sexta-feira, 15 de maio de 2009

Eu Quero Botar "Qualquer" Bloco na Rua

Eu tava a fim de escrever um texto bem bacana pra lembrar os 15 anos da morte de SÉRGIO SAMPAIO que é hoje, dia 15 de Maio. Tinha vontade de falar que, quando eu era criança, uma música muito diferente de tudo que rolava – que eu não sabia se era Samba, Rock ou MPB – me chamava a atenção. A voz do interprete parecia angustiada, carregada de uma fúria pessimista. Ele dizia que dormiu de touca, que perdeu a boca e que fugiu da briga; dizia que não era de nada, mas que não pedia desculpa. Me agradava aquele jogo de palavras da canção: “eu por mim queria isso e aquilo, um quilo mais daquilo, um grilo menos nisso, é disso que eu preciso, ou não é nada disso”. Achava estranho o refrão e não entendia a metáfora do “eu quero é botar meu bloco na rua”, se a música não era uma marchinha de carnaval. O certo é que o botar o bloco na rua era pra ver tudo mundo no mesmo carnaval sem medo da repressão que, aquela altura do governo Médici, era por demais violenta, que não permitia“brincar”, muito menos “gemer”. Bom. E o certo também é que eu não preciso escrever nada em homenagem ao Sérgio Sampaio; vou surrupiar e colar aqui o texto que o poeta Ademir Assunção postou em seu blog.


QUE MALDIÇÃO É ESSA, MISTER JONES?
Por Ademir Assunção.

Depois de amanhã (dia 15) faz 15 anos que Sérgio Sampaio morreu. Um gênio da música brasileira. Da estirpe de Itamar Assumpção, Luiz Melodia, Raul Seixas, Tim Maia. Músico e poeta sofisticado. Como poucos. Fama de maldito (ô, saco). Só porque se recusava a ser medíocre e vender sua arte e vida a prestações.
Lembro bem: quando eu tinha uns 12 anos, as emissoras de rádio tocavam sem parar “Eu quero é botar meu bloco na rua”. Caramba, aquilo era diferente de tudo. E olha que naqueles anos o rádio tocava coisa boa o tempo todo. Foi o maior sucesso de Sérgio Sampaio. E por isso muita gente diz que ele é compositor de uma só canção. Ignorância pura. Sampaio gravou Bloco na Rua (1973), Tem que Acontecer (1976), Sinceramente (1982) e deixou um outro, que foi lançado recentemente por Zeca Baleiro: Cruel (2006). E alguns compactos, além de Sociedade da Gran Orden Kavernista apresenta Sessão das Dez, com Raul, Miriam Batucada e Edy Star. Gravou poucos discos. Mas todos bons de ponta a ponta. Não tem uma música mais ou menos.

Jotabê Medeiros publicou ontem [terça, dia 12] uma matéria no Caderno 2 do Estadão (link aqui). Ele esteve em Cachoeiro do Itapemirim, cidade natal de Sampaio. E também de Roberto Carlos, que nunca gravou uma única canção de seu conterrâneo.

Na matéria do Jotabê saiu um box, disponível apenas para assinantes do jornal. Jota conta uma história bizarra (ou escabrosa?). Sampaio morreu aos 47 anos. Cirrose. Foi enterrado provisoriamente no cemitério São João Batista, no Rio. Três anos depois, os ossos foram desalojados. João Moraes, seu primo, leu uma nota em um jornal dizendo que se a família não fosse buscá-los, os restos mortais seriam enterrados numa vala comum. O primo foi lá. Aí, não tinha túmulo em Cachoeiro de Itapemirim para enterrá-los. Guardou os ossos do grande Sampaio durante um ano dentro de um guarda-roupas. Até conseguir um túmulo. Que hoje virou local quase mítico para as gerações mais jovens que estão descobrindo sua música.

Muita gente não conhece Sampaio. Meu amigo Fábio Henriques (que saca muito da vida e obra do cara) fez um projeto para marcar os 15 anos de seu desaparecimento e ajudar a recolocar sua música em circulação. Até agora ninguém se interessou.

Tempos caretas. Tempos estranhos. Tristes tempos.

Ouça e veja fotos de Sérgio Sampaio neste vídeo

3 comentários:

Anônimo disse...

Hoje está passando um filme de terror ...dura o ano inteiro o filme de terror .....cemitário do cajú....
Sérgio SAMPAIO É DE DEIXAR PASMO ...QUE POESIA , QUE SINESTESIA também eu ao ouvir pela primeira vez "o bloco na rua " ...algo belo e estranho , sensível e pesado , forte e verdadeiro e poético ...CADA LUGAR NA SUA COISA ...Creio que a tendência será cada vez mais se edescobrir e admirar este poeta -músico magnífico...Já disse Drummond ...OS MAIS DELICADOS PREFERIRAM MORRER ...os mai delicados porra nenhuma ,DRUMMOND É DOS GRANDES , COMO SÉRGIO SAMPAIO...os mais sensíveis nem sempre suportam a indústria movida a sangue!
MAS A POESIA FICA...COMO PODEMOS RESGATAR SÉRGIO SAMPAIO PAR A GRANDE MÍDIA?
ABRAÇÃO,
MARCELO STEPON

Luciano Cenci disse...

ZECA!! DUCARACA essa postagem sobre o mestre Sampaio! Parabéns total!
Graças ao grande cesáris sou tbém arduo conhecedor de sua obra e , inclusive, tenho alguns vinís incluindo o Phono 73 escondidos na casa de uma amiga aí em sp pois nunca consegui trazê-los pra cá.
Vou tenter ouvir agora os "clips", apesar do meu micro ser um laptop q a irmã de uma cunhada q mora ha 20 anos em NY achou na rua e mandou pra cá ver se alguém consertava pra servir...
Inda farei uma homenagem ao cara e vc será convidado! Pode crer!!

Anônimo disse...

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