quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um GIGANTE de verdade



















Eu queria, desde a última segunda-feira, escrever aqui sobre o baterista, percussionista e performer Gigante Brasil que morreu nesta semana, mas a Ajato (que agora pertence a "Tefonica" -urg!), a minha prestadora de serviço de banda larga, tem me deixado na mão; o problema, segundo a operadora, se encontra no modem que está na garagem do prédio e não ao lado do meu computador (eles dizem que está lá porque o prédio é antigo), que para o devido reparo tenho de esperar a visita técnica que demorará três dias (se o modem estivesse ao meu alcance, eu mesmo solucionaria o enguiço).
Pra quem não o conheceu, Gigante tocou com Caetano, Gil, Arrigo, Mautner, Marisa Monte, Bocato, Alzira Espíndola, Celmar, Gang 90, Susana Sales, entre tantos... mas foi na banda Isca de Polícia, ao lado de Itamar Assumpção, que ele se destacou.
No dia 11 de setembro eu tive o prazer (e a sorte) de vê-lo numa de suas últimas apresentações ao lado de Paulo Lepetit tocando (e encantando) no show de estréia do disco Vamos Logo Sem Paredes! de Celso Sim - veja o filminho que fiz (logo no começo aparece Gigante) http://br.youtube.com/watch?v=uawz3UTXSjk

Ps: Republico aqui o texto do músico e jornalista Luiz Chagas*, companheiro de Gigante na banda Isca de Polícia.

Ele não era gigante porque era grande. Era gigante. Mesmo.

"Em 1983, quando substituiu Osmar Santos no programa Balancê transmitido pela Rádio Globo, Fausto Silva vivia convidando a banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção, para divulgar seus shows. Tanto o apresentador quanto o lendário sonoplasta Johnny Black eram apaixonados pelo baterista Gigante e seus solos de "buchesom" - que criava batendo a ponta dos dedos nas bochechas e usando a boca para modular os sons (foto à esquerda). Faustão criou um bordão,"o Gigante não tem esse nome porque é grande. Mas porque é gigante".

Jorge Luiz de Souza, o Gigante Brazil, é carioca da Mangueira, onde nasceu no dia 25 de abril de 1952. Ele jura que viu o "Mineirinho", o bandido que virou uma espécie de Robin Hood, seqüestrar caminhão de leite e distribuir para a molecada na favela. Chegou em São Paulo acompanhando Jorge Mautner e logo estava tocando percussão na banda Sindicato. Mesmo ao lado do baterista Edu Rocha, do contrabaixista Zé Português, do guitarrista Tadeu Passarelli e de outras feras, era impossível desviar os olhos daquele cara. Ele tocava com o corpo, os braços pareciam asas, cantava num grave que parecia vir de outra dimensão, entrava em transe e arrastava o palco e o público junto. No dia em que entrou na banda Isca eu falei "cara, eu sou seu fã" e ele com os dentões separados lascou "pára com isso, tio" - para ele os homens eram tios ou compadres, as mulheres comadres ou princesas. Eu e a torcida do Flamengo (ainda é a maior?) somos fãs. Quando entrei no camarim da Marisa Monte no ano passado alguém falou que eu tinha tocado com o Giga e ela - ai meu Deus, Ela! - largou todo mundo e veio me abraçar. "Ensaboa, mulata ensaboa" os dois cantaram juntos um dia.

Na segunda-feira, o dia em que o Giga não acordou, na porta do ateliê da Renata, sua mulher, o povinho da Vila Madalena se detinha embasbacado. Amoladores de faca, barbeiros, tomadores de conta de carro, gente que fica na rua. "O Gigante morreu?" O cara andava pelo bairro e todo mundo o conhecia. Todos os músicos que apareceram ali ou no velório, mesmo sem se conhecer, entoavam um monótono "eu toquei com o Gigante, e não tem igual". Os instrumentistas que dividiam com ele a "missa" das terças em Moema, apelido para a apresentação com várias entradas e que ia até de manhã, discutiam quem seria seu substituto - porque a "missa" tem que ter. Chegaram à conclusão que podia ser "qualquer um, já que ninguém, mas ninguém mesmo, toca igual". De fato. Seja em qual for a formação que participou, Gang 90, os derradeiros shows com Celso Sim, as Orquídeas, Ceumar, Alzira Espíndola, Bocato, a "norinha" Simone Sou, o parceiro Paulo Lepetit, com quem criou seu único (melhor?) trabalho solo Música Branca Preta e e etc. (Elo Music), o que se ouve é um mantra: "Não tem igual, tocar com ele é um luxo".

Uma de suas características era tirar som de qualquer coisa. Copos de metal, baldes, batentes de porta que levava para o palco. Como dizia Lepetit quando lhe pediam o mapa de palco, "qual o kit de bateria do Gigante? Ah, o que tiver".

*Luiz Chagas, 56 anos, tocou durante 27 com Gigante e não tem nenhuma reclamação. Só alegria.
Ps2: Aqui tem Gigante tocando na fantástica Isca de Polícia - clique http://br.youtube.com/watch?v=gBTZhkl5DHE

2 comentários:

Anônimo disse...

Zeca, não sabia. Entristeci, porque mais um. Vai ficando pequeno e cada vez mais sobrando espaço, tem gente de menos por aqui, daquela que faz diferença carregar consigo. Apresentei samana passada Itamar para uma amiga, é obrigação com os mais novos, falávamos dele faz pouco, outro que faz falta, porque o Gigante desde agora já está fazendo. Mas nascer e morrer faz parte da vida, o que não faz parte é ser Gigante, somente para alguns. E ninguém ficará para semente. Gigante nem precisava porque já frutificou.

Mário.

PS: Encontrei no iutube este vídeo com o Gigante, http://br.youtube.com/watch?v=yuHNb9ya21olwdvfd

ZECA LEMBAUM disse...

Caro Mario, como dizia aquela canção do Milton: "o trem que chega é o mesmo trem da partida"