segunda-feira, 12 de julho de 2010

Quase um Necrológio.

Se fiquei um tempinho sem aparecer no blog é porque estou agilizando algumas coisas para antes dos poucos dias de férias que tenho em julho. Mas agora volto cheio de vontade. Um pouco triste por tantos falecimentos nestes últimos dias. Se eu os tivesse relatado aqui o blog pareceria um necrológio. Primeiro foi Saramago, depois Guzik; nas semanas seguintes morreram o editor e poeta Massao Ohno e o grande Roberto Piva, que por falta de grana pro seu tratamento médico, em março deste ano, participei de um encontro pra lá de bacana onde rolou muita música, declamações e declarações de admiração ao nosso primeiro Beatnik ( uma coincidência: Piva, que retratava a dureza humana na metrópole, foi editado pela primeira vez por Massao Ohno). É tamanha minha admiração por Piva que já falei dele em diversos posts por aqui. Na sexta passada passou um documentário na TV Cultura com depoimentos de amigos do poeta, como a do professor Davi Arrigucci Jr que disse que num encontro entre nobres acadêmicos paulistanos, o ex-presidente FHC fora eleito o “Intelectual do Ano”. Piva, com muito vinho na cachola, bradou para o público presente: “se Fernando Henrique é o ‘intelectual do ano’ eu sou o ‘intelectual do ÃNUS’”. Certa vez, Piva fora convidado por alunos de uma faculdade para falar sobre democracia, antes de iniciar o bate-papo o poeta disse não saber por que tinha sido convidado, já que ele era um monarquista assumido. Piva se apropriava da ironia de Salvador Dali, que também se assumia monarquista, por acreditar que enquanto o poder se centraliza, na monarquia, num lugar somente, o povo vai farra em qualquer canto. Coisa de maluco.
Especialmente para o blog eu filmei Alberto Marsicano, Mario Bortolotto e Xico Sá durante a homenagem ao Piva que rolou no Espaço Cultural B_arco em março passado. Para vê-los clique
aqui.

Agendando: Hoje, segunda-feira, dia 12, a partir das 10h até 17h, o ministro da Cultura, Juca Ferreira, vai falar sobre as propostas de mudanças da Lei de Direito Autoral no Itaú Cultural (Av. Paulista, 149). O debate é sobre o autor, o artista e o direito autoral brasileiro, promovido pelo Conselho Brasileiro de Entidades Culturais. Devem participar escritores, dramaturgos, atores, cineastas, músicos, etc.
Às 19h na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, ainda na Av. Paulista 2073, vou ao bate-papo entre os geniais Raimundo Carrero e Reinaldo Moraes
Na quinta-feira, dia 15, às 20h, tem bate-papo com a escritora e filosofa Marcia Tiburi no Sesc-Vila Mariana. Vai rolar também o lançamento do novo romance de Tiburi, “O Manto”.
Bom. Já estou com a reserva garantida no Hostel de Paraty para a FLIP 2010, que este ano tá meio chocha. De legal estarão por lá os historiadores Peter Burke e Robert Darnton, o músico Lou Reed, e o quadrinista Robert Crumb. Entre os brasucas só verei Ferreira Gullar, Reinaldo Moraes e Hermano Viana. O homenageado deste ano é o antropólogo Gilberto Freyre, para tal, a organização da Flip convidou o “pseudo-sociólogo” (as aspas são minhas) Fernando Henrique Cardoso para a cerimônia de abertura da qual eu não participarei nem de graça. FHC pra mim está morto e enterrado. Como sabiamente diz minha mãe, esse sujeito “não fede nem cheira”.
Abaixo, um soneto que o poeta Glauco Mattoso fez para Roberto Piva.

PROFANO PROPHETA [soneto 3390]

Esperma de palavra se deriva
em fertil mente e em lyra creativa.
Semantica ou syntaxe, só, não basta
nem são imprescindiveis metro e rima
si a escripta surprehende e a penna é vasta.

Conheço um tal poeta e nelle vejo
de olympicas metropoles o exgotto,
o gozo azul de impubere garoto,
o samba em harpa e o rock em realejo.

É magico e sublime o pederasta
que do maldicto mytho se approxima
e do castiço canone se afasta.

No orgasmo oral dos jovens está viva
a chamma que deixou Roberto Piva.

Um comentário:

Silmara disse...

Tantas perdas irreparáveis. O mundo parece ficar cada vez mais triste quando um artisa se vai.
Beijão.