada”.
Eu já li Chabadabadá de cabo a rabo em dois dias; o duro foi extrair do meu cocuruto o refrão que se popularizou nos anos 70 “...quem sabe sábado ela dá, sábado ela dá...”
Serviço: Lançamento, hoje, dia 07/06, de “Chabadabadá” na Livraria Cultura do Conjunto Nacional - Avenida Paulista, 2073 – a partir das 18h30.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Fatalidade


Ontem, quando fiquei sabendo do assassinato do escritor paranaense Wilson Bueno, nada atinei de sua morte, pois julgava desconhecê-lo. Mas lendo os comentários sobre a fatalidade da qual vítima, descobri que o cara fora o criador de um dos melhores jornais de poesia, conto e crônica que já pararam em minhas mãos. Tô falando do NICOLAU, um suplemento cultural famosíssimo nos anos 80 e 90. É fato que o Nicolau recebia apoio do governo estadual que bancava sua grande tiragem, no entanto tinha uma cara de independente. Um jornal fortemente regionalizado com toques da produção cultural de outros estados. A primeira vez que peguei um exemplar do Nicolau foi quando eu me preparava para o vestibular da PUC-SP, em 1987; se não estou enganado, a edição trazia o conto "ONÍRICO" de Caio Fernando Abreu. Foi no Nicolau que ouvi falar pela primeira vez de Dalto Trevisan, Mário Quintana e Alice Ruiz - nem preciso dizer que Paulo Leminski era personalidade constante no jornal. Bom. Não tenho certeza, mas acho que Nicolau não existe mais, pelo menos com o mesmo peso de antes. Numa entrevista ao site literário TRÓPICO, Wilson Bueno disse que o jornal foi até 1994 “quando entrou o [governador] Jaime Lerner, que colocou para secretário [estadual de cultura] um velho caduco, que praticamente expulsou a mim e a minha equipe” do suplemento. Além do conteúdo de primeira (divulgador de contos, poesias, resenhas, entrevistas, ensaios fotográficos, e HQs), Nicolau tinha um projeto gráfico inovador que impressionava, diferente, e muito antes das inovações tecnológicas da webdesign. Entre as quinquilharias que guardo há anos, com toda certeza, há algum exemplar do Nicolau perdido.
Wilson Bueno tinha 61 anos e escreveu mais de 10 livros, entre eles se destacam “Mar Paraguayo” de 1992, “Cristal” (1995), “Os Chuvosos” (1999), e de 2007,
“A Copista de Kafka”.