domingo, 5 de junho de 2011

Porradaria de Ibsen




Mestre Nelson Rodrigues dizia que há certas coisas que não se devem praticar pra não bulir na alma, como exemplo a psicanálise. Outra coisa, acredito eu, é ver uma peça do Ibsen. Afirmo que depois de assistir a excelente montagem de “Espectros”, que está em cartaz no Sesc Consolação, ninguém será mais o mesmo. Saí do teatro nesta sexta-feira, sem rumo, desnorteado; nunca um espetáculo teatral me abalou tanto. A gente nasce ouvindo dizer que somos os tais, donos de nossa existência, daí primeiro vem a família nos dar régua, depois igrejas, escolas fazendo outras conexões. Quando damos conta, estamos fodidos, cheios de fantasmas, “espectros” que, de algum jeito, precisam ser exorcizados. E é nessa cruzada que a dramaturgia do autor é supimpa. Imagine que todos os heróis dos romances e peças teatrais do século 19 eram vítimas de inimigos externos, então surge Henrik Ibsen inovando toda a dramaturgia do período dizendo (expondo na lata) que há um grande “inimigo” dentro de cada um. As emoções vão se desencadeando num ritmo crescente. Os personagens vão se revelando; todos são vítimas e filhosdaputa ao mesmo tempo. E eu ali, sentado na segunda fileira, embasbacado principalmente com atuação da atriz Clara Carvalho, que dá vigor a uma senhora de família, Helene Alving, que evidencia os segredos do passado do marido ao pastor Manders (Nelson Baskerville) que no seu mundo conservador e hipócrita, reage dubiamente diante dessas revelações.
Em 1879, a peça “Casa de Bonecas”, de Ibsen, causa polemica em toda a Europa com a história de uma esposa que abandona filho, marido para se entender com ela mesma. A crítica moralista da época caiu de pau porque imagine o escândalo que é uma mulher desfazer o lar por qualquer motivo. Está bem. Então, em 1881, o autor causa novo reboliço com “Espectros”, cuja história é a da esposa que revela todos os seus tormentos de mulher, por justamente “não” abandonar o casamento ou a família. Sensacional, não? Ah! E pra dar um ingrediente a mais ao texto, Ingmar Bergman traduziu e adaptou Espectros em 2003 (que foi sua última montagem no teatro, antes de sua morte em 2007). Entonces, caramigos, se acharam que dá pra encarar, corram pois Espectros, que tem direção de Francisco Medeiros, termina temporada no Sesc Consolação em 19 de junho. Os ingressos custam entre 16 e 32 realitos e o endereço é Rua Dr. Vila Nova, 245 – tel: 3234 3000. Mais informações no
http://www.sescsp.org.br/


Aquelabraço do Zeca desconfigurado depois de Ibsen.

Um comentário:

ZECA LEMBAUM disse...

Putz! Falha grave. Não mencionei todo o elenco que deu conta do recado: Clara Carvalho, Nelson Baskerville, Plinio Soares, Flavio Barollo e Patrícia Castilho.