segunda-feira, 17 de agosto de 2009

CAIO FERNANDO ABREU


Certa vez ganhei um elepê autografado – e com dedicatória - do Oswaldo Montenegro. A coisa se deu assim: eu tinha que ligar para aquele programa bem bacana da TV Gazeta, daqui de Sampa, o histórico TV-MIX (que rolou no finzinho da década de 1980), e indicar a canção que eu mais gostava do cantor. Entre as mais votadas, “Agonia”, “Bandolins” e “Lua e Flor (tema hiper batido do personagem Sassá Mutema da novela “O Salvador da Pátria”, 1989)”, Oswaldo Montenegro, que estava ao vivo no programa, elegeu justamente a canção que eu mencionei, “Léo e Bia”. E lá fui eu no dia seguinte até o prédio da Gazeta, na avenida Paulista, buscar o meu prêmio - como testemunha do fato tenho meu amigo Valmir Jr. que me acompanhou até o local. E foi neste dia que eu conheci pessoalmente o escritor-dramaturgo-poeta-ator CAIO FERNANDO ABREU. Não tenho certeza: acho que ele conversava com Tadeu Jungle, o então diretor de programação, quando eu entrei na redação da TV Gazeta.

Eu lia e gostava das crônicas que CAIO escrevia pro Caderno 2 do Estadão em meados dos anos 80 – naquela época eu não me ligava nesse papo de “nova geração de escritores”, não tinha a menor idéia de que ele era o supra-sumo dessa turma (que era composta por MARCELO RUBENS. PAIVA, REINALDO MORAES, JOÃO GILBERTO NOLL e outros). O que me fez devorar o seu clássico MORANGOS MOFADOS (de 1982) foi a dica que CAIO deixou logo no primeiro conto pro leitor acompanhar o texto: “Para ler ao som de Ângela Rô-Rô”- e nem preciso dizer o quanto eu gostava de Ângela Rô-Rô à época. Na seqüência li “OS DRAGÕES NÃO CONHECEM O PARAÍSO (de 1988) que foi premiado com o JABUTI (“Cágado”, diria Marcelino Freire) da CBL.

E pro meu deleite recebo de presente “PARA SEMPRE TEU, CAIO F” (editora Record – julho/2009), uma biografia fresquinha, que acaba de ser lançada, de CAIO escrita pela sua amiga de mais de 20 anos, a jornalista PAULA DIP. Logo no começo do livro ela diz que não se trata de uma biografia e sim de uma “história de amizade” que começou lá nos anos 70 e que terminou com a precoce morte do escritor vitimado pela AIDS em 1996. Os relatos que PAULA DIP descreve de sua relação com CAIO tem me emocionado demais; e olha que tô ainda na página 120 – o título do livro é um pouco piegas, mas era assim que CAIO se despedia nas cartas que escrevia para PAULA.
E por falar em correspondência, CAIO era um missivista compulsivo; escrevia em média 5 cartas por dia - “Tenho pena das pessoas que não escrevem cartas”, frase de Elizabeth Bishop que CAIO sempre repetia. Além da reprodução de algumas dessas correspondências, a biografia esta recheada de depoimentos dos amigos do escritor.

CAIO ganhava dinheiro escrevendo artigos e crônicas pra jornais e revistas, mas o seu grande barato era a literatura. Amava Clarice Lispector e Virginia Woolf (leu tudo o que elas escreveram). Segundo Paula Dip, Caio circulava com desenvoltura pela elite literária brasileira, dava o devido respeito e era aceito entre seus pares. No entanto, não titubeava na hora de meter a bronca, como na vez em que não hesitou e, no ar, largou a bancada do programa Roda Viva (da TV Cultura) que trazia Rachel de Queiros como entrevistada. Não concordando com o posicionamento ideológico, “chapa-branca”, que a escritora manteve durante a ditadura militar, Caio abandonou o programa.
Bom. E como resumiu o Marião (Bortolotto) em seu blog: essa é uma oportunidade muito boa pra gente rever a obra de CAIO, e um “bom momento para que as novas gerações conheçam o grande escritor que nós perdemos”.

Mais CAIO FERNANDO ABREU: há algum tempo, toda vez que entro numa livraria, fico com água na boca ao ver nas estantes a antologia que a editora AGIR lançou em 2006 como uma amostra da experiência literária de CAIO. Ela se chama CAIO 3D – O ESSENCIAL DA DÉCADA, e é dividida em três livros: décadas de 70, 80 e 90. Só que cada volume custa em média 60 realitos – um tanto salgado para meus parcos recursos. Quem sabe outra pessoa querida me presenteie com essa antologia, né mesmo?

3 comentários:

Monica Vieira disse...

Pô, seu zequinha, esse eu vou ler. Suas dicas de leitura também me dão "água na boca".
Beijão, querido.

Cris disse...

Olá Zeca td bem???
Seu blog está ótimo, suas dicas
então...
Parabéns!

Bjs

Isabel Cristina

Rodrigo Torres disse...

Zé, faz muito tempo que li MOrangos Mofados, mas eu era muito moleque e pouco aproveitei. Acho que vou reler. Obrigado por me lembrar da importância do CAio.