Por causa da correria durante a semana ando com pouco tempo pra escrever no blog, mas pra não dizer que não falei de flores, passo correndo por aqui pra dizer que, relendo hoje (no banheiro) a minha edição de 1988 de “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” de Caio Fernando Abreu, me deparei – lá no capítulo “Sem Ana, Blues” – com um delicioso (porém sofrido) parágrafo (que segue abaixo) todo moldado em metalinguagem. Vejam como Caio elegantemente se utiliza de uma artimanha lingüística para expor um doloroso infortúnio, como obrigatoriamente é a letra de um Blues.
"SEM ANA, BLUES"
"Quando Ana me deixou – essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos – e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou – e essa não-continuação era a única espécie de continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo – esse espaço branco sem Ana – de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela. (...)"
"Quando Ana me deixou – essa frase ficou na minha cabeça, de dois jeitos – e depois que Ana me deixou. Sei que não é exatamente uma frase, só um começo de frase, mas foi o que ficou na minha cabeça. Eu pensava assim: quando Ana me deixou – e essa não-continuação era a única espécie de continuação que vinha. Entre aquele quando e aquele depois, não havia nada mais na minha cabeça nem na minha vida além do espaço em branco deixado pela ausência de Ana, embora eu pudesse preenchê-lo – esse espaço branco sem Ana – de muitas formas, tantas quantas quisesse, com palavras ou ações. Ou não-palavras e não-ações, porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias, meu apartamento, minha cama, meus passeios, meus jantares, meus pensamentos, minhas trepadas e todas essas outras coisas que formam uma vida com ou sem alguém como Ana dentro dela. (...)"
Ps: logo logo publico aqui a programação das SATYRIANAS -2009
2 comentários:
Zeca, eu não conhecia CAio Fernando Abreu, mas com sua dica da biografia da Paula Dip eu tô curtindo muito. Valeu mais uma vez. Bjs.
CAIO É DUCARAIO...
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