segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ranhetices - Parte II (Números)


Demorei décadas pra decorar o número de meu érregê e não sei décor os números do telefone de casa e do celular. Antes de indicar meu endereço de casa penso: é 1322, 1233 ou 1223? Dentre meus ceticismos poderia eu vir a crer na mais bizarra forma de adivinhação ou em qualquer pseudociência premonitória, menos em “numerologia”. Minha birra com os números começou na infância, quando passei pra quinta série: no primário, na hora da chamada eu era eu; como que por encanto a belíssima professora Clélia pronunciava meu nome numa meiguice que a mim soava sedução, e eu, já mal intencionado, respondia “aqui, professora!” (diferentemente das outras crianças que se anunciavam com o descomprometido “presente”) Ela sabia quem eram meus pais, onde eu morava, que eu gostava de cantar, que eu detestava a canjica e o arroz-doce que serviam de merenda, que meu nariz sangrava por insolação. Na quinta série passei a ser um número na hora da chamada. A escola pública já padecia de recursos e o entre e sai de professores durante um ano letivo era rotina; os alunos não conheciam seus mestres e vice versa. Outras arrebatadoras professoras passaram durante o ginásio e nenhuma soube meu nome, nenhuma sabia coisas sobre mim; nem meu número na listagem.

E a mesma ojeriza que tenho por números, tenho por estatísticas e matemáticas. Um professor meu de Geografia disse certa vez que “números foram feitos para serem manipulados”. Hoje mesmo publicaram avaliação do MEC que mostra que alunos do sistema de ciclos (progressão continuada) têm o desempenho 0,9% melhor em matemática e 4,4% também melhor em português que alunos seriados. Oras bolas! Todo educador sabe que esses dados são inverossímeis: por mim passaram muitos adolescentes que estavam se formando no sistema de ciclos sem saber ler e ou escrever - alguns eram incapazes de entender um simples texto noticioso.
É atribuído a um antigo ministro do ditador português Salazar, o seguinte conceito sobre estatística: "Há duas maneiras de mentir: uma é não dizer a verdade; outra, fazer estatística".

Da matemática, então, nem chego perto, e não tenho a menor inveja de alguns amigos que calculam a conta do barzinho em segundos. Eu assumo: só sei décor as tabuadas de 2, de 5 e de 9. Na multiplicação e divisão uso a salvadora “regrinha de três” pra evitar vexames. Porcentagem, frações e juros, necas... Meu irmão, Gil, é craque em matemática: já participou de olimpíada estadual dessa matéria ficando entre os 100 primeiros; ele dá show quando mostra a seus pimpolhos os caminhos dessa ciência exata. Sei que meus amigos filósofos quando lerem este texto vão me descer a lenha: vão me dizer que a matemática é a “síntese da razão” ; que é o jeito humano de dizer que existe lógica nos eventos do mundo, etecétera e tal. Mas que se dane Pitágoras... eu prefiro Baco. Outro dia, um atendente de loja quase que me ridicularizou por eu não saber meu cêpeéfe; e é por isso e por outras que fico puto quando tenho que apresentar um cartão cheio de números para provar que eu, sou eu.

7 comentários:

Laís disse...

Querido, eu também tenho horror a número, matemática e estatistica. Prefiro as letras, prefiro Camões.
Suas crônicas estão excelentes, Zé.
Beijos.

Anônimo disse...

A minha melhor lembrança das aulas de matemática é quando o professor ia embora da sala kkk.

crisim disse...

Em matéria de continhas sou bem musical: toco piano. Salve os matemáticos pianistas...
O único problema é ter só 10 dedos, hehehe

Emerson disse...

De estatística eu sei duas coisas: 99,99987% das pessoas do mundo possuem duas orelhas e 47,8769% de todas as estatísticas são erradas.

Sentimental ♥ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sentimental ♥ disse...

odeio números com todas as minhas forças e não tinha professor q me chamasse por número, eu não respondia, acho q por uma imposição [velada] todos me respeitavam e qnd chegava na minha vez eu ouvia o nome composto.... mas sei meu érregê de cor.
beijos

*cheguei aqui por indicação de um amigo

Magister Scientiae disse...

Ah! Eu gosto de matemática, gosto de química, adoro física. É simples, é bonito, que nem astronomia, que nem música, que nem haikai, que nem pintura japonesa. O que eu não gosto, em geral, é de professor de matemática!

Abraços,
Ioda