terça-feira, 27 de outubro de 2009

Um Blues de Caio Fernando Abreu


Por causa da correria durante a semana ando com pouco tempo pra escrever no blog, mas pra não dizer que não falei de flores, passo correndo por aqui pra dizer que, relendo hoje (no banheiro) a minha edição de 1988 de “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” de Caio Fernando Abreu, me deparei – lá no capítulo “Sem Ana, Blues” – com um delicioso (porém sofrido) parágrafo (que segue abaixo) todo moldado em metalinguagem. Vejam como Caio elegantemente se utiliza de uma artimanha lingüística para expor um doloroso infortúnio, como obrigatoriamente é a letra de um Blues.

"SEM ANA, BLUES"

"Quando Ana me deixou – essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos – e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou – e essa não-continuação era a única espécie de continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo – esse espaço branco sem Ana – de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela. (...)"

Ps: logo logo publico aqui a programação das SATYRIANAS -2009

2 comentários:

Silmara disse...

Zeca, eu não conhecia CAio Fernando Abreu, mas com sua dica da biografia da Paula Dip eu tô curtindo muito. Valeu mais uma vez. Bjs.

Rodrigo Torres disse...

CAIO É DUCARAIO...