quinta-feira, 10 de julho de 2008

Lira Paulistana


É mais ou menos assim: com 15 anos eu convivia com amigos e namorada bem mais velhos – igual a quase todo adolescente, eu não queria me relacionar com os pivetes da minha idade, por isso busquei, assim que me mudei pra grande Little River, me aproximar dos acima de 20 (os que me interessavam naquela época). Com sorte encontrei gente muito legal - Álvaro, Ricardo, Otacílio, Murival, Pedro, Filó, Jorge, Mariana, Gustavo, Daniela, Paulinha, Wilson – que deu um upgrade incomensurável a minha formação política e principalmente cultural.

Conduzidos por alguns desses amigos foi que, por volta de 1983, conheci o insurgente porão do teatro LIRA PAULISTANA, que funcionava na Teodoro Sampaio ao lado da praça Benedito Calixto, em frente ao Bradesco. O local era “exíguo e diminuto”, tinha uma pequena arquibancada de madeira totalmente desconfortável, mas por esse lugar passaram – praticamente pela primeira vez - ITAMAR ASSUMPÇÃO, PREMÊ, LÍNGUA, ARRIGO BARNABÉ, RATOS DE PORÃO, VÂNIA BASTOS, GRUPO RUMO, SUSSEGA LEÃO, TITÂS DO IÊ-IÊ, ULTRAGE A RIGOR, TETÊ ESPÍNDOLA, ELIETE NEGREIROS, VIRGÍNIA ROSA, SUSANA SALLES, CIDA MOREIRA, EDUARDO GODIN entre outros.

Bueno. À época, eu já era um garoto que amava o Caetano e principalmente o Gilberto Gil e não tinha a menor idéia de quem era essa turma que se apresentava no Lira. - confesso que fui pela primeira vez por causa da namorada. Lá, vi um monte de gente estranha com roupas esquisitas cantando, dançando, declamando, se masturbando e fazendo maluquices. Não entendia nada porque todo mundo se apresentava numa mesma noite e a organização era a mais anárquica possível.

Mas por que estou contando essa historinha? É que por coincidência, recentemente, tenho freqüentado o ponto de ônibus localizado em frente de onde funcionava o Lira. Olho para a porta de aço que está quase sempre abaixada e me pego lembrando da pequena e desorganizada fila que se formava na calçada, das vezes que meus amigos iam até o bar da esquina comprar uma garrafa de vinho Natal pra gente tomar no gargalo (nessa época eu ainda não havia me tornado manguaceiro). Dá uma saudade legal.

Por ser ainda um pirralho, à época eu não sabia que o Lira mantinha jornal (segue foto) e um selo fonográfico por onde foi gravado o excelente e histórico Long Play BELELÉU E ISCA DE POLÍCIA do negodito ITAMAR ASSUMPÇÃO, além dos discos de estréia do Rumo, Premê, Cida Moreira, Eduardo Godin. Após tomar consciência da dimensão do que foi o Lira, esta semana comecei a ler alguns trechos de EM UM PORÃO DE SÃO PAULO – O LIRA PAULISTANA E A PRODUÇÃO AUTERNATIVA, de Laerte Fernandes de Oliveira, lançado pela editora Annablume. Por alguma razão fiquei contente comigo mesmo.






4 comentários:

Laís disse...

Zé, que história legal. Eu vi muito show do Itamar no sesc-pompéia quando ainda morava em Sampa.

marisa disse...

Querido, reconheci muita gente dessa foto, principalmente Itamar, Arrigo, Susana Sales e o pessoal do Premê no alto da arquibancada.
Zequinha, você foi precoce em tudo né...

ZECA LEMBAUM disse...

É, essa foto achei raríssima. Quem me enviou foi o Lart Sarrumor do Língua de Trapo (vocês lembram do show do Língua que vimos no CC da Vergueiro?).
Bisous queridas.

Natalia Freire Moura disse...

Zeca, você fez eu sentir o momento pela sua descrição, pelos singelos detalhes.

Eu com os meus 30, tento cair e perceber a importância deste ponto de expressão e econtro, o que o Lira simboliza para muitas vidas ativas e já algumas inativas.

Estou com o Wilson Souto Junior e Chico Pardal, fazendo a Produção Executiva da comemoração do Lira Paulistana 30 Anos.

A Funarte junto ao CEMUS,é o nosso grande parceiro. Os shows iniciam na Sala Guiomar Novaes dia 03 de dezembro. Teremos exposição, reedição da Mostra Boca no Trombone e show na Praça Benedito Calixto, dia 06 de dezembro de 2009, com o apoio da subprefeitura Pinheiros e Secretaria de Cultura de Sampa.

Apareça, venhar curtir conosco!
Grande abraço,

Natalia Freire Moura