terça-feira, 14 de abril de 2009

"Web-Xarope"


Putz! Acabou o feriadão da Semana Santa e já estou de volta a Sampax – depois, em outro post, coloco aqui algumas imagens que registrei das procissões nas ladeiras paralepepidadas de Ouro Preto. Quero, antes, reproduzir um texto de Carlos Castelo (jornalista, compositor das clássicas do Língua de Trapo, “Concheta” e “Xingu Disco", en la comparcita con Laert Sarrumor) sobre uma discussão de um casal depois de assistir ao filme VICK CRISTINA BARCELONA, de Woody Allen (que ainda está em cartaz por aqui no HSBC/Belas Artes).



VICK CRITINA BARCELONA (Katita e Ruriá)

SAÍDA DO CINE LUMIÈRE - EXTERIOR - NOITE

Katita e Ruriá - ele webdesigner, ela atriz - saem da última sessão de “Vicky Cristina Barcelona” e se dirigem a pé pela calçada até um pé-pra-fora do Itaim.

Discutem sobre o filme que acabaram de ver.

KATITA

- Que tal? Curtiu?

RURIÁ

- Médio.

KATITA

- Médio, é? Por que?

RURIÁ

- Sei lá, achei o filme mais offline do Woody Allen até hoje.

KATITA

- Offline? Por que?

RURIÁ

(cofiando o microcavanhaque)

- Por “n” motivos. A escolha do personagem central, por exemplo, o Juan Antônio. Quer coisa mais offline do que enfocar a vida de um pintor catalão. Em pleno 2009? Numa época onde elegem um presidente negro no país mais poderoso do mundo usando o messenger?

KATITA

- Me explica melhor isso, Ru. Dá um exemplo menos online, por favor…

RURiÁ

- Quer coisa mais offline do que uma tela de pintura? Uma tela não abre pra nada, é fechada em si. É o oposto do que a Grande Rede propõe. O filme só fica nas pinceladas, nas exposições em galerias, no meio físico. Isso é OLD SCHOOL!

KATITA

- Ué, mas ele ia enfocar em quem mais? Num engenheiro de TI? Será que dava caldo? Um cara desses conseguiria comer aquela mulherada toda, fazer elas praticarem suicídio por causa dele? Enquanto ele usasse um calculadora HP? Sei não, Ru, acho que não daria liga.

Ruriá faz uma cara entendiada. E, depois de alguns momentos de silêncio, responde ao comentário da companheira.

RURIÁ

- Olha, cada um tem o seu ponto-de-vista sobre uma história. É a web-democracia, meu bem. A minha visão é a de que o filme é off pra cacete. E, de mais a mais, a trama não dialoga com as redes sociais. Elas não podem cooperar, comentar, interagir. Em resumo, pra mim o Woody Allen não faz filmes pra Geração Y e nem conversa com a Web 2.0.

BAR PÉ SUJO - INTERIOR - NOITE

Garçom idoso coloca uma garrafa de Serramalte e dois copos americanos na frente do casal.

KATITA

- Mas por que o Woody Allen deveria estar preocupado em criar para Geração Y ou para a Web 2.0? Meu, o cara passa metade do tempo com a Penélope Cruz e a outra com a Scarlett Johansson…

Ruriá bebe um longo gole da cerveja, dá uma babadinha e usa o guardanapo para limpar o canto da boca.

RURIÁ

- Melhor pra ele, mas seria mais coerente com o tempo em que estamos. Sem contar que aqueles diálogos que ele põe na boca dos personagens...

KATITA

- Geniais!

RURIÁ

- Prolixos! Cada fala daquela não cabe em três vídeos do Youtube. O cara simplesmente desconhece web-semântica!

Kakita se irrita, pede outra cerveja. O velho garçom traz. Ela quase toma a garrafa da mão dele. Coloca no copo, sobe espuma, mas ela bebe assim mesmo, num gole nervoso.

KATITA

- Então tá, senhor sabe-tudo. Como é que você contaria a complexa história daquelas mulheres e daquele pintor catalão de uma maneira virtualmente correta?

Ruriá lança-lhe um olhar frio. E responde com grande segurança e superioridade.

RURIÁ

- Eu faria um game.

FIM

2 comentários:

Laís disse...

Zé, trabalho com vários "web-xaropes" iguais a esse Ruriá, o pior é que são meus chefes.
E como foi sua viajem pra Minas Gerais?
SEu blog continua delicioso.
Bjs.

Monica Veira disse...

Zeca, querido, eu gostei desse filme e achei um charme o Javier Bardem que interpretou o pintor.
Concordo com a Lais, seus blog dá gosto de acompanhar.
Beijos.