sexta-feira, 1 de agosto de 2008

O Tesão da Tetê

Certeza eu não tinha, mas o rapaz que estava ao meu lado, com sua namorada, também achou o mesmo. De certo então estávamos vendo Tetê Espíndola entre as estantes de livro do primeiro piso da Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Ela está diferente; nem se parece com aquela cantora espalhafatosa que no Festival da Globo de 1985 uivava ao fim de Escrito Nas Estrelas. Bom, mas agora ela é uma senhora. Sim! E isso pouco importa. O que não sai de minha lembrança é ela berrando em alto e bom som, em frente das câmeras da conservadora e direitista Globo, a palavra até então proibida: TESÃO. Falo até hoje que ao proferir com ênfase essa palavra, a cantora transgrediu um monte de conceitos antiquados que muita gente (digo: mídia também) tinha com o vocabulário verdadeiramente ativo. O papo é cabeça e é longo também, e eu não quero me estender, mas vejam que até bem pouco tempo nem um ator de novela (principalmente da Globo) diria MERDA, depois de sofrer uma queda. CARACAS é uma forma quase inocente de brandir CA-RA-LHO com todo fervor, quando se tem vontade. E por aí vai....

Voltando a Tetê. Vendo a programação de shows que rolam em Sampa neste fim de semana descubro que ela vai se apresentar hoje e amanhã no Tom Jazz da Avenida Angélica; pelo nível da casa até que não estão caros os ingressos – 35 pilas.

Bueno. Segue logo abaixo um texto que fiz este ano – que fala sobre o mesmo assunto - pouco antes da minha viagem a Paris, quando eu ainda estava atrás dos documentos para obter o Passaporte.


“JOVEM: AO COMPLETAR 18 ANOS ALISTE-SE (...) !” “A SEGURANÇA DO BRASIL EM NOSSAS MÃOS.”

Amigos, duvi-de-o-dó que alguém não tenha escutado estas frases nalgum momento. Até bem pouco tempo eu pensava que o(s) autor(res) destas ‘pérolas’ fosse(m) algum tecnocrata miliciano pós-meiaquatro. Ledo Ivo engano. A coisa começa por volta de 1910, véspera da primeira Guerra Mundial, quando o então Ministro da Guerra, Hermes da Fonseca, reorganiza as Forças Armadas e institui o Serviço Militar Obrigatório – anteriormente, no Brasil, havia um misto: voluntários e convocados em caso de conflitos externos.

E pra fazer o marketing desse novo modelo de serviço à pátria, o presidente Venceslau Brás, contratou por uma “módica” quantia, o Duda Mendonça da época, o fodão, o poeta parnasiano Olavo Bilac. Sim. Aquele que “ouvia estrelas”. Muito respeitado, Bilac cunhou essas frases convocatorescas e tornou-se garoto-propaganda do serviço militar obrigatório, viajando todo o Brasil (gastando à vontade o cartão corporativo da época) pregando o patriotismo.

Bueno. Mas por que estou dizendo tudo isso? É porque nesta quinta-feira (hoje) completei 18 aninhos. Não é pra rir... Quero dizer que voltei a me “sentir” com 18 anos. Explico: pra tirar o passaporte preciso do CAM (Certificado de Alistamento Militar), que foi surrupiado por um assaltante, em 1993 (que levou outros documentos também). É que justamente hoje fui à Junta Militar da rua Guaicurus requerer a 2ª via do CAM. No local havia uma fila com uns 15 moleques se alistando – todos com 18 anos cheirando leite Ninho ainda. E eu lá, todo barbado, entre aqueles teens cumpridores do dever pátrio.

Todo procedimento reservado aos futuros recrutas foi dispensado a mim - quero dizer que aquilo é chato mesmo. Me lembrei exatamente do dia que fui me apresentar no quartel de Quitaúna - do tratamento “vip” que os Recos da unidade ofereciam à molecada que enfrentava mais de 5 horas de fila. Lembrei também de muita coisa da época dos meus 18 anos. Isso, sim, foi legal.

Aquele foi o ano em que finalmente gostei de um primeiro colocado de um festival de música realizado pela Rede Globo. Tetê Espíndola venceu cantando Escrito nas Estrelas. (no festival anterior, quem levou foi a Lucinha Lins cantando a horrorosa Purpurina) Na escola não havia um que não repetisse “pois sem você meu t-e-s-ã-o”. “Tesão” era uma palavra proibida, a gente não sabia como a censura havia liberado. A Tetê era conhecida no circuito alternativo paulistano e foi chocante vê-la quase histriônica num figurino espalhafatoso. (segue vídeo com Tetê cantando Escrito nas Estrelas
http://br.youtube.com/watch?v=S0yY-NGjtsI)

O segundo lugar quem levou foi Miriam Mirah com Mira Ira – excelente música composta por Lula Barbosa. O terceiro foi pra outra grande cantora, Leila Pinheiro, que interpretou a bossíssima Verde de Eduardo Gudin. O quarto lugar quem levou foi Emilio Santiago, cantor que o bairrismo paulista não tolera (nem eu, of course!). Naquele ano também fui ao Morumbi ver o melhor Show de Rock de mai life, QUEEN. Nem preciso dizer que adorei o histrionicíssimo Freddie Mercury.

Bem. As lembranças vinham e eram boas. Eu até que estava gostando da fila e de voltar a ter 18 aninhos. Mas fiquei fulo no momento da entrevista quando o atendente qualificou a taxa que eu deveria pagar pela 2ª via como “multa” – sina de brasileiro patriota: pagar multa por ser vítima de assalto.

2 comentários:

marisa disse...

Zé, esse texto é divertido e muito bom. Parabéns.

Rodrigo Torres disse...

Eu também gostava muito da Tetê. Minha mãe achava que ela gritava demais. Eu era muito pequeno e não dei impontância pro TESÃO.