domingo, 27 de dezembro de 2009

Poesia Pura


Ontem fui pra assistir a um filme, mas o que vi foi poesia. E “poesia não é crime, ainda que não rime, se ela for sublime é tudo que a redime”, diz o chargista Laerte na tirinha postada aqui no blog. Numa dessas de ir pro cinema sem ter ainda decidido o que ver acabei acertando na escolha (isso nem sempre acontece; nessas condições já assisti cada “coisa” que não merece sequer ser chamado de “filme”). Poesia em forma de imagem ou cinematografia poética. O que vi projetado foi algo sublime da diretora alemã Doris Dörrie capaz de suscitar a inveja benigna em Yasujiro Ozu, Wim Wenders e Jim Jarmusch - entre outros tantos -, poetas da sétima arte.
HANAMI – Cerejeiras Em Flor (Kirschblüten - Hanami, o título original) estreou nesta sexta em Sampa e conta a inesperada mudança de rotinha na vida do casal alemão de meia idade Rudi e Trudi, que se redescobre depois que sai de um vilarejo distante na Bavária para Berlim. A sensação da proximidade da morte faz com que o casal descubra desejos reprimidos, descubra também os monstrengos que criaram, filhos chatos sem tolerância alguma à recente companhia dos pais. Tudo caminhava para a tragédia, eu me angustiava por isso, mas o que vi foi a recuperação ou o desabrochar de sentimentos que mudam o rumo da história e que comove o espectador. Como nos movimentos lentos e simples do Butô japonês, a diretora cria um elo entre paisagens rurais alemãs e o distante Monte Fuji; uma fotografia encantadora de similaridades. Uma mesma natureza também de sensações quando Rudi conhece Yu, a jovem artista de rua num jardim de belas cerejeiras floridas nas proximidades da cidade de Tóquio, no Japão. Bom. O meu critério pra dizer que um filme me marcou (que é grandioso) é quando fico rememorando cena por cena durante dias, e também quando sinto aquela comichão danada de revelar os detalhes, mas faço bem em me calar agora pra não estragar as surpresas.
HANAMI é um longa metragem alemão de 2008 que teve boa acolhida por aqui na 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Resumindo: o filme trata simplesmente da eterna vontade de realizar os sonhos. Trata poeticamente as relações de amor e de desamor (de certa forma saí do cinema aliviado, saquei que não sou – e não fui – tão escroto com meus pais como os filhos de Rudi e Trudi os são).
Ah! E por falar em amor, logo depois do filme, notei que alguém andou pichando a frase “mais amor por favor” nos antigos orelhões da Avenida Paulista (as fotos seguem abaixo).



2 comentários:

Luiz Kerti disse...

Cara, eu vi essa pichação em vários lugares. Até na parede de uma loja do Mc Donald.

marisa disse...

Zequnha, eu adorei a sua dica de "Deixe Ela Entrar". É um puta filme poético também.
JÁ anotei esse Hanami na minha listinha. Valeu, querido.
Bjs