segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Povos e Avenidas



Maquiagem ou maquilagem? Pra minha mãe, minha tia Ilda e aquele bando de mulher que vinha em casa para as reuniões de venda dos produtos da Tuperwere e da Avon era a segunda alternativa – de acordo com o Aurélião, ambas derivam do francês, maquillage, e querem dizer a mesma coisa. Na verdade essa questão nunca perturbou meu sono, aliás, tão pouco me preocupo com esse tipo de subterfúgio feminino de embelezamento. Quero dizer: não é o adorno (o make-up) que prevalecerá no momento em que eu for distinguir a beldade; até acho legal aquelas mulheres que se maquiam sutilmente, que pouco parecem produzidas.
Já convivi com namorada que se pintava toda – com exagero - e que dizia apenas estar “realçando” os traços do rosto. Certa vez, uma amiga se chateou comigo porque pediu minha opinião sobre sua maquiagem, e eu disse a verdade: a pintura do rosto não era o problema, o que destoava era a roupa esportiva (calça e agasalho de moletom) com a maquiagem em demasia.
Mas não me importo mesmo. Nem quando ouvia gozação dos amigos por causa das minhas camisetas e de meu pescoço manchados de batom daquela namorada que não tinha controle da mão no instante do retoque; aliás, esses tipos de garotas estão eternamente retocando o batom nos lábios.
Eu não me arriscaria a presentear uma amiga ou uma namorada com esses cosméticos, pois acertar a tonalidade de batom ou do blush, a mim, seria uma missão impossível, um pouco devido ao meu daltonismo galopante.
E em Paris, Cris e Ângelo estavam com uma lista enorme desses produtos encomendadas por amigos e parentes - com exceção do meu irmão, que me pediu um vidrinho de Azzaro (que logicamente não dei a mínima para o pedido), ninguém me importunou com esse tipo de missão. E não é que justamente no dia em que sol e o calor se fizeram mais presente na Cidade Luz, Cris e Angelo resolveram entrar na SEPHORA da Avenue Champs Èlysées, uma das maiores redes de lojas de cosméticos do mundo, para cumprir o encargo.
Sem a menor disposição pra entrar no Sephora, repleto de madames empetecadas, preferi aguardá-los do lado de fora, sentando no banco da enorme calçada da Champs Èlysées.
A principio me aborreci, pois já estavam há quase um hora dentro da loja, e eu ali sozinho com suas bolsas. No entanto, o que se passava ao meu redor desfazia a chateação. De repente me deu vontade de cantar aquele refrão chiclete (que não sai da cabeça) daquela canção “aux Champs Élysées/ aux Champs Élysées...” Preferi ficar quietinho, já que havia um senhor de terno de linho branco ao meu lado no banco, reparando também o movimento intenso daquela calçada. Oras, pra quem já foi Office-boy e já freqüentou muito o centro novo e velho de Sampa (como eu), multidão não mete medo algum; mas o que rolava de diferente naquele lugar era a profusão de línguas e tipos.
Li em algum lugar que nos anos 70, Nova Yorque agregava povos de todos os continentes, e não o é mais devido as ingerências; suas políticas anti-imigratórias e sua caça desvairada e compulsiva a terroristas.
Como eu disse, naquele banco da Champs Élysées vi cores e línguas das mais inusitadas e estranhas. Duas negras esguias e belas se sentaram atrás de mim (era um banco com dois assentos) balbuciando um idioma o qual eu não conseguia dizer o que era, depois percebi que se travava do inglês, mas um inglês muito distante da origem. Noutro momento se sentou um grupo de maquiadores para um pitstop tabagista (em Paris também há leis severas anti-fumo). Alguns deles pronunciavam um francês com sotaque árabe, outros, possuiam uma forte ascendência indiana, nos traços e na fala. Por um instante lembrei-me daquela musica dos Mamonas Assassinas que dizia que “tem gay que é Mohamed...”, pois havia um maquiador árabe ultradesmunhecado naquele grupo. Vi até alguns patrícios, uns “ora-pois”, caminhando pela famosa avenida.
Todavia, com todas essas leis anti-terceiro-mundista, que a Comunidade Européia vem adotando, esse contato entre povos tende a se acabar, assim como foi em NY.
Bueno. E nesta última quinta-feira, dia 11, presenciei algo parecido andando pela avenida Paulista aqui em Sampa. Na Livraria Cultura do Conjunto Nacional ouvi gente falando o Chucrutês (alemão) e italiano; e na minha caminhada pela avenida até o Sesc-Paulista, onde eu iria assistir ao show do excelente Celso Sim, deparei-me com vendedores coreanos, bolivianos e dois cinegrafistas canadenses que filmavam um rapaz negro cantando (em playback) uma canção em francês. E o que me passa agora é a esperança de que não façamos o mesmo que os norte-americanos e os europeus.
Ah! Antes que eu me esqueça: aquele senhor alto e de terno de linho branco (parecendo um africano nato) que se manteve calado ao meu lado no banco da Champs Élysées esperava um amigo, e quando o tal chegou exclamou: “Ca-ra-lho, que trânsito foda dessa cidade!”

Segue um filminho de 1 minuto e 57 segundos que fiz enquanto caminhava pela avenida Paulista nesta quinta de muito calor - e, por coincidência, vejam também outro filme - de 1 minuto e 2 segundos - que encontrei no YouTube feito na Champs Èlysees, da mesma forma que o meu.

A foto debaixo é do mesmo lugar (e mostra o mesmo banco) em frente ao Sephora, em que permaneci por duas horas na famosa avenida parisiense.

Avenida Paulista.
http://br.youtube.com/watch?v=7BvTcu6Nsvw
Champs Élysées
http://br.youtube.com/watch?v=ogYrU7tBSq4


2 comentários:

Laís disse...

Zezinho, querido, essa sua história com os cosméticos e os imigrantes é muito boa. Parabéns.

marisa disse...

Adorei o texto. Zé, fiquei com inveja de sua viagem a Paris. Tô relendo seus comentários sobre Paris e estão muito legais.