quarta-feira, 25 de junho de 2008

FLIP 2008


Já é na próxima semana que rola a FLIP 2008 (de 2 a 6 de julho). Este ano pouco me agradou a lista de convidados nacionais e estrangeiros; acho que tem muito jornalista publicando reportagens do que propriamente literatura – outra coisa que me desagrada são os preços para as mesas de debate que foram inflacionados. (programação da Flip 2008 http://www.flip.org.br/ ) Bom mesmo é a programação da OFF FLIP, circuito paralelo que agita e que realmente integra escritores, moradores, visitantes às atividades que acontecem em Paraty. Na Off Flip rola concurso literário com premiação, exposições, música, saraus literários, dramaturgia, oficina de livros, café literário, exibição de vídeos e muito mais. (ver programação da Off Flip no www.paraty.com/offflip )

Este ano o homenageado é Machado de Assis (por ocasião dos 100 anos de sua morte); o show de abertura é de Luis Melodia e segue sugestão minha de 8 mesas de debate entre as 19 que rolam na Flip deste ano.

mesa 2 - O espelho - ELISABETH ROUDINESCO
De Shakespeare a Joyce e Machado de Assis, de Italo Svevo a Clarice Lispector e Philip Roth, são incontáveis os autores que tiveram seus trabalhos esquadrinhados a partir da psicanálise – e a francesa Elisabeth Roudinesco figura entre os nomes mais gabaritados para examinar a relação. Em seu último livro, O lado obscuro de nós mesmos, a autora interpreta a história da perversidade no Ocidente através de suas figuras e personagens emblemáticas, numa incursão pela história e pela literatura que dá a medida de sua envergadura intelectual.

mesa 3 - Retrato em branco e preto - CARLOS LYRA, LORENZO MAMMÌ
As comemorações em torno dos cinqüenta anos da Bossa Nova fazem justiça à importância do movimento, mas correm o risco de tornar-se festivas em excesso. A proposta desta mesa é conferir um caráter mais analítico à efeméride. Co-autor de Três canções de Tom Jobim e do ensaio João Gilberto e o projeto utópico da Bossa Nova, o crítico Lorenzo Mammì estabelece um paralelo entre as conquistas formais dos artistas e as promessas embutidas no desenvolvimentismo brasileiro. Já Carlos Lyra, nome de proa da Bossa Nova e da música popular brasileira, traz a Paraty a experiência de décadas de banquinho e violão. Autor da autobiografia Eu e a bossa, Lyra fala a partir de dentro e pode afinar este balanço da bossa com doses fartas de histórias e vivências exemplares.
mesa 4 - Conversa de botequim - HUMBERTO WERNECK, XICO SÁ
Humberto Werneck acaba de publicar O santo sujo uma biografia de Jayme Ovalle – resultado de mais de dez anos de pesquisas sobre o compositor e poeta paraense que foi parceiro de Manuel Bandeira, amigo dos expoentes da geração modernista e adotou os bares da Lapa, no Rio de Janeiro, como morada. Xico Sá, jornalista cearense, colunista da Folha de S.Paulo e notívago contumaz, enverga o figurino de um Ovalle contemporâneo, ao mesmo tempo artista e articulador, bom de papo e querido por todos.

mesa 5 - Sexo, mentiras e videotape - CÍNTIA MOSCOVICH, INÊS PEDROSA, ZOË HELLER
Em Anotações sobre um escândalo, a inglesa Zoë Heller descreve o envolvimento amoroso de uma professora de 42 anos que se divide entre o papel de mãe de família dedicada e o irrefreado desejo por um garoto de quinze anos. Os dez contos narrados por mulheres de Arquitetura do arco-íris revelam um tema caro a Cíntia Moscovich: o universo feminino, central também em seus romances Duas iguais e Por que sou gorda, mamãe. Em Nas tuas mãos, romance de Inês Pedrosa, três mulheres de diferentes gerações da mesma família discutem a própria intimidade. “Literatura feminina” é decerto um rótulo ultrapassado, mas poucas escritoras em atividade seriam tão indicadas para mostrar por quê.

mesa 6 - Formas breves - INGO SCHULZE, MODESTO CARONE, RODRIGO NAVES
Ingo Schulze é nome de proa da literatura alemã. Seus contos, já publicados em revistas como Granta e New Yorker, trazem componentes autobiográficos e lidam com experiências do passado recente, na tentativa de abarcar as cicatrizes da Alemanha pós-queda do Muro de Berlim. Nos contos de Modesto Carone, reunidos em Por trás dos vidros (2007), as deformações da realidade também indicam a procura de um modo de expressão para as fraturas de um país politicamente convulsionado. Completa a mesa o também crítico e ficcionista Rodrigo Naves, cujos contos curtos, à maneira de Carone e Schulze, exemplificam à perfeição a máxima de Cortázar: se o romance pode vencer o leitor por pontos, o conto, para funcionar, tem de ganhar por nocaute.

mesa 9 - Estética do frio - MARTÍN KOHAN, NATHAN ENGLANDER, VITOR RAMIL
O argentino Martín Kohan e o americano Nathan Englander ambientaram seus últimos livros na Buenos Aires sob a ditadura militar. O gaúcho Vitor Ramil é autor do ensaio A estética do frio, em que pensa a particularidade da cultura do sul do país em relação ao eixo Rio – São Paulo. Nos ensaios e romances de Kohan, a tentativa de dar sentido a episódios traumáticos da história argentina é uma constante. Nos livros de Englander, a reflexão sobre a identidade judaica norteia a construção do enredo e a interioridade dos protagonistas. Três modos de enxergar a condição periférica, afinidades temáticas e de geração motivam nesta mesa um diálogo que deve consolidar a posição dos autores na agenda cultural brasileira.
mesa 12 - A mão e a luva - NEIL GAIMAN, RICHARD PRICE
Richard Price começou a carreira associado ao gênero policial, mas libertou-se do rótulo para firmar-se como um dos principais nomes da prosa de ficção norte-americana. “É exatamente isso que sua linguagem faz: liberta-se”, escreveu o crítico James Wood a respeito de seu último livro, Lush Life, num longo artigo para a New Yorker. Neil Gaiman tornou-se conhecido como quadrinista, mas seu trabalho também ultrapassou classificações fáceis para firmá-lo como um ícone da cultura pop. Price e Gaiman têm em comum a versatilidade – ambos são roteiristas de cinema – e a capacidade de perturbar idéias prontas a respeito da complexidade dos gêneros que praticam.
mesa 17 - Folha seca - JOSÉ MIGUEL WISNIK, ROBERTO DAMATTA
Veterano da FLIP, Wisnik volta a Paraty neste ano para falar sobre um assunto que a princípio não tem nada de literário: futebol. A princípio, pois o tratamento que concede ao tema em seu mais recente livro, Veneno-remédio, insere-o entre os tópicos de maior ressonância de sua obra: e não apenas no que diz respeito ao aspecto popular e folclorizante do futebol, mas sobretudo no que se refere aos pontos de intersecção com a cultura letrada e à formação do país. São essas também as preocupações que norteiam o trabalho do antropólogo Roberto DaMatta. Em seu livro A bola corre mais que os homens, DaMatta mostra o lugar de honra que o futebol ocupa em sua obra consagrada e inteiramente dedicada a pensar o Brasil.

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