quinta-feira, 26 de junho de 2008

Lafayette x Daslu (Très Chic)



Sou um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, deserdado de pai e mãe, raquítico, esquálido, desalinhado, deselegante, pálido, tísico, abjeto, ignóbil, pusilânime. Sim. Sou tudo isso. E com todos esses quesitos jamé me deixariam passar dos portões de entrada da DASLU – e cá pra nós, não tenho e nunca tive intenções de chegar próximo sequer do quarteirão desse templo do consumo da elite paulista. E confesso que me diverti quando, em 2005, Eliana Tranchese, proprietária dessa mega-boutique, teve prisão decretada – somente lamentei não ter visto a madame ser algemada e conduzida num camburão à sede da Polícia Federal.

Se me lembro bem, Xico Sá, um ano antes da prisão da madame, escreveu texto se colocando do lado dos assaltantes que surrupiaram um caminhão contendo mercadorias de luxo da Daslu. Pra quê!? O mundico dos cordeirinhos pagadores de impostos sentou o pau no Xico – coitado do moço. Mas, para o deleite meu, do Xico e de tantos outros, o império Daslu ruiu: Eliana, mais o irmão e dois empresários foram presos acusados de crime de formação de quadrilha, falsidade material, ideológica e contra a ordem tributária - e o melhor de tudo é que a madame não pôde usar seu rico dinheiro pra sair sob fiança, pois a prisão era cautelar. Maravilha!

Bueno. Tô falando desse caso pra contar que com todos esses meus quesitos atestadores de minha baixa condição social, eu pude, em Paris, entrar na GALERIES LAFAYETTE sem nenhuma espécie de constrangimento por parte de seguranças ou de outras formas inibidoras. Pra quem não conhece, a Lafayette é, juntamente com a HARRODS (de Londres) e a GALERIA VITTORIO EMANUELLE (de Milão), um dos maiores magazines da Europa. Ela existe desde 1893 na agita boulevard Haussmann e já foi citada até nos livros de Émile Zola.

As boutiques e as marcas mais famosas do mundo estão lá: John Galiano, Louis Vuitton, Valetino, Gucci, Hugo Boss, Chanel, Calvin Klein, Rolex (vi um relógio dessa marca que daria pra comprar um apartamento de altíssimo padrão em Higienópolis). Na Lafayette está o glamour e está tudo o que os endinheirados de tout le monde podem consumir. É chique no último!

Mas o que é que eu estava fazendo ali? Nada. Quando vi que ninguém me barraria na entrada, eu simplesmente entrei. O desfile de madames do mundo todo se passava ali. Assim como eu, muita gente entrou também: alguns pra verem a imensa e centenária cúpula de vidro outros por pura curiosidade. De hilário, o barato era ver as pseudo-madames, que compraram produtos fakes dos camelôs das ruas próximas, tirando fotos dentro da Lafaytte como se fossem consumidoras da galeria.

Enfim, diria eu aos meus amigos sociólogos (Marcio, Steps, Zezinho e Alexandre Kishimoto) que, foi apenas uma experiência “antropológica”.

5 comentários:

Unknown disse...

A Harrod's, em Londres, também é aberta ao público em geral (as entradas estão voltadas para as calçadas e não há barreiras). Entrei lá na maior folga, de chinelão e bermuda. Acho que rico é igual no mundo inteiro: sempre preocupado com lucro e não gosta de pobre. A diferença é que no primeiro mundo existe uma enorme classe média que tem como consumir bons produtos. Assim, o empresário não pode se dar ao luxo de fechar as portas pra esse mercado. No Brasil, a classe média é bem menor e tem um poder aquisitivo bem baixo; logo, o gerente da Daslu não está muito preocupado em oferecer seu produto pra ela. Acho que aqui o problema é menos de mentalidade que de mercado.

ZECA LEMBAUM disse...

Wagner, meu caro: acho que para algumas coisas há dois pesos e duas medidas. Veja o caso da Harrod's - que é de propriedade do magnata Dodi Al-Fayed: enquanto o acesso à loja em Londres não há nenhuma reserva (a nós reles mortais); ao Hotel Ritz (também de Al-Fayed), na Place Vandôme em Paris, não passaríamos do porteiro.

Unknown disse...

Mas você tentou entrar lá e foi barrado? Teve algum conhecido barrado? Ou está simplesmente especulando? Outra coisa. Se realmente esse hotel barra classe média, então não temos dois pesos e duas medidas, mas um peso e uma medida: a Harrod's não barra a classe média porque tem interesse em vender pra ela. O hotel (talvez chique e caro demais), não tendo interesse em vender seus serviços para a classe média, a barra na portaria (como a Daslu). Ou seja, tudo questão de mercado.

ZECA LEMBAUM disse...

Eu e boa parte do mundo já sabemos de antemão do nível do Ritz (e dos valores atribuídos aos serviços prestados pelo hotel), portanto não há especulação quanto ao público alvo (que não o meu e, talvez, nem o da classe média que possivelmente frequenta a Lafayette); é um produto - e serviço - realmente dirigido a um "mercado exclusivo" e ponto. E eu tô nem aí pro Ritz – pra mim pouco importa se seu proprietário ofereça produtos e serviços pra públicos distintos.

Unknown disse...

A especulação a que eu me referi era sobre ser barrado pelo porteiro do hotel, não sobre o público alvo.