sexta-feira, 10 de outubro de 2008

“AS ROSAS (NÃO?) FALAM!”

Pra quem gosta de efemérides este ano é o que há: tem os cem anos de morte do Machado de Assis; cem anos da imigração japonesa; duzentos anos da vinda da corte portuguesa; vinte anos da promulgação da nova constituição brasileira; 500 anos do início da pintura da Capela Cistina, em Roma, por Michelangelo; 90 anos do fim da 1ª Grande Guerra Mundial; 80 anos do rato Mickey; 60 anos da proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem pela ONU; 40 anos do assassinato de Martin Luter King, entre outras. Mas, cá pra mim ( e que me perdoe o Grande Machado), farei reverencia tão somente a Angenor de Oliveira, carioca que nasceu no Catete, mas que celebrizou o morro da Mangueira. É claro que falo de mestre CARTOLA; neste sábado, dia 11, ele completaria cem anos se estivesse vivo.

“A sorrir, eu pretendo levar a vida...” Havia um simpático sapateiro do lado de casa que cantarolava sempre esse trecho da canção "O Sol Nascerá" de Cartola, só que à época eu não sabia a autoria; depois, no início dos anos 80, fiquei fascinado ao ouvir pela primeira vez “O Mundo é Um Moinho”. A partir daí fui querer saber da autoria daquela pérola; e pra minha alegria descubro que o autor dessa duas canções é o mesmo compositor da clássica “As Rosas Não Falam” (uma das canções mais belas em língua portuguesa).
Não tenho interesse de falar aqui da importância de Cartola no cenário musical brasileiro, ou de sua biografia, isso porque já tem muita gente que fez (e ainda faz) esse tipo de levantamento. De legal, gosto mesmo é de contar alguns “causos” do mestre: por exemplo, a de como ele compôs “As Rosas...”.
A história dessa canção começou numa tarde de 1975 em que o compositor Nuno Veloso apanhou Cartola e sua mulher Zica para um passeio na Barra da Tijuca, onde pretendia visitar Baden Powell. Não tendo encontrado a casa do violonista, Nuno resolveu aproveitar a viagem para passar numa floricultura e comprar para Zica umas mudas de roseira que lhe havia prometido. Tempos depois, flores desabrochadas dessas roseiras provocariam a indagação entusiástica de Zica ao mestre (“Como é possível, Cartola, tantas rosas assim?...”) e a resposta desinteressada de Cartola (“Não sei. As rosas não falam...”), que ele acabaria aproveitando como mote para a canção: “Queixo-me às rosas / mas que bobagem, as rosas não falam / simplesmente as rosas exalam / o perfume que roubam de ti...”

PS: Enquanto eu escrevia este texto meu MP3 tocava “Acontece”, “Não Quero Mais Amar Ninguém”, “Alvorada”, “Tive, Sim”, “O Mundo é Um Moinho”, e (é claro) “As Rosas Não Falam”.

Segue vídeo histórico onde mestre Cartola canta e toca (muito bem) “O Mundo é Um Moinho” a pedido de seu pai.http://br.youtube.com/watch?v=L8U1Y9PBfig

9 comentários:

Anônimo disse...

Esse Seu Agenor,

Sempre gostei de entabular boas conversas com ele. Nunca ouviu o que eu disse. Sequer parou, nem que uma única vez, para me abrir seus ouvidos, mas me deu muito bom conselho, mesmo que falando sobre coisa totalmente diferente.

Um abraço,
Ioda

ZECA LEMBAUM disse...

Se o Bilac podia ouvir estrelas, por que, cargas d'água, as rosas do seo Angenor não podem falar?

Laís disse...

Minha geração conheceu e aprendeu a gostar do Cartola graças a Cazuza, numa época em que só se ouvia rock e new wave. Zé, a Lapa parou pra homenagear Cartola no sábado passado. É nessas ocasiões que acho muito legal morar aqui no Rio.

marisa disse...

Zé, viramos a noite no sábado de bar em bar. Cada canto da Lapa e de Santa Teresa tinha alguém tocando alguma música do Cartola. Lais, eu e Marcos rodamos o Rio como a gente fazia aí no Bixiga (lembra das nossas noitadas, zé?)

Anônimo disse...

Mea Culpa! Tenho mais de 300 Cds e Vinis, mas nenhum sequer do Cartola. Confesso que deu vontade de baixar tudo dele.

marisa disse...

Zeca, teve também aqui no Rio mega-show pro Cartola no Canecão na segunda dia 13. Com Maria Rita, Alcione, Beth Carvalho, Leci Brandão e Sandra de Sá, Nelson Sargento, Emílio Santiago, Martinália e até velha-guarda da Mangueira.

Anônimo disse...

"A vida é (mesmo) um moinho e destrói (sempre) nossos sonhos mesquinhos ou não".
Abração.

Anônimo disse...

Mas...

Infelizmente a atual comemoração de Seu Agenor aqui no Rio não passa de apropriação burguesa das obras do autor. Coisa típica de um dos grupos sociais mais cruéis, ignominiosos e indiferentes do país (e mais sonsos também): a classe média carioca! Gente que, na falta de alma própria, captura, edita e publica a alma alheia.

Grande abraço,
Ioda

Sigrid Pontes disse...

As minhas rosas falam... Deixarei aqui pra vc!rsrs
Baci, Sigrid

ROSAS
... e dizem que as rosas não falam...
Me permitam complementar
Qdo elas exalam
Pelo perfume nos falam
Então, fico a refletir...
Quando chegam até mim
em palavras silenciadas
podem ser pétalas cor-de-rosa...
Que importa sua cor!
Me levam a versar como poeta!
Se me inspiraram é porque tocaram
Se tocaram é porque falaram ao meu coração
Se eu for queixar-me a elas não terá sido bobagem...
Elas falam mesmo, não é miragem!
Passe a prestar atenção!


SIGRID SPOLZINO
Publicado no Recanto das Letras em 05/02/2008
Código do texto: T846902