segunda-feira, 25 de agosto de 2008

TOCA RAUULL!


Dia atípico foi o de quinta-feira passada pra mim. Primeiro almocei pastel de feira com garapa geladinha - luto quase que bravamente contra a fritura que faz parte de meu cardápio alimentar desde a infância, mas as quintas sou derrotado vergonhosamente. Também pudera: as melhores barracas de pastel estão na calçada em frente ao meu prédio – como que um feitiço, o cheiro dessa iguaria sobe os dez andares provocando-me. Resistir é impossível – pelégo, mesmo.

À tarde tinha intenção de ver no cine Olido, na av. São João, uma retrospectiva de curtas de Agnès Varda, era o último dia e a programação durava toda tarde até as 21h. Pouco depois de uma da tarde fui acometido por algo parecido com o “efeito bandejão” (só quem freqüentou os bandejões dos campi da USP sabe o que é uma digestão estranhamente lenta – mas ninguém sabe o agente nauseativo que fadiga alunos e funcionários há anos); resultante da comilança de pastel. Nauseabundo perco as duas primeiras horas de projeção, no entanto, por coincidência, chego no exato momento em que centenas de “malucos belezas” que, concentrados em frente ao Teatro Municipal, se preparavam para sua 18ª passeata em homenagem a Raul Seixas, a “Passeata do Raul”, como é conhecida.

Foi o próprio Raulzito quem inspirou seus séquitos, quando, em 1972, saiu, juntamente com o mago brasuca, Paulo Coelho, caminhando pelas ruas do centro do Rio e de Sampa propagandeando a auto-zombativa canção Ouro de Tolo, do genial disco Krig-Há, Bandolo! Com a morte do roqueiro em 1989, seus fãs idealizaram no ano seguinte, pro dia 21 de agosto, a primeira passeata pelo centro paulistano. O evento pegou. Chegou até a entrar pro calendário festivo da prefeitura, mas parece que foi por pouco tempo. Como eu já disse aqui em outro texto, se você bolar um evento cultural que mobilize qualquer espaço público, os administradores públicos farão de tudo pra te desestimular: inventarão normas e regras pra que sua idéia não vá pra frente. O motivo é simples: se o que você propôs não calhar com o desejo impetuoso de autopromoção desses administradores pode esquecer, meu chapa.

Pouco importando com a ausência de mídia e com o ostensivo aparato policialesco, gente de todas as idades estavam mais a fim de tomar cerveja e cantar todo o repertório do músico do que chamar a atenção do público. Aquilo não se caracterizava como uma manifestação; tava mais pra um encontro de fãs. Só de sósias do roqueiro eu contei uns 10, mais metaleiros e punks ocupavam as escadarias do Teatro pra depois seguirem o percurso até a Praça da Sé.

Acompanhei a passeata ao lado de um senhor, fã do cantor, que veio do Paraná exclusivamente pra ver o evento com as netas. Ele se dizia impressionado com tanta “gente que nem sequer tinha nascido quando Raul cuspia nas estruturas”. Os próprios organizadores dizem que essa é a “única passeata do mundo em que ninguém reivindica nada”. Com a exceção de um pequeno grupo que gritou “Fora Kassab!” ao passar na frente da prefeitura no Viaduto do Chá, o evento rolou sem entreveros; não houve brigas, tumultuo e ninguém cuspiu em nada.







2 comentários:

marisa disse...

Zeca, essa história do "Toca Raul" enche o saco. Por mais que não tenha nada a ver, sempre tem um maluco que grita isso no meio do show. Eu queria ver se essas pessoas teriam coragem de fazer o mesmo num show do João Gilberto.
Bjs.

ZECA LEMBAUM disse...

É verdade. Enche o saco,mesmo! Sempre tem um panaca que grita "toca raul" nos piores contextos.