terça-feira, 24 de maio de 2011

Um de 70 outro 60

Amigos todos: corram pro www.tvcultura.com.br/rodaviva pra (re)ver o Roda Viva desta terça-feira que entrevistou o iluminado Ney Matogrosso. O cantor, que comera seus 70 anos de vida, falou abertamente sobre drogas (“só tomei 20 ácidos na vida. Cheirei muita cocaína mas nunca gostei, não era a minha”), sobre sua sexualidade (“eu transava com mulheres também com muita facilidade; eu nunca tive impedimento técnico – mas sempre temi a cabecinha delas”), sobre ser gay (“eu pedia pra Deus me matar e não me deixar ser homossexual”). Recordou a relação dolorida que manteve com o pai (“eu saí na porrada com ele. Porque ele me tratava como um escravozinho dele. Somos três homens e uma mulher e eu era o único que ele perseguia”), admitiu que foi hippie por convicção (“eu acreditava que aquilo apontava para outra direção na humanidade. Eu acreditava na solidariedade, no amor entre as pessoas”). Falou ainda sobre internet, twitter (“eu não quero ter seguidores, Deus me livre, parece seita”), sobre Aids e de como sobreviveu à doença (“eu fiz teste achando que eu estava, deu negativo. Como negativo?”). Foi uma entrevista deliciosa, com momentos doloridos, e é lógico que vai aparecer pentelhos falando isso e aquilo desse ser que é “sóbrio na vida e escandaloso no palco (ou vice-versa)”. Enfim. Confesso aqui que mi corazón bandido se viu emocionado em vário momentos da entrevista: eu que admirava o interprete, agora estou danado de carinho pela pessoa Ney Matogrosso.


Hoje completa 60 anos o marginal que profetizou que “a vida é curta pra ser pequena”, aquele poeta que ainda se pergunta “com quantas bocas se faz um beijo”. Esse tricolor inconteste, bom de bola (assim como o pai que foi campeão carioca em 1936 pelo glorioso Fluminense), que agora chega a seis dezenas de meses, se entendendo como um Lúcifer-carioca-zona-sul-defensor-amante-da-palavra-falada (“...pois a palavra escrita é uma palavra não dita/ é uma palavra maldita...), discípulo de Oswald de Andrade e Allen Ginsberg. Se nos proíbem de pisar na grama, ele assopra pra gente que o jeito é “deitar e rolar”. Não se afirma compositor, mas gosta das parcerias que fez com Fernanda Abreu (“A Lata” e “Be Sample”), com Mimi Lessa (“Vamp”), e com Moraes Moreira (“Leontina”). Conheci Chacal naquela histórica coleção “Cantadas Literárias” da Brasiliense, com o seu sucesso “Drops de Abril” de 1983. Depois, em 2010, reencontrei-o no cedê que veio encartado na Revista TRIP, onde descobri o CEP 20.000. É fácil se esbarrar no saltimbanco Ricardo Chacal que vive oficinando pela rede Sesc do país. Em fevereiro, procure-o nalgum bloco carnavalesco carioca; o folião mais histriônico na multidão com certeza é ele . Na Praça Roosevelt ou no Teatro Sérgio Porto também é possível vê-lo. No ano passado lançou suas memórias, “Uma História à Margem” (putz, isso me lembra que estou devendo algumas notas sobre o livro para ele). E não estranhe se num Vocabulário ele bradar what’s going on?? Allez, allez, tricolor!! Evoé, Chacal! Parabéns!!